Jesus não é um hippie "paz e amor, bicho", nem um revolucionário politiqueiro. Isso são ídolos. Jesus é Deus, portanto, que o homem seja apenas aquilo que ele deve ser: um adorador!
Uma grande revista de circulação nacional estampava em sua capa, anos atrás, o rosto de Jesus rodeado por símbolos hippies, com a seguinte manchete: "Deus é pop". A reportagem tratava da espiritualidade juvenil e da maneira particular com que cada um se relacionava com o divino. A revista ainda fazia questão de enfatizar as peculiaridades desses novos movimentos, sobretudo as novidades, como altar em forma de prancha, uso de rock n'roll durante os cultos, grandes baladas "cristãs", etc.
O que a matéria reflete não é uma novidade na história. Pelo contrário, ao longo dos séculos o que mais se viu foi a tentativa de desmontar Jesus Cristo, tomando apenas partes de seu Evangelho em detrimento de outras, somente para saciar ou atender às próprias veleidades. Esses que querem esquartejar Jesus (como se não bastasse a Crucifixão), dizem aceitar o Amor, mas se esquecem que esse Amor não compactua com nenhuma forma de mal nem com o pecado. Esquecem-se que o Amor também significa compromisso consigo mesmo e com o próximo. Que a misericórdia também significa justiça. Enfim, escolhem as partes de Jesus que mais lhes convém, como se Ele estivesse exposto numa prateleira de mercado.
Essa tendência de se tomar a parte pelo todo, segundo o Papa Emérito Bento XVI no livro Jesus de Nazaré, ficou mais evidente a partir da década de 1950. Ela se reflete nas adaptações de Cristo às várias modalidades de culto facilmente encontradas hoje em dia e que acabam por revelar um dramático empobrecimento da fé cristã, devido a uma recusa à personalidade "exigente" e "comprometedora" do Jesus original.
Qual o motivo dessa recusa? A resposta pode ser encontrada nas palavras de São Paulo à comunidade dos Romanos: "Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez do Criador, que é bendito pelos séculos" (Cf. Rm 1, 25). Colocaram-se acima do Criador e fizeram-se senhores do "bem" e do "mal". E é por isso que se faz necessário aos missionários do mundo corromper a verdadeira imagem do Salvador num garotão patético que aceita tudo pela "paz" e o "amor". A presença da Igreja no mundo é como a presença de uma mãe no quarto de um filho que aprontou. Ele sempre tentará convencê-la, seja por desculpas, seja por birras, a abonar suas traquinagens. Mas uma mãe que ama jamais o fará, quanto mais a Igreja!
Outra motivação para esta recusa pode ser encontrada nas teologias modernas que, na ânsia de "salvarem" Jesus das indagações científicas, concebem-No irreconhecível. Este mais representa um retrato ideológico que o próprio Verbo Encarnado. O patriarca de Veneza, Dom Francesco Moraglia, compara essa atitude a dos Discípulos de Emaús, pois são os teólogos que querem dizer para Cristo quem de fato Ele é:
"Vemos a imagem de uma certa teologia, mais desejosa do que iluminada, totalmente dedicada à árdua e improvável tentativa de salvar, através de suas próprias categorias, Jesus Cristo e a Sua Palavra. Mas, nesta imagem, somos representados nós mesmos, cada vez, com nossa programação pastoral, com nossos projetos e debates, à parte de uma verdadeira fé, pretendemos explicar a Jesus Cristo quem Ele é", Dom Francesco Moraglia.
Ora, não é o ser humano que diz a Jesus quem Ele é, mas é Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que diz quem é o ser humano. Adaptar Cristo a um estilo de vida não condizente à reta vivência cristã reflete um apego aos prazeres do mundo, no qual se faz mais importante o vício que o Cristo crucificado. Não, Jesus não é um hippie "paz e amor, bicho", nem um revolucionário politiqueiro. Isso são ídolos. Jesus é Deus, portanto, que o homem seja apenas aquilo que ele deve ser: um adorador!
O motivo da decadência do apostolado católicoA enxurrada de más notícias divulgadas pelos jornais e tantos outros meios de comunicação faz o católico, muitas vezes, se sentir impotente diante da maldade. É quase comum uma reação de desânimo, letargia e desespero. Ainda mais quando o ambiente em que se vive não está enraizado naquela fé viva, o fundamento da esperança e a certeza do que não se vê (Cf. Hb 11, 1), da qual falava São Paulo. Não obstante, outra atitude igualmente motivada pela falta de fé na graça divina é a do ativismo pessoal. São os auto-suficientes, os que se acham bons demais para perderem algumas horas na Igreja rezando.
Provavelmente, muitos já escutaram de algum amigo, parente ou mesmo
dentro da Igreja que a oração não passa de perda de tempo. Qual o propósito de
rezar enquanto tantos sofrem, agonizam e passam fome? Não seria melhor
alimentá-los, retirá-los da rua, ao invés de ficar diante um crucifixo repetindo
palavras? Ora, não é preciso muito esforço para perceber a mediocridade desse
tipo de pensamento. Uma pessoa que defenda tamanha estupidez tem uma visão
muito míope sobre apostolado cristão e caridade. É evidente de que se trata
de um indivíduo sem fé e materialista, mesmo que não perceba.
É óbvio que aqui não se defende o fideísmo de Lutero ou qualquer heresia
do gênero. Não! A Igreja sabe muito bem da necessidade de se esforçar para
entrar pela porta estreita. Sabe que o verdadeiro amor gera frutos e boas
obras, mas essas boas obras só nascem de um diálogo profundo e amigável com
Deus, um diálogo radicado na cruz. Com efeito, "toda árvore que não
der bom fruto será cortada e lançada ao fogo" (Cf. Mt 7, 19). Fica claro,
assim, que tanto a fé sem obras quanto as obras sem fé são coisas abomináveis.
Um livro muito importante para a espiritualidade cristã, chamado "A
alma de todo apostolado", fez questão de abordar esse tema em um de
seus capítulos. A obra foi escrita por Dom Chautard, abade cisterciense, e foi
o livro de cabeceira do Papa São Pio X.
"Se quereis que Deus abençõe e torne fecundo o vosso apostolado,
empreendido para a sua glória, impregnai-vos bem do espírito de Jesus Cristo,
procurando adquirir uma intensa vida interior. Para este fim, nao vos posso
indicar melhor guia do que "A alma de todo o apostolado" de Dom
Chautard, abade cisterciense. Recomendo-vos, calorosamente, esta obra, que
estimo particularmente, e da qual fiz o meu próprio livro de cabeceira."
(Palavras de São Pio X, durante a visita ad limina dos bispos do Canadá, em
1914).
No capítulo II, o abade recorda um ensinamento de um cardeal da época
sobre a "heresia das obras". "Com esta expressão",
diz Dom Chautard, o cardeal estigmatizava "a aberração de um apóstolo
que, esquecendo‑se do seu papel secundário e subordinado"- ou seja, que
Cristo é o protagonista, não ele - "unicamente esperasse o bom êxito do
seu apostolado, da sua atividade pessoal e dos seus talentos".
O abade lembra Cristo como o autor e princípio da vida. Desse modo, os
apóstolos jamais podem perder de vista a seguinte verdade: "que, para
participar dessa vida e comunicá‑la aos outros, hão mister de ser enxertados no
Homem‑Deus". Os discípulos de Jesus devem se reconhecer como
"modestos canais" da graça do Senhor, não como seus autores. Por
conseguinte, aqueles que menosprezam Deus e a oração caem em terrível desgraça,
nas palavras de Dom Chautard, numa "atividade febril". Ademais, todas
as suas obras estão fadadas ao fracasso, pois não foram edificadas na rocha,
mas na areia:
"Salvo em tudo o que opera sobre as almas ex opere operato,
Deus deve ao Redentor o subtrair ao apóstolo, cheio de arrogância, as suas
melhores bênçãos para reservá‑las ao ramo que humildemente reconhece que
somente pode haurir a sua seiva no tronco divino. De outra sorte, se abençoasse
com resultados profundos e duradouros uma atividade envenenada por esse vírus a
que chamamos heresia das obras, Deus dava mostras de animar essa desordem e
permitir seu contágio".
Palavras fortes e, ao mesmo tempo, tão atuais. Como não reconhecê-las em
tantos católicos que enxergam a fé apenas como um pressuposto, como dizia Bento
XVI na Carta Apostólica Porta Fidei, e se lançam às obras negociando
princípios que sob hipótese alguma poderiam ser negociados? Como não
enxergá-las em tantos discursos ideológicos que propõem reflexões totalmente
absurdas e contrárias à sã doutrina a pretexto de um mundo melhor, de um mundo
onde todos sejam "iguais"? Se um apostolado vai mal, pode-se dizer
quase com certeza divina, que se trata de um apostolado sem Deus ou que já O
esqueceu. Ou se muda isso, ou corre-se o risco de transformar a Igreja naquilo
que o Santo Padre Francisco denunciou tão sabiamente na sua primeira homilia,
"numa ONG piedosa".
Por: Equipe Christo Nihil Praeponere, tirado site pradrepauloricardo.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário