sábado, 28 de junho de 2014

Devo ir a missa aos domingos mesmo sem vontade.

Muitos se perguntam se devem ir à missa no domingo mesmo sem vontade, por pura obrigação. Para responder à essa pergunta é preciso antes entender como é o funcionamento da alma humana e de como se pode prestar culto a Deus.

O homem é constituído de corpo e de alma e é a alma que deve comandar o corpo, mesmo que os 'sentimentos' do corpo não estejam colaborando. É como um pai que leva o seu filho à missa: a alma é o pai e o corpo é o filho. Ora, o filho esperneia e diz que não quer ir, mas o pai é firme e exerce um ato de vontade sobre o filho.

A alma humana possui três áreas: a inteligência, a vontade e a afetividade (sentimentos). Elas devem obedecer a essa hierarquia, deste modo, quando a pessoa sente dificuldade em ir à missa é porque a afetividade está querendo sobrepor-se às demais, porém, a sua inteligência sabe o que é o certo e determina à vontade, ordena à afetividade que vá mesmo assim.

Não se trata de hipocrisia. Quando uma parte do indivíduo não quer ir à missa é justamente nesse momento que se vislumbra a oportunidade de mostrar a Deus o quanto o ama, pois uma oração que é feita na luta é uma oração que tem mais valor porque é feita na consolação.

Nenhuma das três áreas da alma devem ser excluídas da vida espiritual, mas elas devem obedecer à hierarquia. A inteligência é a área usada para o ato principal da vida espiritual: a oração. A vontade também pertence à vida espiritual e quando é ela quem comanda, a isso se dá o nome de devoção. Finalmente, quando a afetividade (sentimentos) entram na vida espiritual ocorre a consolação.

Contudo, mesmo que o indivíduo não receba consolações na vida espiritual, ou seja, quando ele está passando por um período de aridez, de deserto, não deve desanimar, pois esta é a área que está mais em contato com o corpo e, portanto, não é tão sublime.
Neste momento, a vontade deve vir em socorro da afetividade e o indivíduo deve perpetrar atos de devoção em que, mesmo não sentindo grande consolação, os gestos concretos de vontade por ele realizados, ajudarão o intelecto, a razão, a parte superior de sua alma a prestar o culto a Deus. Aquele culto referido por São Paulo como logiké latréia, ou seja, uma adoração lógica, do Logos, um culto espiritual em que o indivíduo dobra sua inteligência diante da sabedoria infinita de Deus para pedir a Ele tudo aquilo que convém para a salvação da própria alma e das outras pessoas.

https://padrepauloricardo.org/episodios/devo-ir-a-missa-por-pura-obrigacao#at_pco=smlwn-1.0&at_si=53aedfbb71540936&at_ab=per-2&at_pos=0&at_tot=1

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Virtude, Graça e Dons do Espirito Santo

A ação do Espírito Santo é gerar em nós um “organismo espiritual”. De fato, nós temos um organismo natural e um sobrenatural. Com o primeiro, praticamos atos naturais, como comer, andar, dormir, amar nossos familiares etc. Para realizar atos sobrenaturais, no entanto, é necessário um organismo sobrenatural, que deve ser gerado em nós. Só assim é possível fazer o que nenhum de nós pode por si só: amar a Deus de todo o coração.

Para isso, é preciso, em primeiro lugar, ser batizado e, depois, permanecer em estado de amizade com Deus. A cada pecado mortal, o organismo espiritual que recebemos no Batismo é prejudicado, tal como uma criança que, no útero da mãe, tivesse cortado o seu cordão umbilical. A primeira coisa que acontece com nossa alma é o desaparecimento da caridade. Quando ofendemos gravemente a Deus, dizemos que O odiamos e tratamo-Lo como um inimigo. Pode até ser que reste em nossos corações um pouco de esperança e de fé, mas a caridade se esvai totalmente e, com isso, o nosso organismo se debilita.

Para remediar este estado, é preciso que nos arrependamos de nossos pecados e procuremos o sacramento da Confissão. Em cada Confissão, o nosso organismo espiritual é restaurado. Diferentemente do organismo natural, em que, cortado o cordão umbilical, corta-se o vínculo de dependência entre mãe e filho, no organismo sobrenatural, devemos estar em constante contato com o Senhor; caso contrário, morremos. É Ele mesmo que mantém a nossa vida espiritual, preservando em nós a graça santificante.

Existem dentro de nosso organismo sobrenatural duas coisas: as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo. Assim como um barco sem remos nem velas é levado pela correnteza, o nosso organismo, sem as virtudes infusas – que são como os remos – e sem os dons do Espírito – que são como as velas – seguem correnteza abaixo, rumo ao egoísmo e à autodestruição.

Quando estamos em estado de graça, as virtudes estão em nosso organismo, ainda que não as vejamos – e não é possível que as vejamos, pois se tratam de hábitos. Assim como o fato de dormirmos não nos tira os hábitos que possuímos – como a habilidade em tocar piano –, quando saímos do confessionário, as virtudes estão em nosso coração, em estado de graça habitual. Não basta, porém, que se tenha o amor em hábito; é preciso que ele passe ao ato – por isso se pede a Deus a graça atual.

Muitas pessoas desistem de progredir na vida espiritual porque não se veem capazes de amar. Embora por nossa própria natureza realmente não o sejamos, Deus capacita-nos pelos sacramentos do Batismo e da Reconciliação. Os remos já estão conosco! Foi Deus mesmo quem no-los deu.

É claro que as virtudes requerem de nós força e ação, como já foi dito. Só depois de colocá-las em ato é possível ir estendendo as velas de nosso barco, que são os dons do Espírito. A dinâmica destes é um pouco diferente do que acontece com as virtudes: enquanto os remos, mesmo dados por Deus, precisam de nossa ação para produzirem efeito, as velas agem pelo sopro do Espírito, precisando tão somente de nossa disponibilidade para conduzirem o nosso barco.

Graça é um Dom de Deus. Dom gratuito, como tudo o que temos e que dEle nos vem. Nós a recebemos não por nossos méritos, mas pelos de Jesus Cristo, nosso Redentor. Pelo pecado original, o homem perdeu o Dom da graça santificante.

No princípio do mundo, Deus havia dado esta vida sobrenatural (vida na graça) a Adão e Eva – que, pelo pecado, a perderam. Cristo foi o Restaurador. Por Ele – e só por Ele – os homens se salvam: pelo sacrifício da cruz. Porque o Seu Sacrifício foi o Sacrifício perfeito – absoluto, pleno, universal – para todos os homens.

A graça é o meio para atingirmos nosso fim último, o Céu. Só pela graça podemos atingi-lo. É preciso ter a vida sobrenatural, para alcançar a salvação. É preciso estar vivo (pela graça) para atingir a plenitude de vida (no Céu).

É pela graça que somos unidos a Cristo e, em Cristo, unidos aos outros membros de Seu Corpo Místico. A graça é a seiva, o Sangue que nos liga à Cabeça. Comunicando-nos a vida divina.

A graça é a participação da vida divina.

Graça atual

É um socorro transitório que Deus concede a alma, para ajudá-la a evitar o mal e a praticar o bem. Vem de Deus, particularmente, do Espírito Santo. Do Espírito Santo que é Luz e Força, Sabedoria e Amor. É socorro ou inspiração divina que, inúmeras vezes, recebemos ao longo de nossa vida. Inúmeras vezes, em que somos livres para aceitá-la ou recusá-la.

Um bom livro que nos cai às mãos, um bom conselho, o arrependimento por um mal feito, a vontade de progredir no bem, bons pensamentos, bons desejos, são graças atuais. Como, também, podem ser graças o sofrimento, a doença, contrariedades.

Santo Inácio de Loyola, o valente soldado ferido, recebeu a visita do Espírito Santo quando, no hospital, leu livros religiosos – e, daí em diante, tornou-se um dos maiores soldados de Cristo.

S. Francisco de Bórgia, duque e vice rei na corte do imperador Carlos V, foi designado para identificar o cadáver de sua jovem e bela esposa, Isabel. A contemplação do corpo, já desfigurado, levou-o a decidir-se a renunciar honrarias. Pouco tempo depois, com a morte da própria esposa, ingressou na Companhia de Jesus, onde santificou-se.

S. Noberto, num passeio em que seu cavalo foi atingido por um raio, julgou ouvir a voz de Deus que censurava sua vida mundana e vazia – e, de fato, a ouviu, tornando-se um grande santo.

Quanto mais dóceis à voz de Deus – que nos fala através de tudo – mais graças recebemos. Quanto mais dóceis e sensíveis formos, em relação ao Senhor, mais e maiores graças recebemos. Saibamos ouvir Deus, que nos fala sempre. Na vida do cristão, tudo é graça, tudo é apelo, é chamado, é impulso, é convite à santidade.

Diante de uma festa de Primeira Comunhão, a lembrança de nossa inocência perdida; diante de um funeral, a idéia de nossa fragilidade e da própria morte – tudo, tudo são avisos de Deus. A assistência a um casamento, a um batizado, a visão de um desastre – tudo, tudo é graça. Tudo são sinais, são chamados, acenos de Deus para irmos ao Seu encontro. "Eis que bato e te chamo" – Ele nos diz a toda hora, por todos os modos.

Assim, cada um de nós, recebe, por diversas vezes, de várias maneiras, a visita do Espírito Santo, podendo ouvi-lO ou resistir à Sua inspiração. Quando se resiste à ação do Espírito Santo, perde-se uma série de graças, dando-se o contrário, quando se coopera.

O servidor que recebeu cinco talentos, e com eles colaborou, teve, como recompensa, mais outros cinco (Mt 13, 12).

Em cada circunstância, devemos pedir as graças de que necessitamos. Deus as concede sempre. "A minha graça te basta". "Ninguém é tentado acima de suas forças" – está na epístola de S. Paulo.

Graça Santificante

Quando se coopera com a graça atual, o Espírito Santo passa a habitar em nossa alma – e, então, possuímos a graça santificante, a presença permanente de Deus em nós.

"Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada" (Jo 14, 23).

Sob a ação da graça, penetrada pelo Espírito Santo, nossa alma, também, recebe uma certa luz.

‘Se pudéssemos ver a beleza de uma alma na graça de Deus, tombaríamos em êxtase" – disse Léon Blois.

E S. Vicente Ferrer disse: "Se pudéssemos perceber uma alma sem pecado, esqueceríamos completamente de comer e beber".

Santa Margarida de pazzi: "Se soubéssemos como Deus nos ama quando temos a graça santificante, morreríamos de alegria".

Em estado de graça santificante somos considerados amigos de Deus (Jo 15, 15), somos o "novo homem" de que falam (Jo 3, 5) e (Tl 3, 4-7).

Pela graça santificante, o Espírito Santo nos une a Deus, tornando-nos Igrejas vivas – somos então, "Templos do Espírito Santo". "No Pai-nosso, dizemos: Pai-Nosso, que estais no céus; mas, sobre a terra, o céu é a alma do justo, onde Deus habita" (Santo Agostinho).

Enfim, o Espírito Santo é a vida da alma – vida em plenitude, o que significa beleza, paz, alegria. Viver em estado de graça é já, na terra, possuir o Céu. Assim como a graça é a vida da alma, o pecado é a sua morte.


As virtudes.

No Batismo, Deus infunde na alma, sem nenhum mérito nosso, as virtudes, que são disposições habituais e firmes para fazer o bem.

As virtudes infusas são teologais e morais. As teologais têm como objeto a Deus; as morais têm como objeto os bons atos humanos.

As teologais são três: fé, esperança e caridade.

As morais, que chamam-se também virtudes humanas ou cardeais, são quatro: prudência, justiça, fortaleza e temperança.

Conta também o cristão com os dons do Espírito Santo, que facilitam o exercício mais perfeito das virtudes.

Com relação à virtude teologal da caridade, ou seja, do amor, deve-se ter em conta que o amor a Deus e o amor ao próximo são uma mesma e única coisa, de modo que um depende do outro; por isto, tanto mais poderemos amar ao próximo quanto mais amemos a Deus; e, por sua vez, tanto mais amaremos a Deus quanto mais de verdade amemos ao próximo.

O que é a virtude?
A virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem.

Quantas classes de virtudes existem?
Existem duas classes de virtudes: as virtudes teologais e as virtudes humanas ou morais.

Quantas são as virtudes teologais?
As virtudes teologais são três: a fé, a esperança e a caridade;

O que é a fé?
A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus, em tudo o que Ele nos revelou e que a Santa Igreja nos ensina como objeto de fé.

O que é a esperança?
A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos e esperamos de Deus, com uma firme confiança, a vida eterna e as graças para merecê-la, porque Deus nos prometeu.

O que é a caridade?
A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor a Deus, com o amor filial e fraterno que Cristo nos mandou.

Por que devemos amar a Deus sobre todas as coisas?
Devemos amar a Deus sobre todas as coisas porque somente Deus é infinitamente amável e porque nos criou para o Céu.

Por que devemos amar ao próximo?
Devemos amar ao próximo porque todos os homens somo irmãos, filhos do mesmo Pai celestial, redimidos com o Sangue de Jesus Cristo e destinados ao Céu.

O que são as virtudes humanas?
As virtudes humanas, chamadas também de virtudes morais, são disposições estáveis do entendimento e da vontade que regulam nossas ações, ordenam nossas paixões e guiam nossa conduta segundo a razão e a fé.

Quantas são as virtudes humanas?
As virtudes humanas ou morais são muitas, mas podem ser agrupadas em torno a quatro principais, chamadas virtudes cardeais: prudência, justiça, fortaleza e temperança.

O que é a prudência?
A prudência é a virtude que dispõe da razão prática para discernir, em toda circunstância, nosso verdadeiro bem e escolher os meios justos para realizá-lo.

O que é a justiça?
A justiça é a virtude que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido.

O que é a fortaleza?
A fortaleza é a virtude que assegura a firmeza e a constância na prática do bem, até mesmo nas dificuldades.

O que é a temperança?
A temperança é virtude que modera a atração para os prazeres sensíveis e procura a moderação no uso dos bens criados.