Numa entrevista ao ateu Eugenio Scalfari, do jornal italiano La Reppublica, alguns tentam colocar palavras na boca do Papa que ele não disse. Na entrevista traduzida e disponibilizada na integra por pessoas do bem, não consta o Papa dizendo que não existe um Deus Católico. Não, o Papa jamais alegou isso na entrevista exclusiva concedida. Mas se tivesse dito veja quais seriam as consequência disso segundo Pe. João Batista.
Por Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa
Confesso que
fiquei perplexo lendo esta frase ontem: “Não existe um Deus católico”.
Embora a expressão “Deus católico” seja
insólita (Que não se apresenta de maneira habitual; que é raro ou incomum; anormal), negá-la no contexto em que foi negada tem consequências desastrosas.
Realmente.
O Antigo Testamento está repleto da expressão o
Deus de Israel, o Deus de Abraão, Isac e Jacó... atestando que o Deus vivo e
verdadeiro se revelava ao povo eleito, depositário de suas promessas e
ensinamentos, e se distinguia dos ídolos dos falsas religiões que aterrorizavam
os povos pagãos.
Completando-se com a encarnação do Verbo de
Deus a Revelação Divina, a qual se encerra com a morte do último apóstolo, e
sendo a Igreja Católica a depositária de tal revelação, dizer que não se crê em
um “Deus Católico” parece-me favorecer a heresia monolátrica, isto é, a crença
em um deus único concebido pela mente humana, distinto do Deus Uno e Trino que
se revelou, encarnou e fundou a Igreja Católica para perpetuar a sua obra de
salvação do mundo.
Dizer “não existe um Deus Católico”, no
ambiente atual de ecumenismo maçônico e diálogo interreligioso sem fronteiras,
só contribui para a demolição da fé católica e reforça a marcha do mundo
contemporâneo rumo ao deísmo (sistema dos que creem em Deus mas rejeitam a
Revelação, isto é, Jesus Cristo), ao panteísmo, à gnose universal. Afirmar “não
existe um Deus Católico” é um convite dirigido aos “irmãos” pedreiros livres e
aos “homens de boa vontade” para trabalharem todos juntos na fundação de uma
nova religião de uma nova era da humanidade, em que o homem será a sua própria
lei.
A infelicidade de tal afirmação cresce ainda
mais quando se tem presente que nos dias de hoje o Deus da Metafísica, o Ser
Absoluto, o primeiro Motor Imóvel, a Causa Primeira incausada, o Ato Puro dos
estudiosos da Ontologia, que serve de base para uma exposição racional do
mistério da Revelação Divina, desapareceu completamente da cultura
contemporânea. De modo que negar o “Deus Católico” não significa ceder lugar ao
Ser Absoluto na mente dos homens de hoje, mas sim ceder lugar à “energia
cósmica” que alguns imaginam como um demiurgo.
Acresce que na mesma entrevista o bispo de Roma
disse que “cada um tem a sua própria concepção de bem e mal e deve escolher
seguir o bem e combater o mal como concebe". Ora, isto equivale a proclamar a
soberania absoluta da consciência individual, que já não terá sua autoridade e
legitimidade à proporção em que aplica fielmente a lei de Deus na direção da
vida humana.
Sinceramente, estou convencido de que a chave
para entender o drama dos nossos tempos não está tanto em meditar as promessas
de Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, quanto
na meditação da passagem do Evangelho segundo Lucas: “Mas, quando vier o Filho
do homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?" (Lc. 18, 8). Sim, as
portas do inferno não prevalecerão, mas os homens maus têm um poder enorme de
corromper a fé e desfigurar a Igreja e reduzi-la a frangalhos.
Se se dispensa um “Deus Católico”, se cada um
pode seguir o bem como o concebe, será necessária a Igreja para a salvação? [Se
é assim, Igreja para quê?] No máximo, será um auxílio para aqueles que querem
construir uma utopia de um mundo novo, de um mundo melhor de liberdade,
igualdade e fraternidade. Em tal perspectiva, que restará da Igreja? Restarão
grupos esparsos de homens que conservam a fé imutável no Deus Uno e
Trino.
Que Deus tenha misericórdia de nós. As
tentações são muitas. Que Nossa Senhora das Vitórias, neste mês do Rosário,
esmague as esquadras do modernismo, como em Lepanto esmagou o inimigo
infiel.
Anápolis, 2 de
outubro de 2013,
Festa dos Santos
Anjos Custódios
Fonte: SantaMariadasVitorias.Org
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