Texto escrito pelos próprios comunista que esclarece como a esquerda entrou na Igreja Católica e quais foram os personagem que permitiram isso.
Embora seja comum afirmar que a Igreja Católica tenha apoiado o
golpe, a CNBB levou dois meses para se manifestar, tamanho o conflito interno.
“Só em 2 de junho sai um comunicado. A primeira metade saudava o fim do risco
comunista e a segunda, denunciava abusos”, lembra o professor e padre Oscar
Beozzo, coordenador do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação
Popular (Ceseep).
Frei Clodovis Boff, um dos teóricos da Teologia da Libertação e atualmente professor da PUC-PR, relembra o clima pesado nas missas. “Era sufocante para os pregadores. Havia gente que vinha apenas para ver o que falávamos.”
Não há registros de que padres e bispos católicos tenham entregue seus pares à repressão, como aconteceu com a Igreja Metodista de Padilha. Entretanto, há situações em que houve omissão, diz Jorge Abilio Lulianello, consultor da CNV. Ele conta que Marcos Arruda, militante da Juventude Universitária Católica (JUC), preso e torturado em 1970, pedira a um capelão que avisasse a seus pais que estava em poder de militares. Imaginava que, assim, garantiria sua vida. Ledo engano. “O religioso deu a extrema-unção, mas não transmitiu o recado”, diz Jorge.
Frei Betto, preso em 1969 com outros dominicanos, não poupa Dom Eugenio Sales, nomeado arcebispo do Rio de Janeiro em 1972 e já falecido. “Não conheço uma só pessoa perseguida que tenha sido ajudada por ele”, diz Frei Betto. (Vejam só, um comunista sempre busca a defesa atacando, quem conhece Dom Eugenio e a Igreja não se deixa enganar)
Dom Orani Tempesta, cardeal e arcebispo do Rio de Janeiro, prefere olhar para a frente. Ciente da cizânia, prega a unidade com Cristo. “O importante, neste momento de recordação, é olhar para o conjunto da Igreja”, defende. “Quando somamos as atitudes de nossos bispos, vemos o quanto se fez, cada um a seu modo, dentro de suas possibilidades. Deus tem seus caminhos.”
"Os informantes percorriam as igrejas e sabiam tudo sobre as pregações"Anivaldo Padilha
Na Comissão Nacional da Verdade, o silêncio hierárquico da cúpula
católica é um empecilho. Ao contrário das igrejas protestantes, que “falam mais
abertamente”, a Igreja Católica se cala, segundo Padilha. “Ela prefere o
silêncio”, acusa. (Quem é católico de verdade sabe que comunismo e cristianismo são incompatíveis, a Igreja já disse isso claramente sem necessidade de reafirmação e conhece muito bem os objetivos reais dessa comissão)
O racha entre progressistas e conservadores é anterior a 1964. O professor e
padre Oscar Beozzo afirma que desde a morte de Getúlio Vargas, em 1954, houve um
acirramento entre as posições.“É a partir da década de 1950 que a Igreja Católica adere às causas sociais”, ensina. “Ela apoia a reforma agrária; se empenha para criar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais; dialoga com o movimento estudantil; tem um membro da JUC, Aldo Arantes, eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE); e espalha o Movimento de Educação de Base (MEB) pelo país”, lista Beozzo.
Uma encíclica do Papa João XXIII, em 1963, pregando “diálogo com os movimentos históricos”, alarma os conservadores e anima os progressistas católicos. “A divisão era a mesma vista na sociedade brasileira na época”, resume Beozzo. Mas a partir do AI-5, em 1968, diz Frei Betto, é “que a Igreja passou a sofrer mais perseguição, a ponto de se tornar a principal voz em defesa dos Direitos Humanos”. Em 1969, é assassinado o primeiro dos três padres, e um frei, vítimas da ditadura.
Outro caso marcante se dá em 1968, nas missas para o estudante Edson Luís, morto pela PM na invasão ao restaurante Calabouço, no Aterro do Flamengo. Realizadas na Igreja da Candelária, as cerimônias confrontaram estudantes, padres e freiras com a PM, Fuzileiros Navais e agentes do DOPS, que reprimiram violentamente os presentes, deixando centenas de feridos. Dali para a frente, a relação entre militares e Igreja Católica nunca mais seria a mesma. “Deste período ficam o aprofundamento da Teologia da Libertação, o crescimento das Comunidades de Base e das pastorais sociais”, conta Boff.
O embate que rachou a Igreja
por Fernando Molica
Após pregar e abençoar o golpe de 1964, a Igreja dividiu-se em relação aos militares. O namoro com a esquerda começou antes da deposição do presidente João Goulart: leigos da JUC (Juventude Universitária Católica) fundaram a AP (Ação Popular), que reuniria nomes como o de José Serra, futuro governador de São Paulo, e Plínio de Arruda Sampaio (Psol). Dentro da hierarquia da Igreja, um dos pioneiros na resistência foi o então arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara, ex-militante do Integralismo, movimento da direita alinhado ao fascismo. Fundador da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), era um entusiasta das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), de católicos que questionavam o sistema. Dom Hélder passou a ser chamado de ‘arcebispo vermelho’.
A atuação da Igreja contra a ditadura ficaria marcada a partir dos anos 1970, com a Teologia da Libertação, que unia cristianismo e esquerda. A eleição, em 1971, de Dom Aloísio Lorscheider para a presidência da CNBB reforçou o bloco dos que se opunham aos militares — no ano anterior, ele ficou preso por quatro horas. O episódio favoreceu a criação da Comissão Bipartite, que promoveria 24 reuniões entre militares e bispos de diferentes tendências. Cardeais e bispos se destacariam na luta contra a ditadura, denunciando torturas de presos e insistindo na redemocratização do país. A sigla CNBB passou a ser publicada com frequência nas páginas de política dos jornais. O teatrólogo e jornalista Nelson Rodrigues chegou a cunhar a expressão ‘padres de passeata’ para criticar esses adversários.
Frades dominicanos de São Paulo passaram a apoiar a principal organização armada de esquerda do país, a ALN (Ação Libertadora Nacional) de Carlos Marighella. Muitos foram presos e torturados - um deles, Frei Tito de Alencar Lima, se suicidaria na França em 1974 por não conseguir se livrar do terror causado por seu algoz, o delegado Sérgio Paranhos Fleury.
A cúpula da Igreja passou a ser dividida. De um lado bispos progressistas como Dom Aloísio, seu primo Dom Ivo Lorscheiter e o arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Do outro, os conservadores Dom Eugênio e Avelar Brandão Vilela. No fim da década de 1970, o hoje cardeal Dom Claudio Hummes abriu igrejas de Santo André, no ABC paulista, para assembleias de operários grevistas — e padres e instituições católicas acabariam tendo papel fundamental na criação do PT de Lula.
No Rio, bispos de Volta Redonda, Nova Iguaçu e Caxias, admiradores da Teologia da Libertação, faziam um ‘cinturão vermelho’ em torno de Dom Eugenio. A atividade dos bispos gerava reações violentas de grupos radicais de direita: em 1976, Dom Adriano Hipólito, de Nova Iguaçu, seria sequestrado, agredido e libertado nu, com o corpo pintado. A eleição do Papa João Paulo II em 1978 representaria um duro golpe na esquerda católica. Solidário ao seu povo (Polônia), então submetido à União Soviética, o Papa não queria saber de carinhos com o comunismo. No Rio, Dom Eugênio abriria processo contra o livro ‘Igreja, carisma e poder’, de Leonardo Boff que, condenado a cumprir um ano de silêncio obsequioso e com o livro proibido, deixaria o sacerdócio.
A mudança de rumos continuou após o fim da ditadura, em 1985, e os nomes mais ligados à esquerda católica desapareceriam das listas de nomeações de cardeais.
Vejam como a esquerda entrou na
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