| 30 Agosto 2013
A cabine telefônica de estilo britânico intitulada “Converse com Deus” aparecia numa praça, ao lado de fora de uma reunião da ONU no Uruguai. Ostentava um pôster que perguntava se a gravidez da Virgem Maria era “desejada.” Os pedestres eram incentivados a gravar uma mensagem para Deus denunciando o “fundamentalismo” religioso e rezando pelo aborto legal. Dentro da reunião, representantes da América Latina e nações caribenhas escutaram discursos da Planned Parenthood (Federação Internacional de Planejamento Familiar) e de uma sexóloga enquanto rascunhavam prioridades para o novo conjunto de metas de desenvolvimento. A cabine telefônica tinha sido montada por grupos feministas e secularistas para influenciar a conferência.
A reunião foi a primeira de uma série na região a propor metas para a agenda pós-2014. Foi organizada pela Comissão Econômica da ONU para a América Latina e Caribe (CEALC) e pelo Fundo de População da ONU, e realizada pelo governo do Uruguai, que recentemente legalizou o aborto. Autoridades de 38 países, 24 agências e 260 organizações não-governamentais compareceram.
“Extremistas radicais se infiltraram” na reunião, informou a Rede Parlamentar de Questões Críticas.
De acordo com um observador, o debate foi “sequestrado” pela Argentina, Equador e Uruguai. O habitual “código de respeito” em eventos internacionais foi repetidamente ignorado, levando o secretário da conferência a criticar a “falta de diplomacia” dos participantes.
O resultado foi o Consenso de Montevidéu sobre População e Desenvolvimento. O documento pede políticas para dar às pessoas condições de exercer “direitos sexuais” sem discriminação. Orienta os países da América Latina e Caribe a “considerar emendar suas leis” que restringem o aborto e permitir que as adolescentes tenham acesso à pílula do dia seguinte sem envolvimento dos pais. A legalização do aborto “reduzirá o número de abortos", afirma o documento, não oferecendo evidência alguma.
Contudo, no que a Argentina denunciou como retrocesso, o consenso reafirmou o direito soberano das nações de aplicarem as recomendações de acordo com suas leis e prioridades.
Esse documento “só poderia ser possível numa reunião regional na qual os governos enviam suas feministas radicais em vez de pessoas que verdadeiramente representam seu próprio povo,” disse Austin Ruse, presidente do C-FAM. Suas posições “não teriam absolutamente nenhuma chance de serem aprovadas na Assembleia Geral, onde os delegados estão cansados desse tipo de agenda radical".
Uma pessoa recebeu dois horários privilegiados de palestra na reunião de 3 dias. Carmen Barroso, diretora do hemisfério ocidental da Planned Parenthood disse numa entrevista que a América Latina e o Caribe deveriam ser líderes na promoção da “cidadania sexual.” Esse conceito, introduzido no início da década de 1990, vê a sexualidade dentro do sistema de cidadania a partir de uma perspectiva neomarxista.
"A América Latina e o Caribe não podem progredir na área de saúde sexual e reprodutiva se o aborto não for um direito", Mariela Castro disse na conferência. A sexóloga, filha do presidente cubano Raul Castro, é membro da força-tarefa de alto nível da Conferência Internacional de População e Desenvolvimento. Ela patrocinou uma lei tornando Cuba o primeiro país na região a fornecer cirurgia gratuita de operação de mudança de sexo para indivíduos transgêneros.
O político uruguaio Gerardo Amarilla denunciou a discriminação religiosa do espetáculo da cabine telefônica e zombou dos organizadores da conferência destacando seu país como “progressista.”
Ele enumerou os crescentes problemas do Uruguai, incluindo a desintegração da família, infecções sexualmente transmissíveis, uso de drogas, violência, depressão e suicídio. “Talvez sejamos ‘progressistas’ e estejamos nos desenvolvendo,” disse ele, “certamente em direção ao precipício.”
Publicado no 'Friday Fax' do C-FAM.
Tradução: Julio Severo
Nenhum comentário:
Postar um comentário