O que diz a doutrina cristã católica a respeito deste assunto, que desperta o interesse de cada vez mais pessoas?
Vivemos tempos em que muitos valorizam mais a vida de um animal do que a vida de um ser humano. Muitas pessoas estão se comovendo mais com os problemas de cães e gatos do que com as vidas de tantas crianças carentes, idosos desamparados...
Fortunas são gastas com luxos para os "pets". Não estamos falando de alimentar e tratar bem, mas sim de acompanhamento "psicológico"(!), massagens relaxantes, banhos de ofurô, coleiras decoradas com pedras preciosas, restaurantes especializados e até motéis... Tudo para cachorro. Enquanto isso, ali na esquina, uma criança implora por um prato de comida. Será justo isso?
De pessoas que possuem um cão de estimação, a frase mais comum é a seguinte: "É como se fosse o meu filho!"... Os mais exagerados chegam mesmo a dizer que não há diferença entre um cachorrinho e uma criança, que ambos merecem o mesmo amor e o mesmo carinho... Dia desses, diante de uma senhora que me disse tal frase, não resisti e contra-argumentei: "não me leve a mal, mas ainda bem que eu não sou filho da senhora! Eu não gostaria de ouvir minha mãe dizer que eu não valho mais do que um cachorro, por mais esperto e fofinho que ele seja...". - Não fiz por mal: eu só queria abrir a consciência daquela pessoa para o absurdo que ela estava dizendo, mesmo sem maldade.
Outros ainda vão além e dizem que um cachorro vale mais do que um ser humano, porque os humanos roubam, matam, cometem barbaridades... E os cachorros não fazem nada disso e são fiéis aos seus donos. Bem, há controvérsias: posso citar o caso de uma vizinha que eu tive, que apesar de tratar seu cachorro, literalmente, como se fosse um filho, um belo dia levou uma mordida tão feia que teve que ser socorrida ao hospital. Existem muitos casos como esse, e, se formos usar a mesma lógica, teríamos de concluir que deveríamos exterminar toda a humanidade e deixar o planeta livre para as árvores. Estas sim, não fazem mal a ninguém e, pelo contrário, são benéficas por sua própria natureza.
Será que o fato de os seres humanos fazerem o mal justifica a ideia de que valem menos que os animais? O que a sua consciência cristã diz sobre este assunto? Será mesmo que um cachorro deve ser amado, literalmente, como um filho? Será que não há diferença entre um filho e um cão?
Segundo a psicologia, o amor assim extremamente exagerado pelos animais de estimação está relacionado à dependência afetiva e a uma personalidade imatura, que depende de uma muleta psicológica para sobreviver.
Já o crescimento do mercado "pet" (produtos para animais de estimação) é confirmado nos dados comerciais do segmento. Dados do IBOPE-NPD, estimam em quase quarenta milhões a população de animais de estimação no Brasil, sendo que 71% das residências tem cão e 17,5% dos lares tem gato. O setor vem apresentando um crescimento médio de 17% ao ano(!), desde 1995, segundo a Associação dos Revendedores e Prestadores de Serviços ao Mercado Pet.
A solução está no equilíbrio. Só precisamos do mínimo de bom senso, razão e lógica: em outras palavras, precisamos apenas de discernimento. A ligação vital com o meio em que vivemos, - com a natureza, com as plantas e os animais, - alimenta o nosso espírito, proporciona prazer à nossa vida e nos acalma. Pode servir como uma espécie de vínculo com Deus Criador e facilitar até o nosso trato com as outras pessoas. Pode ser também uma arma contra a solidão, a apatia e a depressão. O problema está no exagero e na perda da noção da realidade.
Adotar e cuidar de um animal, por mais saudável e agradável que seja, jamais deveria nos levar a assemelhá-lo ou compará-lo com um ser humano, especialmente um filho. O psicólogo especializado Richard Klein[1] advertiu que comparar um cão a um ser humano é um erro psicológico e biológico perigoso, e que a humanização dos animais pode conduzir a uma animalização dos seres humanos. Assim, a também psicóloga Marjorie Garber, autora do livro-referência "Amor de Cão" (Editora Record - veja aqui) coloca-se contra a ideia de permitir que o amor pelos animais substitua o amor pelos seres humanos, chamando tal preferência de moralmente perigosa. Conclui que o ser humano que, desiludido e amargurado pela fraqueza dos homens, retira seu amor da humanidade e o deposita em cães ou gatos, está cometendo um pecado grave e uma repulsiva perversão social.
A alma dos animais
E aí, quando o animal de estimação morre, muitos sofrem além da conta, não se conformam com a perda e querem acreditar que reencontrarão seus bichinhos, algum dia, no Céu. Outros preferem imaginar que existe um "céu dos cachorros" ou dos gatos, onde eles viverão felizes para sempre. O que a Igreja tem a dizer sobre isso?
Os animais tem almas como os seres humanos? A resposta para essa pergunta é sim e não. Segundo a doutrina cristã e católica, sim, os animais, - e também as plantas -, possuem almas. Mas não, eles (obviamente) não possuem almas como as nossas.
A alma é o princípio da vida. Os animais e as plantas são seres vivos, logo possuem almas, mas não no mesmo sentido que as almas humanas. Nossas almas são racionais e conscientes, as almas deles não são; nossas almas são racionais porque são espirituais e não materiais.
Como assim? Os animais e as plantas não podem fazer nada que transcenda os limites da matéria, isto é, nada que vá além do físico. Eles vivem e morrem neste mundo. Embora muitos animais sejam realmente muito "inteligentes", eles realmente não possuem a nossa inteligência conceitual. Eles não podem, por exemplo, conceber a noção abstrata de justiça. Animal algum possui a consciência humana do bem e do mal. Os animais e as plantas não têm senso moral. Quando você repreende o seu cachorro por ele ter mastigado o tapete e ainda diz a ele que "está errado", é certo que você não pode atribuir-lhe culpa de pecado, já que ele não pode cometer pecados. Ainda que ele faça uma "carinha muito fofa" quando você briga com ele devido a uma travessura, ele não pode compreender porque aquilo é errado. Estudos apontam que alguns bichos acabam se especializando em adotar posturas e "expressões" que cativam os seres humanos, porque aprenderam que isso funciona.
Para muita gente parece estranho: até onde eu observo, os animais sentem e expressam sentimentos (alegria, tristeza, raiva, euforia, preguiça e mesmo dissimulação). A diferença é que estes sentimentos não lhes têm peso moral algum; não são capazes de transformar essas emoções instintivas em virtude, pois que não são capazes de discernir entre o bem e o mal.
As almas dos animais e das plantas dependem inteiramente da matéria para o seu ser e para as suas ações. Tais almas deixam de existir com a morte (não existe um 'céu para cachorros'). Os animais nascem e cumprem o seu papel na existência aqui mesmo, e é assim que deve ser. Percebe onde começa o pecado de dizer que um cachorro é igual a um filho?
As almas humanas, ao contrário, não são materiais. São espirituais. Só um espírito pode conhecer e amar em nível mais elevado, transcendente; as duas faculdades principais do espírito são o intelecto (que conhece) e a vontade (que ama). Nós sabemos que as almas humanas são espirituais porque podem conhecer e amar. Um animal pode demonstrar afeto e fidelidade ao dono. Eles são capazes disso, mas se tratam de naturezas e realidades muito distintas.
As almas humanas são imortais porque os espíritos não podem se decompor. Eles também são indivisíveis: apenas uma coisa divisível pode ser separada em partes. O espírito é uma unidade: não tem parte superior nem inferior; não tem esquerda ou direita; não tem lado de dentro nem lado de fora.
Toda matéria, por menor que seja ela, possui partes, logo é divisível. O corpo humano pode se decompor - pois é feito de matéria - mas a alma humana não - e por isso dizemos que é imortal.
Aos que não se conformam com o fato de os animais não possuírem alma imortal e não terem a possibilidade de ganhar o Céu, cabe a reflexão a seguir, extraída do website "O Catequista":
Observe que estivemos falando aqui exclusivamente de cães e gatos. Ninguém está preocupado com o destino post mortem dos outros animaizinhos: as baratas que insistem em invadir a sua cozinha, o rato que mora no bueiro em frente à sua casa, o camarão da empada que você comeu ontem, o mosquito da dengue que mordeu a sua tia no verão passado… Com a alma deles, aposto que você nunca se preocupou!
Então, vamos direto ao ponto: não, o seu cachorro não vai para o Céu. E não é por que ele roubou a salsicha do mercado e se atracou lascivamente com as pernas da sua vizinha… O fato é que ele não possui alma imortal. Simples assim.
O Catecismo da Igreja Católica (2415 a 2418) ensina que os animais são dons de Deus. São criaturas benditas, mas que não possuem alma imortal. Temos a obrigação de tratá-los com respeito e carinho, já que eles têm sentimentos e sentem dor. É pecado “fazer os animais sofrerem inutilmente e desperdiçar suas vidas”. Mas sem confundir as coisas. Assim como as demais coisas maravilhosas da natureza, – as flores, as matas e os rios, – os animais de estimação são, muitas vezes, um consolo no meio das amarguras e decepções da vida. Eles são sinais da bondade de Deus para conosco, então, agradeça a Ele pelos momentos de alegria que o seu bichinho lhe dá, pela companhia que ele lhe faz, pelo carinho que lhe oferece. Mas sem confundir as coisas.
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