25 Mar 2013
Alexandre Ribeiro
Acreditar na ressurreição de Jesus, para o
cristão, é uma condição de existência: somos cristãos porque acreditamos que
Jesus está vivo, triunfou da morte, ressuscitou, e é, para todos os
humanos, o único mediador entre Deus e os homens. Dessa mediação participam a
seu modo tudo aquilo (o universo e tudo aquilo que contém) e todos aqueles (dos
mais sábios aos mais humildes) que, pela vida e pela palavra, proclamam o poder
e a misericórdia de Deus que sustenta todo o universo e nos chama a todos a
participar de sua vida.
A fé na ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento da mensagem cristã. A fé cristã estaria morta se lhe fosse retirada a verdade da ressurreição de Cristo. A ressurreição de Jesus são as primícias de um mundo novo, de uma nova situação do homem. Ela cria para os homens uma nova dimensão de ser, um novo âmbito da vida: o estar com Deus. Também significa que Deus manifestou-se verdadeiramente e que Cristo é o critério no qual o homem pode confiar.
A fé na ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento da mensagem cristã. A fé cristã estaria morta se lhe fosse retirada a verdade da ressurreição de Cristo. A ressurreição de Jesus são as primícias de um mundo novo, de uma nova situação do homem. Ela cria para os homens uma nova dimensão de ser, um novo âmbito da vida: o estar com Deus. Também significa que Deus manifestou-se verdadeiramente e que Cristo é o critério no qual o homem pode confiar.
A fé na ressurreição de Jesus é algo tão essencial para o cristão que São Paulo chegou a escrever:
“Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia, e vazia também a vossa
fé” (1Cor 15, 14).
A ressurreição de Cristo não é apenas o milagre de
um cadáver reanimado. Não se trata do mesmo evento que ocorreu com outros
personagens bíblicos como a filha de Jairo (cf. Mc 5, 22-24) ou Lázaro (cf. Jo
11, 1-44), que foram trazidos de volta à vida por Jesus, mas que, mais tarde,
num certo momento, morreriam fisicamente.
A ressurreição de Jesus “foi a evasão para um
gênero de vida totalmente novo, para uma vida já não sujeita à lei do
morrer e do transformar-se, mas situada para além disso: uma vida que inaugurou
uma nova dimensão de ser homem”, explica o Papa Bento XVI no segundo volume do
seu livro “Jesus de Nazaré”.
Jesus ressuscitado não voltou à vida normal que
tinha neste mundo. Isso foi o que aconteceu com Lázaro e outros mortos
ressuscitados por Ele. Jesus “partiu para uma vida diversa, nova: partiu para a
vastidão de Deus, e é a partir dela que Ele se manifesta aos seus”, prossegue o
Papa.
A ressurreição de Cristo é um acontecimento
dentro da história que, ao mesmo tempo, rompe o âmbito da história e a
ultrapassa. Bento XVI a explica com uma analogia. “Se nos é permitido por uma
vez usar a linguagem da teoria da evolução”, a ressurreição de Jesus é “a maior
‘mutação’, em absoluto o salto mais decisivo para uma dimensão totalmente nova,
como nunca se tinha verificado na longa história da vida e dos seus avanços: um
salto para uma ordem completamente nova, que tem a ver conosco e diz respeito a
toda a história” (homilia da Vigília Pascal de 2006).
Portanto, a ressurreição de Cristo não se reduz
à revitalização de um indivíduo qualquer. Com ela foi inaugurada uma
dimensão que interessa a todos seres humanos, uma dimensão que criou para os
homens “um novo âmbito da vida, o estar com Deus”, explica o Papa no livro
“Jesus de Nazaré”.
As narrativas evangélicas, na diversidade de suas
formas e conteúdos, convergem todas para a convicção a que chegaram os
primeiros seguidores de Jesus, de que sua ação salvadora, tal como se havia
pressentido nas Escrituras, não se frustrara nem se havia encerrado com sua
morte. Pelo contrário, cumpria a promessa de Deus feita desde as origens da
humanidade e, portanto, o fato de Jesus estar vivo e atuante na história tinha
sua base em Deus, vinha confirmar a esperança que depositamos em Deus de que a
verdade e o bem, a justiça e a paz hão de triunfar, terão a última palavra,
porque Deus é fiel.
O mistério da ressurreição de Cristo é um
acontecimento que teve manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento. Ao mesmo tempo, é
um evento misteriosamente transcendente, enquanto entrada da humanidade de
Cristo na glória de Deus (cf. CIC, 639 e 656).
Dois sinais da ressurreição são reconhecidos como essenciais pela fé da Igreja
Católica. O primeiro é o testemunho das pessoas que encontraram Cristo
ressuscitado. Essas testemunhas da ressurreição de Cristo são, antes de
tudo, Pedro e os Doze apóstolos, mas não somente eles. São Paulo fala
claramente de mais de quinhentas pessoas às quais Jesus apareceu de uma só vez,
além de Tiago e de todos os apóstolos (cf. CIC, 642; 1 Cor 15, 4-8).
O segundo sinal é o túmulo vazio. Significa
que a ausência do corpo de Jesus não poderia ser obra humana. O sepulcro vazio
e os panos de linho no chão significam por si mesmos que o corpo de Cristo
escapou das correntes da morte e da corrupção, pelo poder de Deus (CIC, 656).
O teólogo Francisco Catão, doutor em Teologia pela
Universidade de Estrasburgo e professor do Centro Universitário Salesiano de
São Paulo, explica que os sinais do sepulcro vazio e das aparições de Jesus
ressuscitado foram válidos para os apóstolos e primeiros seguidores de Jesus.
“Não há porque, racionalmente, duvidar.
Seria levantar a suspeita de inautenticidade histórica de todo o Novo
Testamento, no que hoje, depois dos abalos da exegese liberal e da ciência mal
informada, nenhum autor sério cientificamente acredita”.
“O Novo Testamento relata a morte de Jesus e seus
primeiros seguidores, interpretando os sinais do túmulo vazio e das aparições.
Fato que afirmaram solenemente, com base nas Escrituras. Animados pelo Espírito
Santo, deram o testemunho de sua vida pela fé em Jesus, vivo junto a Deus, como
o sabemos desde os Atos dos Apóstolos”, afirma o teólogo.
O ser humano é aquele ser que não tem permanência
em si mesmo. Continuar vivendo só pode significar, humanamente falando,
continuar existindo num outro. Mas existir no outro – por meio dos filhos ou da
fama, por exemplo – não passa de uma sombra, porque o outro também se desfaz. Só
Deus pode amparar o homem e fazê-lo perdurar. Neste sentido, a ressurreição é a
força do amor que vence a morte. Ela não é um ato fechado em si, que
pertence só à divindade de Cristo. É o princípio e a fonte de nossa própria ressurreição
futura.
Só existe “um” que nos pode amparar, “aquele que
‘é’, que não vem ao ser e que não deixa de ser, mas que permanece em meio ao
vir a ser e ao desaparecer: o Deus dos vivos que sustenta não apenas uma sombra
e o eco de meu ser e cujos pensamentos não são apenas cópias da realidade”
(Joseph Ratzinger, “Introdução ao Cristianismo”).
Nesse sentido, a ressurreição “é a força maior
do amor diante da morte. Ela prova, ao mesmo tempo, que a imortalidade só
pode ser fruto do existir no outro que continua de pé mesmo quando eu estou em
farrapos” (idem).
Os relatos da ressurreição de Jesus testemunham um
fato novo, que não brotou simplesmente do coração dos discípulos. Trata-se de
um fato que chegou a eles de fora, se apoderou deles contra as suas dúvidas e
os fez ter a certeza de que Jesus realmente ressuscitou.
“Aquele que estava no túmulo já não está lá, ele
vive – e é realmente ele próprio. Ele que passara ao outro mundo de Deus
mostrou-se suficientemente poderoso para mostrar-lhes de forma palpável que era
ele mesmo que se encontrava na frente deles, que nele o poder do amor se
revelara realmente mais forte do que o poder da morte” (idem).
A ressurreição de Jesus Cristo constitui a
comprovação de tudo o que o próprio Cristo fez e ensinou. Todas as verdades, mesmo as mais inacessíveis ao
espírito humano, encontram sua confirmação se, ao ressuscitar, Cristo deu a
prova definitiva, que havia prometido, de sua autoridade divina (CIC, 651).
Nenhum homem pode ressuscitar um morto. Por
conseguinte, se Jesus, como homem, ressuscitou, isto é obra de Deus. A
ressurreição de Jesus crucificado demonstrou que ele era verdadeiramente o
Filho de Deus e Deus mesmo (CIC, 653).
A ressurreição é o cumprimento das promessas do
Antigo Testamento e das promessas que o próprio Jesus fez durante sua vida
terrestre. A verdade da divindade de Jesus é confirmada por sua ressurreição.
A ressurreição de Jesus não é um ato fechado em si.
É o início de um processo que se estende a todos os homens. Ela é o princípio e
a fonte da ressurreição futura dos homens, atuando “desde já pela justificação
de nossa alma” e, mais tarde, “pela vivificação de nosso corpo” (CIC, 658).
“Não foi nada fácil, através da história, nem o é,
nos dias de hoje, para os cristãos, sustentar sua fé. Nunca, porém, lhes faltou
a assistência do Espírito, senão para provar a ressurreição, pelo menos para
evidenciar que não pode ser validamente contestada, por nenhum tipo de
argumento científico ou filosófico”, afirma o teólogo Francisco Catão.
Referências:
Nós agradecemos pela colaboração neste artigo ao
teólogo Francisco Catão, doutor em Teologia pela Universidade de Estrasburgo e
professor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo.
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