A doutrina dos grandes santos está repleta de loas ao exame de consciência. Por exemplo, São João Crisóstomo, chegou a dizer que, se uma pessoa se empenhasse num bom exame de sua consciência, dentro de um mês seguramente estaria no caminho da santidade. Trata-se, portanto, de uma doutrina plurissecular da Igreja que merece toda a atenção.
Um livro em especial, "A vida interior simplificada e reconduzida ao seu fundamento", escrito por pelo padre cartuxo François de Salles Poullien, em cuja terceira parte, vários capítulos são dedicados ao exame de consciência. Num deles, o Pe. Poullien relata a experiência de Santo Ignácio de Loyola que dirigia seus filhos jesuítas quase que unicamente pela reflexão pessoal e pela prática dos Sacramentos. De tal forma que na Constituição da Ordem ele não poderia ser tido como dispensável. Isso significa que mesmo um jesuíta que estivesse doente, impedido de rezar, de frequentar os sacramentos estava dispensado de tudo, exceto do exame de consciência.
Sendo assim, como fazer um bom exame de consciência e caminhar em direção à santidade? Existe um tipo, chamado superficial que é aquele que se detém nos atos, ou seja, nos pecados cometidos durante o dia ou ao longo da vida. Já um exame de consciência profundo é aquele que mergulha no coração. Ora, sabe-se que o que se recolhe ao coração são os hábitos, as disposições habituais que, em geral, dão um rumo à vida. Se os hábitos são bons, a vida ruma para o bem, se são maus, a vida está desorientada. Então, é preciso mergulhar nos hábitos e identificá-los.
Para tanto, a pergunta fundamental que deve ser feita é: "onde está o meu coração?" O próprio Jesus afirmou nesse sentido: "onde está o seu coração, aí está o seu tesouro" (Mt 6,21). É a mesma pergunta que Deus fez a Adão ao entardecer do terrível dia em que o pecado veio ao mundo. Na brisa, Deus queria se encontrar com um amigo e perguntou: "Adão, onde estás?" (Gn 3,9). É precisamente a resposta à pergunta do Senhor que interessa ao exame. "Onde eu estava quando não estava com o Senhor?" foi a forma encontrada por São Josemaría Escrivá de Balaguer y Albas para fazer a mesma pergunta. E a resposta em todos os casos é a mesma: disperso.
O coração do homem precisa estar centrado em Deus e o exame de consciência serve para mostrar o quanto é grande o afastamento, o quanto se está longe de Deus, do centro. Os pecados e as disposições habituais são apenas sintomas desse doença que é a distância do núcleo que é Deus. Portanto, identificar para onde está sendo orientada a vida é parte decisiva na cura.
Definido o exame de consciência, é possível dividi-lo em três partes: a primeira é o chamado "golpe de vista", ou seja, aquele olhar que identifica os atos (superficial) e também aquele mais profundo que olha os hábitos já arraigados. A segunda é a contrição, na qual a pessoa percebe que o pecado não só machuca e destrói, como manda para longe o Céu e aproxima perigosamente o Inferno (atrição). Nessa etapa é preciso dar um passo além, o passo do amor filial, saindo da condição de temor servil, percebendo a ofensa cometida contra o pai amoroso e imbuindo-se de um verdadeiro arrependimento por ter causado a ofensa. "Senhor, eu pequei, perdoa-me". A terceira etapa é a resolução ou o propósito de amar mais a Deus, cortar na raiz os maus hábitos e os vícios arraigados no coração.
A frequência ideal do exame de consciência é três vezes ao dia, segundo Santo Ignácio de Loyola, sendo o primeiro pela manhã, de modo preventivo, olhando para a vida, para os vícios e atos maus costumeiramente praticados, orientando as próprias disposições a não cometê-los. O segundo, logo após o almoço, talvez na Hora Média ou numa visita ao Santíssimo Sacramento, avaliando como o dia foi conduzido até aquele momento e reforçando o desejo de acertar (ou não errar) no restante do dia. Por fim, à noite, antes do dormir, seguindo mesmo as orientações da Igreja que recomenda o exame de consciência antes das Completas.
O exame de consciência noturno é o mais importante dos três, pois não versa somente aquele dia (particular), mas deve ter o caráter geral, da vida toda e de como ela está sendo orientada, colocando diante de deus toda miséria, louvando-O pelos bons atos realizados e colocando toda a confiança na misericórdia Dele e meditando no fato de que a salvação só pode vir pela Graça divina. Fazendo assim não há dúvida de que a vida será realmente convertida, conduzida para Deus, naquilo que os antigos chamavam de epistrofe, mudar o rumo, a direção da vida, para que a ovelha errante perdida encontre o Pastor da Alma no fim de cada dia e em todos os dias da vida.
Dica de como fazer o exame: ( fonte desconhecida)
1. Mandamento: "Amar a Deus sobre todas as coisas".
Tenho dado tempo em meu dia para Deus,
buscando-o pela oração, lendo sua Palavra, oferecendo-lhe meus trabalhos e
evitando todo mal?
2. Mandamento: "Não tomar seu santo nome em
vão".
Sou dado a usar o nome de Deus de qualquer modo? Tenho blasfemado ou feito juramentos falsos? Fiz promessas e não cumpri?
3. Mandamento: "Guardar domingos e
festas".
Tenho honrado o dia do Senhor e os dias santificados participando da santa missa, ou tenho trocado por outros compromissos?
4. Mandamento: "Honrar pai e mãe".
Tenho amado os meus pais, independentemente de seus aparentes defeitos? Sendo necessário, tenho colaborado com suas necessidades materiais e espirituais?
5. Mandamento: "Não matar".
Tenho prejudicado a vida, a integridade
física, fama ou honra do próximo... Tenho aconselhado ou praticado o aborto?
Tenho guardado rancor?
6. Mandamento: "Não pecar contra a castidade".
Tenho consentido em meus pensamentos ou
desejos? Respeitei meu corpo ou o corpo de outras pessoas como templo do
Espírito Santo?
7. Mandamento: "Não furtar."
Tenho roubado, prejudicado no trabalho ou negócios ou desejado injustamente os bens do próximo?
8. Mandamento: "Não levantar falso
testemunho".
Tenho sido leal e verdadeiro? Ou
prejudicado os outros com palavras falsas, calúnias, fofocas, juízos temerários,
violação de segredo?
9. Mandamento: "Não desejar a mulher do
próximo."
Tenho sido fiel a meu esposo ou esposa em
meus desejos e relações com os outros?
10. Mandamento: "Não cobiçar as coisas
alheias".
Tenho sido dominado pela ambição
desregrada, a ponto de usar meios desonestos para alcançar alguma vantagem
financeira? Tenho sentido inveja do progresso do meu próximo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário