“Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs?” (Mt 13,55-56).Sim, o Evangelho cita irmãos e irmãs, e ainda revela, em outras passagens, seus nomes: Tiago, José, Simão e Judas. A versão de S. Marcos também nomeia os ditos irmãos de Jesus (Mc 6,3), e o Evangelho segundo S. Lucas diz: “Vieram ter com ele sua mãe e seus irmãos...” (Lc 8,19). O 4º Evangelho relata: “Depois disto desceu ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos” (Jo 2,12). Ainda nos Atos dos Apóstolos encontramos referências aos irmãos de Jesus: “...Perseveraram unânimes em oração, com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os seus irmãos” (At 1,14).
E agora? Essas passagens são sempre usadas para atacar a fé dos católicos, e causam mesmo confusão: se os Evangelhos citam irmãos de Jesus, como podemos nós acreditar no Dogma da Virgindade Perpétua de Maria? Jesus teve mesmo irmãos de sangue?
A resposta para todas essas perguntas nos é dada pela própria Bíblia. Vejamos...
Como visto, os irmãos de Jesus seriam Tiago, José, Judas e Simão. Eram eles filhos de Maria e de José? Não, não eram. As Escrituras mesmo testemunham que eles tinham outro pai e outra mãe. A Bíblia cita dois Tiagos. Um é filho de Alfeu (Cléofas), e outro é filho de Zebedeu. Lemos em Mateus: “Tiago, filho de Zebedeu, (...) Tiago, filho de Alfeu e Tadeu.” (Mt 10, 2-3). E Mateus nos revela o nome da mãe de Tiago e José: “Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu" (Mt 27,55-56).
Assim vemos que Alfeu (Cléofas) era o pai de Tiago e José, os mesmos que são chamados "irmãos de Jesus". Mas a mãe se chamava, sim, Maria. Essa Maria era a mãe de Jesus? Não. O Evangelho segundo S. João mostra esta Maria ao lado da outra Maria, a mãe de Jesus, na hora da crucificação: “Junto à cruz estavam a mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena.” (Jo 19,25).
Se a Mãe de Jesus estava junto à Maria de Cléofas, que era a mãe de Tiago e José, então sabemos, sem dúvidas, que não se trata da mesma pessoa. Percebe-se também que Maria era um nome muito comum já naquela época. E João chama à outra Maria de “irmã da mãe de Jesus”: “...a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas...”.
Então, se o Evangelho está certo (como católicos, cremos que está) ele demonstra que Maria de Cléofas era irmã da Maria mãe de Jesus, Nossa Senhora. Logo, segundo a Bíblia, Tiago e José, chamados irmãos de Jesus, eram na realidade seus primos.
E quanto a Judas Tadeu, que também é citado na lista dos “irmãos de Jesus”? O próprio Judas esclarece essa dúvida, no início da sua Epístola: “Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago...” (Jd 1,1).
Portanto, Tiago (que é diversas vezes chamado 'irmão de Jesus'), José e Judas eram irmãos de sangue, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, e eram sobrinhos de Nossa Senhora; portanto, eram primos de Jesus. Fica aqui biblicamente provado o costume dos autores dos Evangelhos de se referir a primos e primas, ou até a parentes mais distantes, como "irmãos". Quanto a Simão, contamos com os registros históricos de Hesegipo, historiador do primeiro século (que possivelmente conheceu os descendentes dessas pessoas) que incluem Simão entre os filhos de Maria e Alfeu.
Por que, exatamente, a Bíblia chama essas pessoas de “irmãos de Jesus”? É bem simples: são chamados “irmãos” porque na língua hebraica falada na época não havia um termo específico para “primos”. Nos textos originais, a grafia AH é empregada para designar parentes de até segundo grau. Além disso, outras evidências demonstram que a Família de Nazaré era composta por três membros apenas, como no início do Evangelho segundo Lucas, quando Jesus é encontrado no Templo em Jerusalém, aos 12 anos, pregando aos doutores. De acordo com a lei judaica, toda a família devia peregrinar a Jerusalém, na Páscoa (conf. Dt 16,1-6; 2Cr 30,1-20; 35,1-19; 2Rs 23,21-23; Esd 6,19-22). E lemos que somente José, Maria e Jesus foram a Jerusalém. Maria afirma que somente ela e José procuraram Jesus, quando se perderam dele: “Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura” (Lc 1,48). Se houvessem irmãos de Jesus, teriam que ser mencionados aqui, mas não são. Outros filhos não são mencionados entre os integrantes da Sagrada Família, nem nesta passagem e nem em nenhuma outra.
Outra passagem prova que Maria não tinha outros filhos: no momento da crucificação, em meio às terríveis dores, Jesus confere ao discípulo João a tarefa de acolher Maria em sua casa (Jo 19,27). Se Jesus tivesse irmãos de sangue, ele não deixaria sua mãe com João, até porque a lei mandava que, no caso da morte do filho mais velho, o irmão mais moço deveria assumir os cuidados da mãe. Como Jesus não tinha irmãos, precisou deixar sua mãe com João. Está na Bíblia.
Outras contestações
"...José não a conheceu até que ela deu à luz..." - Um trecho do Evangelho segundo Mateus diz: “(José) recebeu em sua casa sua esposa; e não a conheceu até que ela deu à luz um Filho” (Mt 1,25).
Alguns querem ver aí uma insinuação de que José e Maria não coabitaram no período da gravidez, mas que depois disso tiveram uma vida conjugal normal. Mas a palavra traduzida por “até” não tem essa conotação: trata-se do mesmo termo usado em 2Samuel (6, 23): “Mical, filha de Saul, não teve filhos até o dia de sua morte”. Fica demonstrado que a palavra “até” pode indicar continuidade. Mical não teve filhos até a morte. E será que depois da morte ela teve filhos? Óbvio que não: A palavra “até”, nesse contexto, sugere que a situação de Mical permaneceu a mesma depois da morte. O mesmo vale para a sentença “José não a conheceu até que ela deu à luz um filho”. Virgem antes, permaneceu depois, assim como Mical não teve filhos até a morte, e, claro, nem depois.
"Jesus, o Filho primogênito" - Outra contestação recorrente é aquela que se baseia, mais uma vez, na interpretação equivocada de uma única palavrinha: essa palavra é "primogênito". Porque e Evangelho segundo Lucas diz que Jesus foi o primogênito, alguns são rápidos em supor que Maria teve outros filhos...
Vamos entender bem o que isso quer dizer: no Evangelho segundo Lucas, está escrito: "Maria deu à Luz seu Filho primogênito" (Lc 2,7). No contexto bíblico, a palavra "primogênito" significa primeiro filho, e apenas isto, podendo esse primeiro ser filho único ou não. Segundo os estudos da filologia, na época da redação dos Evangelhos, a palavra "primogênito" significava, literalmente, "filho que abriu o útero". Vejamos:
No Livro de Números (Num 3,40), lemos: "O Senhor disse a Moisés: 'Faze o recenseamento de todos os primogênitos varões entre os israelitas, da idade de um mês para cima, e o levantamento dos seus nomes'".
Se a palavra primogênito indicasse a existência de outros irmãos, como poderiam haver primogênitos "da idade de um mês para cima"? Claro que os bebês de poucos meses, primeiros filhos, não têm nenhum irmão. Mesmo assim, são chamados primogênitos.
Um outro exemplo está no Livro do Êxodo: "E morrerá todo primogênito na terra do Egito, desde o primogênito do Faraó, que deveria assentar-se no seu trono, até o primogênito do escravo que faz girar a mó, assim como todo primogênito dos animais" (Ex 11,5).
O Faraó tinha um único filho, e este é chamado primogênito. Mais uma vez fica claro que o fato de Jesus ser primogênito não implica que Maria tenha tido outros filhos; filho único também é primogênito. Em lugar absolutamente nenhum da Bíblia está escrito que Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos, ao contrário: todo o contexto do Livro Sagrado indica que Jesus foi o único Filho.
Para encerrar, lembramos que a Virgindade Perpétua de Maria não é fé somente católica. Os cristãos ortodoxos compartilham da mesma fé, e até os islâmicos. Assim também os chamados reformadores protestantes, que deram origem àquelas que hoje são chamadas “igrejas evangélicas”, deram testemunho disso, como vemos, por exemplo, nos escritos de Lutero:
“O Filho de Deus se fez homem, concebido do Espírito Santo, sem o auxílio de varão, a nascer de Maria pura, santa e sempre virgem.”
(Martinho Lutero, “Artigos da Doutrina Cristã”)
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