segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A Teoria do Resgate.

A epopéia varia, mas, essencialmente, temos três afirmações:
 
1. No Cristianismo Primitivo, existiam as verdades A, B, C, D, e E.
2. A Igreja suprimiu as verdades B e C.
3. Fulano(s) veio e, finalmente, resgatou as verdades B e C.
 
A este argumento dos hereges chamaremos aqui de "Teoria do Resgate", pois, sua base se assenta em um suposto resgate das "verdades perdidas" do Cristianismo.
Considerando as três declarações citadas acima, tentaremos analisar até que ponto elas são válidas. Para tanto, formularemos algumas indagações, bem como utilizaremos alguns exemplos para um maior esclarecimento.
Os gurus norte-americanos na técnica de administração de empresas afirmam que para conhecermos um fato podemos utilizar o método dos 5W/1H, o qual consiste em fazer, logo de início, algumas perguntas bem simples:
 
What?      - O quê?
Where?    - Onde?
When?     - Quando?
Who?       - Quem?
Why?       - Por quê?
How?       - Como?
 
Para o fim a que nos propomos, estas questões básicas também ajudam. Observemos:
Afirmo que "B" era um artigo de fé do Cristianismo Primitivo, mas que foi perdido e depois resgatado. De cara, posso indagar:
 
Que artigo de fé era este ? Existiu mesmo ? Quem (o que) atesta sua existência ?
Onde e quando se perdeu ? Quem o suprimiu ? Por que o suprimiu ? Como isto foi feito ?
Onde e quando foi resgatado? Quem o recuperou ? Por quê ? Como isto foi feito ?
Até hoje não encontramos quem pudesse responder as questões acima. E oportunidades é que não faltaram: listas de discussão (quando havia tempo para participar), sites e mais sites, palestras, livros, panfletos (um pior que o outro!), e tantos outros meios a utilizar o surrado argumento de que "B" existiu, perdeu-se e foi resgatado, mas sem mostrar o percurso de tão grandiosa aventura.
 
Na verdade, tudo uma grande omissão, um imenso hiato, em que a afirmação é jogada como se fosse uma evidência que valesse por si só, uma obviedade tão lógica que não precisaria de demonstração.
 
Há quem diga que aprendemos por analogia. Passemos, então, aos exemplos para facilitar nosso estudo.
 
Como foi dito antes, são diversos os grupos não-católicos que apelam para tal recurso (protestantes, maçons, espíritas, aquarianos...). No entanto, daremos preferência aos protestantes. E para que ninguém mande a acusação de que preferimos uma heresia a outra (?!), adiantamos que tal escolha se dá, simplesmente, porque é neste grupo que mais temos visto o mencionado sofisma. Se é porque os grupos protestantes predominam em número sobre as demais seitas, ou se é porque utilizam mais tal argumento, isto não vem ao caso. Prossigamos.
 
O primeiro exemplo é tirado de um texto adventista. Infelizmente, não dispomos mais do original, no entanto, eis em que consistia: as "verdades perdidas" do Cristianismo antigo não foram recuperadas apenas por Lutero, mas por vários outros reformadores, de forma gradativa. Assim, se os luteranos recuperaram a verdade da "Sola Scriptura" (Só a Bíblia), os batistas trouxeram de volta a verdade do batismo por imersão e de adultos, como única fórmula válida. O processo se encerra, como era de se esperar, com os Adventistas do Sétimo Dia, que resgataram as "verdades" da segunda vinda de Cristo à Terra para estabelecer Seu Reino, e o sábado como dia de descanso.
 
Esta é uma aplicação bem engenhosa da "Teoria do Resgate". Primeiro, porque procura justificar a existência de vários e contraditórios grupos protestantes. Segundo, porque faz uma "média" com estes mesmos grupos ou, pelos menos, com os grupos anteriores ao surgimento dos adventistas (1831). Terceiro, porque o autor termina sugerindo que o "reestabelecimento total do Cristiaismo" se deu em sua religião.
 
No entanto, vamos analisar tais proposições, de acordo com o esquema sugerido logo no início do texto:
 
1. No Cristianismo Primitivo, existiam as verdades A, B, C, D, e E.
 
Lamentamos informar mas não é verdade que no período patrístico (Cristianismo Primitivo) existia o famigerado princípio da "Sola Scriptura". Primeiro, porque não havia sequer um catálogo definido dos livros sagrados, já que a formação do Cânon Bíblico se deu apenas no século IV. Segundo, os testemunhos dos Pais da Igreja bem atestam a crença não só na Bíblia, mas também na Tradição, tal qual proclama a Igreja ainda hoje.
 
"Se os apóstolos nada tivessem deixado escrito, dever-se-ia igualmente seguir a ordem da Tradição por eles confiada aos dirigentes da Igreja. Esse método é seguido por muitos povos bárbaros que crêem em Cristo; sem papel e sem tinta, estes trazem inscrita em seus corações a salvação por obra do Espírito Santo; conservam fielmente a antiga Tradição" (Santo Ireneu, +220, Contra as Heresias, III,4,2).

"A crença uniformemente professada por diversas comunidades não deriva do erro, mas da legítima Tradição" (Tertuliano, +210).

2. A Igreja suprimiu as verdades B e C.

3. Fulano(s) veio e, finalmente, resgatou as verdades B e C.
 
Se o princípio do "Sola Scriptura" não existia, não podia ser perdido e menos ainda recuperado!
 
Semelhante afirmação podemos dizer quanto ao "resgate" do batismo por imersão e de adultos como única fórmula válida. Ora, a Didaqué (Sec. I), primeiro catecismo da Igreja, mostra que tanto os batismos por imersão quanto por aspersão eram válidos. Da mesma forma, a Bíblia não proíbe o batismo de crianças. Se assim fosse, não teríamos o testemunho de Orígenes e tantos outros cristãos sobre tal prática.
 
A vinda de Cristo, por sua vez, não é para estabelecer um reino milenar na Terra (esta é a velha heresia milenarista, há muito condenada pela Igreja), mas para julgar os vivos e os mortos, tal qual consta no antigos credos, ainda hoje proclamados na Igreja.
 
A questão do sábado, verdadeiro cavalo-de-batalha dos adventistas e outros grupos, se resume em saber que Cristo ressuscitou no Domingo, e que o próprio São Lucas (Atos 20,7) mostra que já se celebrava a Santa Ceia no "primeiro dia da semana" (Domingo). Os testemunhos patrísticos, por sua vez, mostram que a minoria cristã que optava pelo sábado (tendência judaizante) foi gradativamente se rendendo a verdade do Domingo como o grande Dia do Senhor.
 
Óbvio que não é possível tratarmos de todas as questões protestantes neste texto, já que são milhares de grupos, com milhares de "verdades". Outrossim, também não é este o objetivo desta exposição, mas sim demonstrar as falhas da "Teoria do Resgate".
Enquanto isto, vejamos mais um exemplo: a Eucaristia.
 
Afirmam os não-católicos que a fração do pão não era como hoje ensina a Igreja Católica. O problema é que estes não-católicos sequer conseguem chegar a um consenso de como era então mais esta "verdade perdida". De fato, Lutero acreditva na presença física de Cristo na Eucaristia; Calvino acreditava na presença espiritual de Cristo na Eucaristia; e Zwinglio afirmava ser apenas um "memorial". Poucos anos depois da Reforma já se catalogava mais de 200 versões para a famosa frase de Cristo: "Isto é o meu corpo".
 
Traduzindo em miúdos: ainda que a Igreja tivesse suprimido o real significado da fração do pão, seria impossível saber quem foi o herói (Lutero, Calvino, Zwinglio...) que procedeu a "operação resgate", haja vista as tantas divergências existentes. Mas Deus não é o Deus da dúvida e do caos, e sim o Deus da Verdade.
 
Uma outra variação para a "Teoria do Resgate" é acrescentar um novo item ao esquema antes proposto, de modo que assim temos:
 
1. No Cristianismo Primitivo, existiam as verdades A, B, C, D, e E.
2. A Igreja suprimiu as verdades B e C.
3. A Igreja acrescentou os ensinamentos F e G, totalmente alheios ao Cristianismo.
4. Fulano(s) veio, resgatando as verdades B e C e suprimindo os erros F e G.
Novamente, um exemplo.
 
Cuida-se agora de uma acusação muito comum em certos folhetos protestantes: foi a Igreja que, no ano 325, no Concílio de Nicéia, acrescentou a fórmula pagã da Santíssima Trindade !
 
Ora, é só considerar alguns dos testemunhos antes do ano 325 para derrubar mais este disparate:

"Os que são batizados por nós são levados para um lugar onde haja água e são regenerados da mesma forma como nós o fomos. É em nome do Pai de todos e Senhor Deus, e de Nosso Senhor Jesus Cristo, e do Espírito Santo que recebem a loção na água. Este rito foi-nos entregue pelos apóstolos" (Justino Mártir, ano 151, I Apologia 61).

"Eu te louvo, Deus da Verdade, te bendigo, te glorifico por teu Filho Jesus Cristo, nosso eterno e Sumo Sacerdote no céu; por Ele, com Ele e o Espírito Santo, glória seja dada a ti, agora e nos séculos futuros! Amém." (Policarpo, ano 156, Martírio de Policarpo 14,1-3).

"Procurai manter-vos firmes nos ensinamentos do Senhor e dos apóstolos, para que prospere tudo o que fizerdes na carne e no espírito, na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, no princípio e no fim, unidos ao vosso digníssimo bispo e à preciosa coroa espiritual formada pelos vossos presbíteros e diáconos segundo Deus. Sejam submissos ao bispo e também uns aos outros, assim como Jesus Cristo se submeteu, na carne, ao Pai, e os apóstolos se submeteral a Cristo, ao Pai e ao Espírito, a fim de que haja união, tanto física omo espiritual" (Inácio de Antioquia, ano 107, Carta aos Magnésios 13,1-2).

"Como não se admiraria alguém de ouvir chamar ateus os que admitem um Deus Pai, um Deus Filho e o Espírito Santo, ensinando que o seu poder é único e que sua distinção é apenas distinção de ordens?" (Atenágoras de Atenas, ano 177, Súplica pelos Cristãos 10).  

"Igualmente os três dias que precedem a criação dos luzeiros são símbolo da Trindade: de Deus [=Pai], de seu Verbo [=Filho] e de sua Sabedoria [=Espírito Santo]" (Teófilo de Antioquia, ano 181, Segundo Livro a Autólico 15,3).
É de sobremaneira interessante esta questão do ano. Assim, os senhores que usam a malfadada "Teoria do Resgate" agregam a esta "A Data da Grande Corrupção", isto é, o momento em que a Igreja descambou de vez, abandonando o verdadeiro Cristianismo e abraçando ensinamentos errôneos. O problema é que não há um mínimo de consenso e lógica sobre quando teria sido esta "Grande Corrupção".
 
Quando se discute a questão acima com um reformista, por exemplo, ele acusa os últimos anos da Idade Média como testemunha da desgraça ocorrida. No entanto, quando mostramos que os erros de alguns seres humanos em nada interferiram na doutrina católica, então o sujeito dá um imenso salto para trás e joga a data para 381 (Primeiro Concílio de Constantinopla) ou mesmo 325 (Primeiro Concílio de Nicéia).
 
Depois que percebe que estes concílios apenas confirmaram a fé ortodoxa, condenando as heresias, então jogam a data para 313, ano em que o Edito de Milão concede liberdade de culto, inclusive para os cristãos. Não deixa de ser interessante: será que o simples fato da Igreja não ser mais perseguida, isto muda totalmente sua essência ? Será que um pássaro quando sai da gaiola não é mais pássaro ?
 
Vencido em seus argumentos, frente aos testemunhos primitivos, o não-católico prossegue em sua jornada, sem perceber que cada vez mais joga a data da "Grande Corrupção" para próximo de Cristo! Não é à toa que houve mesmo quem afirmasse que os apóstolos deturparam a mensagem de Jesus, o que fatalmente nos levaria a desistir de qualquer investigação séria sobre o Cristianismo, já que praticamente tudo que conhecemos de Cristo nos foi passado pelos Santos Apóstolos. Uma conveniência ou um absurdo ?
 
Uma outra variação da "Teoria do resgate" é quando o indivíduo se apega a aspectos secundários do Cristianismo, isto é, que não são artigos de fé, mas apenas normas disciplinares da Igreja, tais como o uso de velas no altar, a adoção do celibato clerical, etc.
Outro modo em que esta teoria aparece é quando o autor diz ter havido "focos de resistência", durante séculos e séculos e que, em um determinado momento, resolvem vir à tona e dar o ar de sua graça ao mundo.
 
Resumo da ópera: o ônus da prova cabe a quem o afirma. Não-católicos ao afirmarem que "a verdade B  existiu, a Igreja suprimiu, mas foi resgatada" precisam demonstrar como isto se deu, o "modus operandi" da Igreja ao abafar tal ensinamento e também o "modus operandi" do herói ao resgatar tal artigo.  Precisa, pelo menos, responder as questões básicas: O quê ? Onde ? Quando ? Quem ? Por quê? Como ?
 
De quebra, terá ainda de explicar como Deus foi tão falho em preservar Sua Doutrina, já que o próprio Cristo disse que:
 
"Eis que eu estou convosco, todos os dias, até o fim do mundo". (Mt 28, 20)
 
"As portas do inferno nunca levarão vantagem sobre ela[a Igreja]". (Mt 16,18)
 
Ora, se Deus abandonou seus filhos a própria sorte, então que Deus é este ? Seria até uma blasfêmia! Mas se, ainda assim, o fez, e designou heróis para recuperar as verdades perdidas, gostaríamos muito de saber que grupo foi este que procedeu tão maravilhosamente bem a esta "operação resgate", dentro dos parâmetros já mencionados. E quando conhecer, podem ter a certeza de contarem com mais uma conversão: é isto mesmo, provavelmente o primeiro site de apologética da Internet em que o responsável pede para ser convertido !
 
"Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". (Lc 23, 34)
 

Emoção, Fé e Razão.

Infelizmente Hoje em dia,, há pessoas que deixam de lado a Razão, o raciocínio, e preferem confiar em seus fracos sentidos e emoções. Ora, isso já é perigoso para o corpo, mas é muito mais perigoso para a alma. Muitas pessoas, assim passaram a expressar e crer de modo totalmente emocional, sem dar ouvidos à Razão que Deus nos deu para que possamos crer. “Creio para entender e entendo para crer”, dizia Santo Agostinho.Muitas pessoas procuram na Religião não a Salvação, a Verdade, a Vida Eterna, mas apenas sensações agradáveis, emoções que as façam sentir-se bem consigo mesmas.

 Disse o Senhor: “Eu te instruirei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir…não queiras ser como o cavalo e o mulo sem entendimento” (Sl 31,8-9). Nosso dever de Cristãos é procurar entender, aprender o que a Igreja que Cristo mandou ensinar a todos os povos (Mc 16,15), usar a inteligência que Deus nos deu e não ser “como o cavalo e o mulo” que nada compreendem e vivem apenas em busca do que seus sentidos dizem ser bom.
Esta busca da emoção, do sensível (aquilo que percebemos por nossos sentidos) é algo que pode trazer problemas enormes para uma pessoa bem intencionada. A fé edificada sobre a emoção não é fé verdadeira, mas mera busca de recompensa rápida, tão pouco profunda e tão ineficiente quanto a caminhada do burrico atrás da cenoura que seu mestre mantém pendurada adiante dele para que ele não pare de caminhar.


 Isso acontece freqüentemente em grupos e em pessoas que são levadas a um estado emocional pertubador, que acreditam ser Deus agindo nelas. Este estado, porém, não é um estado permanente, mas uma mera excitação nervosa que seria provocada de modo muito similar se estivessem assistindo a um espetáculo não-religioso. O problema, porém, é que para estas pessoas, isso é a Fé, isto é a Religião. A Religião, para elas, resume-se em um estado de espírito agradável, em uma sensação que forçosamente um dia irá passar. Elas tomam uma experiência emocional por uma revelação, e um estado emocional pela graça de Deus.


 Ora, este estado passará. Mais cedo ou mais tarde, coisas desagradáveis virão a ocorrer, e estas pessoas não estarão preparadas para elas. Na vida cotidiana, nos pequenos problemas encontrados ao longo do caminho, elas vão ver obstáculos enormes, e no fim daquela exultação emocional verão o fim de sua “Fé” edificada não sobre Cristo, mas sobre suas emoções passageiras.


 O que é Fé? Fé é crer, é acreditar no que não se vê, em um ato da vontade e do intelecto, não sentir. A Fé não é algo que possa ser sentido, e muitos dos maiores santos nunca, jamais, estiveram qualquer tipo de consolo ou sensação agradável enquanto caminhavam pela Terra. Dizemos no Salve Rainha que somos degredados, chorando neste vale de lágrimas, é na Fé que persiste apesar da ausência total de sensações agradáveis, que está a Cruz, que é nosso caminho. Cristo não veio para nos dar uma vaga “sensação de bem-estar”; este, ao menos segundo o que diz a publicidade, é o ramo dos desodorantes e outros produtos. Cristo veio nos dar a graça de carregarmos com ele nossas cruzes, para um dia, após a morte, estarmos junto a Ele no Céu. Lá, sim, não mais haverá situações desagradáveis.


 Cristo nos deu sua Igreja, que tem a tríplice missão de Ensinar, Santificar e Governar.
O ensino da Igreja é a Doutrina que Cristo ensinou, Doutrina essa que não é “sentida” mas estudada e aprendida pela Razão. De nada adianta fazer trezentos “Encontros” por ano e sentir-se “Feliz” se não buscamos aprender o que Cristo ensinou. Não será pelo nosso estado emocional que poderemos aprender a Doutrina, mas sim pelo estudo do Catecismo.
 

A Santificação ocorre por meio dos Sacramentos, que são sinais visíveis de uma realidade invisível. Esta realidade invisível é a Graça de Deus que eles conferem. A Graça não pode ser vista, não pode ser sentida nem sequer percebida pelas emoções. Receber o Sacramento da Reconciliação após a confissão dos pecados a um Sacerdote não causa nenhum estado emocional preciso, mas nos faz voltar a ter a Graça. É bem verdade que pode haver, e em muitos casos há uma grande alegria por nos vermos livres da inimizade de Deus, que certamente nos valeria o inferno caso morrêssemos neste estado, mas isso não é causado diretamente pelo próprio Sacramento, mas sim pelo reconhecimento que fazemos de nossa situação depois de recebê-lo.

 Do mesmo modo, receber o Santíssimo Sacramento não é tomar um remédio psiquiátrico de tarja preta que faça imediatamente o triste sentir-se cheio de alegria, mas sim receber o sinal visível da Graça de Deus que ele nos infunde e que não pode ser percebida. Ninguém pode ver a Graça, ninguém consegue senti-la ou percebê-la de qualquer forma que seja. Procurar estados emocionais não é de modo algum equivalente a buscar a Graça de Deus, e abandonar a Razão, abdicar de nosso livre-arbítrio (a nossa capacidade de escolher entre duas coisas que parecem boas) em prol apenas da busca de emoções que supostamente seriam sinais visíveis de Deus é rejeitar os Sacramentos que Cristo nos deu e que são necessários para nossa Salvação.


 O Governo da Igreja é feito por sua hierarquia, que transmite a Doutrina, ministra os Sacramentos e governa por suas normas a vida dos Cristãos. A busca de emoções faz com que muitos deixem de obedecer ao que nos ordena o Magistério da Igreja.


Fonte: Prof. Carlos Ramalhete

Como era a igreja primitiva.

É interessante notar como o Protestantismo alega ser o retorno às origens da fé, ao Verdadeiro Cristianismo, enfim o verdadeiro confessor da fé legítima dos Primeiros séculos. Aliás, diga-se de passagem, se existe uma constante entre as religiões não-católicas é a chamada “teoria do resgate”. A imensa maioria delas (a quase totalidade) afirma que o cristianismo primitivo foi puro e limpo de todo erro, mas que, com o tempo, os homens acabaram por perverter a verdade cristã, amontoando sobre ela uma enormidade de enganos.

O verdadeiro cristão, sob este prisma, seria aquele que, superando tais enganos, redescobre o “verdadeiro cristianismo’, com toda a sua pureza e singeleza.

Para estas religiões, o responsável pelos erros que se acumularam no decorrer dos séculos é, quase sempre, o catolicismo. Já a religião que “resgatou a verdade” varia de acordo com o gosto do freguês: luteranismo, calvinismo, pentecostalismo, espiritismo, etc..

De uma certa forma, mesmo as religiões esotéricas, a Teologia da Libertação, a maçonaria e (pasmen!) o próprio islamismo bebe desta “teoria do resgate”.

O motivo do universal acatamento desta “teoria” é o fato de que, para o homem, é muito difícil, diante dos ensinamentos de Jesus Cristo, e da santidade fulgurante dos primeiros cristãos, negar, seja a validade daqueles ensinamentos, seja a beleza desta santidade. Portanto, as pessoas precisam acreditar que, de uma certa forma, se vinculam a Jesus Cristo e às primeiras comunidades cristãs, ainda que não diretamente.

Mas igualmente, é muito difícil para o orgulho humano aceitar que este genuíno cristianismo existe, intocado, dentro do catolicismo. Aceitá-lo, para todos os grupos não católicos, seria aceitar que estão errados e que, muitas vezes, combateram contra o verdadeiro cristianismo. Desta forma, a “teoria do resgate” é a maneira mais fácil para que um não-católico possa considerar-se um “verdadeiro discípulo de Cristo” sem ter que reconhecer os erros e heresias que professa.

O problema básico de todos estes grupos é que existem inúmeros escritos dos cristãos primitivos e, por meio de tais escritos é que alguém, afinal de contas, pode saber em que criam e em que não criam os cristãos primitivos. E estes escritos são uma devastadora bomba a implodir todos os grupos que ousaram a se afastar da barca de Pedro. Eles solenemente atestam que o cristianismo primitivo permanece intacto dentro do catolicismo. Assim (ironia das ironias), os adeptos da “teoria do resgate”, freqüentemente, para defender o que julgam ser a fé dos cristãos primitivos, são obrigados a desconsiderar todo o legado destes primitivos cristãos.

O protestantismo é o mais solene exemplo de tudo o quanto acima dissemos.

Em nosso artigo “Como o protestantismo pode ser um retorno às origens da fé?”, já expusemos como o protestantismo não confessa a fé que os primeiros cristãos confessaram, fé esta que receberam dos Santos Apóstolos. Quem estuda com seriedade as origens da fé e a história da Igreja, insistimos, sabe que a tão referida Igreja Primitiva, é na verdade a Igreja Católica dos primeiros séculos.

Neste presente artigo, gostaríamos de lançar a seguinte pergunta: teria sido o cristianismo primitivo uma união de confissões protestantes ou uma única confissão católica?

Sabemos que o Protestantismo ensina que todos os crentes em Jesus formam a Igreja de Cristo. Desta forma, não interessa se o crente é da Assembléia de Deus, se é Luterano e etc; são crentes em Jesus e fazem parte da Igreja Invisível de Cristo, mesmo confessando doutrinas diferentes. Curiosamente (e este é um paradoxo insuperável desta “eclesiologia” chã e rastaqüera), apenas os católicos é que não fazem parte deste “corpo invisível”, ainda que confessemos que Jesus Cristo é o Senhor do Universo.

O protestantismo, como percebe o leitor, é algo bastante curioso…

Aqui é importante que o leitor não confunda doutrina com disciplina. O fato de na Assembléia de Deus os homens sentarem em lugar distinto das mulheres em suas assembléias, e o fato dos Luteranos não adotarem esta prática, não é divergência de doutrina entre estas confissões, mas de disciplina. A divergência de doutrina nota-se pelo fato dos primeiros não aceitarem o batismo infantil e os segundos aceitarem. Isto é para citar um exemplo.

A doutrina é a Verdade Revelada, é o núcleo da fé, é o que nunca pode mudar. A disciplina é a forma como a doutrina é vivida, e é o que pode mudar, desde que não fira a doutrina.

Uma análise completa de como seria o passado do Cristianismo se ele tivesse sido protestante exigiria a escrita de um livro. Então, neste artigo vamos apenas verificar a questão das resoluções tomadas pela Igreja Primitiva a fim de combater o erro, isto é, as heresias.

Ao longo da história, a Igreja se deparou com sérios problemas doutrinários. Muitos cristãos confessavam algo que não estava de acordo com a fé recebida pelos apóstolos.A primeira heresia que a Igreja teve que combater a fim de conservar a reta fé foi a heresia judaizante.

Os primeiros convertidos á fé Cristã eram Judeus, que criam que a observância da Lei era necessária para a Salvação. Quando os gentios (pagãos) se convertiam a Cristo, eram constrangidos por estes cristãos-judeus a observarem a Lei de Moisés. Os apóstolos se reúnem em Concílio para decidir o que deveria ser feito sobre esta questão.

Em At 15, o NT dá testemunho que os apóstolos acordaram que a Lei não deveria ser mais observada. E escreveram um decreto obrigando toda a Igreja a observar as disposições do Concílio.

Veja-se este Concílio de uma maneira mais pormenorizada. Haviam dois lados muito bem definidos em disputa, cada qual contando com um líder de enorme expressão. O primeiro destes lados era o já citado “partido dos judaizantes”, que tinha, como sua cabeça, ninguém menos do que São Tiago, primo de Jesus Cristo e a quem foi dado o privilégio de ser Bispo da Igreja Mãe de Jerusalém. Contrário a este partido, havia o que advogava que, ao cristão, não se poderia impor a Lei de Moisés, visto que o sacrifício de Jesus Cristo era suficiente e bastante para a salvação de quem crê. Como cabeça deste grupo, estava São Paulo, o mais influente apóstolo de então, a quem Deus havia dado o privilégio de “visitar o terceiro céu”, e de conhecer coisas que, a nenhum outro ser humano, foi dado conhecer.

Dois grupos muito fortes, com líderes extremamente influentes. Realiza-se o Concílio num clima de muita discussão. Estavam em jogo a ortodoxia e a salvação da alma de todos nós. No concílio, foram estabelecidas duas coisas muito importantes, de naturezas diversas.

Em primeiro lugar, São Pedro afirmou que os cristãos não estavam obrigados à observância da lei, definindo um ponto de doutrina imutável e observado por todos os cristãos até hoje (At 15, 7-8). Aliás, a liberdade cristã, vitoriosa neste Concílio, é o ponto de partida de toda a teologia protestante. Não deixa de ser curioso o fato de que este núcleo teológico acatado por todos eles foi definido, solenemente, pelo primeiro Papa, muito embora eles afirmem que o Papa não tem poder para definir coisa alguma…

Pouco depois, São Tiago sugeriu, juntamente com a proibição de uniões ilegítimas, a adoção de normas pastorais (a saber: a abstinência de carne imolada aos ídolos, e de tudo o que por eles estivesse contaminado),o que foi aceito por todos e imposto aos cristãos. Tais normas, hoje não são seguidas. Por que? Nós católicos temos o argumento de que tais normas eram disciplinares e não doutrinárias, e que a Igreja Católica que foi a Igreja de ontem com o tempo as revogou; assim como uma mãe que aplica normas disciplinares a um filho quando é criança e não as utiliza mais quando o filho se torna um adulto.

E qual o argumento dos protestantes por não observarem tais normas. Não deixa de ser curioso o fato de que não existe uma revogação bíblica destas normas, e, portanto, os protestantes (adeptos da “sola scriptura”) deveriam observá-las. No entanto, não as observam. Revogaram-nas por conta própria. E, ainda por cima, nos acusam de “doutrinas antibíblicas”…

Nada mais antibíblico, dentro do tenebroso mundo da “sola scriptura”, do que não seguir as normas de At 15, 19-21…

Bem, prossigamos. Este Concílio, portanto, foi exemplar por três motivos:

a) narra uma intervenção solene de São Pedro, acatada por todos e obedecida até pelos protestantes hodiernos, ilustrando a infalibilidade papal;

b) narra a instituição de uma norma de fé por todo o concílio (qual seja: a abstenção de uniões ilegítimas), igualmente seguida por todos até hoje, o que ilustra a infalibilidade conciliar;

c) narra a instituição de normas pastorais, que se impuseram aos cristãos e que deixaram, com o tempo de serem seguidas, muito embora constem da Bíblia sem jamais terem sido, biblicamente, revogadas (o que, por óbvio, não cabe dentro do “sola scriptura”).

Ao fim do Concílio, portanto, e de uma certa forma, os dois lados estavam profundamente desgostosos. Em primeiro lugar, o grupo dos judaizantes teve que aceitar a tese de São Paulo como sendo ortodoxa. Afinal, São Pedro em pessoa o afirmara e, diante das palavras dele, a opinião de São Tiago não tinha lá grande importância. Como católicos que eram, curvaram-se, assim como o próprio São Tiago se curvou.

Imaginemos se fossem protestantes. Afirmariam que não há base escriturística para a afirmação de São Pedro. Que, sem versículos bíblicos (do cânon de Jerusalém, ainda por cima!), não acatariam aquela solene definição dogmática. Que São Pedro, sendo uma mera “pedrinha”, não tinha poder de ligar e de desligar coisa nenhuma, muito embora Jesus houvesse dito que ele o tinha. Afirmariam, ainda, que todos os cristãos são iguais, e que, portanto, São Tiago era tão confiável quanto São Pedro, pelo que a palavra deste não poderia prevalecer sobre a daquele, principalmente quando todas as Escrituras diziam o contrário.

Por fim, criariam uma nova Igreja. A Igreja do Apóstolo Tiago, verdadeiramente cristã, alheia aos erros do papado desde o princípio.

Imaginemos, agora, o lado dos discípulos de São Paulo. É verdade que sua tese saiu vitoriosa do Concílio, mas, em compensação, tiveram que acatar as normas pastorais de cunho nitidamente judaizante. Como bons católicos que eram, entenderam que a Igreja foi constituída pastora de nossas almas e que, portanto, tais normas eram de cumprimento obrigatório.

Imaginemos, agora, se fossem protestantes. Afirmariam que São Paulo teve uma “experiência pessoal” com Jesus e que, nesta experiência, o Senhor lhe dissera que ninguém deveria se preocupar com o que come ou com o que bebe. Além disto, a experiência cristã é, eminentemente, espiritual e não pode sem conspurcada ou auxiliada por coisas tão baixas como a matéria (muitos protestantes, na mais pura linha gnóstica, têm horror a tudo o que é material). Portanto, este Concílio estava negando a verdade cristã, pelo que não se sentiriam obrigados a coisa alguma nele definida.

Acabariam, finalmente, fundando uma nova Igreja. A “Igreja Em Cristo, Somos Mais do que Livres”, ou “Igreja Deus é Liberdade.”

Este foi o primeiro concílio da Igreja. Realizado por volta do ano 59 d.C., e narrado na Bíblia. Portanto, é “cristianismo primitivo” para protestante nenhum botar defeito!

Neste ponto, perguntamos: os protestantes realizam concílios para resolverem divergências doutrinárias? Sabemos que não. Então, como os protestantes podem avocar um pretenso retorno ao “cristianismo primitivo” se não resolvem suas pendências como os primitivos cristãos? Somente por aí já se percebe que a “teoria do resgate” não passa de uma desculpa de quem, orgulhosamente, não quer aderir à Verdade.

Portanto, se a Igreja Primitiva tivesse sido protestante, como defendem alguns, este concílio não se realizaria. Primeiro que não se incomodariam se alguns cristãos confessam algo diferente, pois para os protestantes, o que importa é a fé em Cristo. A doutrina não importa, o que importa é a fé. Se você tem fé e foi batizado está salvo. Não é assim no protestantismo?

Em segundo lugar, supondo a realização do concílio, como já se viu acima, nem os cristãos judaizantes nem os discípulos de São Paulo não adotariam as disposições do Concílio em sua inteireza. E então não haveria de forma alguma uma só fé na Igreja.

Verificamos que então que a fé primitiva não era protestante, era católica; por isto eles sabiam que deveriam obedecer a Igreja pois criam que Cristo a fundou para os guiar na Verdade (cf. 1Tm 3,15), assim como nós católicos cremos. Tanto é assim que, nos séculos que se seguiram, os “cristãos primitivos” continuaram resolvendo suas pendências doutrinárias segundo o modelo de At 15. Concílios ecumênicos e regionais se sucederam por toda a história da cristandade, sempre acatados e respeitados. Alguns deles (vá entender!) são acatados e respeitados até pelos protestantes.

Depois da heresia judaizante, a ortodoxia (reta doutirna) cristã teve que combater as seguintes heresias: gnosticismo, montanismo, sabelianismo, arianismo, pelagianismo, nestorianismo, monifisismo, iconoclatismo, catarismo, etc. Para saber mais sobre estas heresias ler artigo “Grandes Heresias”. Este mesmo artigo nos mostra como muitas destas heresias se revitalizaram nas seitas protestantes, que, assim, embora aleguem um retorno ao “crsitianismo primitivo”, acabam por encampar doutrinas anematizadas por estes mesmos cristãos primitivos.

Como costumamos dizer, a coerência não é o forte do protestantismo…

O fato é que graças á realização dos Concílios Ecumênicos ou Regionais, graças aos decretos Papais, e à submissão dos primeiros cristãos aos ensinamentos do Magistério da Igreja, é que foi possível que houvesse uma só fé na Igreja antes do século XVI (antes da Reforma). Foi pelo fato da Igreja antiga ser Católica, que as palavras de São Paulo (”uma só fé” cf. Ef 4,5) puderam se cumprir.

Se a Igreja Antiga fosse protestante, simplesmente, o combate às heresias não teria acontecido, e com toda certeza nem saberíamos no que crer hoje. O mundo protestante só não e mais confuso porque recebeu da Igreja Católica a base de sua teologia.

Como ensinou São Paulo: “A Igreja é a Coluna e o Fundamento da Verdade”. Foi assim para os primeiros cristãos e assim continua para nós católicos.

Assim como no passado, continuamos obedecendo aos apóstolos (hoje são os bispos da Igreja, legítimos sucessores dos apóstolos) pois continuamos crendo que Jesus fundou sua Igreja nos ensinar a Verdade através dela.

Se isto foi verdade no passado, necessariamente é verdade agora e continuará sendo sempre.Estude as origens da fé, procure saber sobre os Escritos patrísticos e descubra a Verdade, assim como nós do Veritatis Splendor, que somos ex-protestantes (em sua maioria) descobrimos.Não rotulem, conheçam.”Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Casamento x modernidade.

Veja o que saiu numa resposta dada por Regina Navarro no seu blog:

http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2014/01/11/a-crise-do-casamento/

A questão da semana é o caso da internauta que deseja cancelar o casamento, porque teria que viver numa cidade pequena dos Estados Unidos e não poderia se desenvolver profissionalmente.

Algumas décadas atrás, ela não poderia nem sonhar em tomar uma atitude dessas. A expectativa, principalmente em relação as mulheres, era que os desejos pessoais fossem sacrificados em prol do casal. As mentalidades estão mudando tanto que o casamento está em crise. E isso tem uma história.

Por volta da década de 50 o amor e o casamento caminham juntos, já que a sexualidade continua vinculada à procriação. As mães solteiras são repudiadas, embora já se notem sinais de maior tolerância às relações sexuais antes do casamento, desde que os noivos se amem e pretendam se casar. Mesmo assim a maioria das moças ainda recusa maior intimidade. A reputação delas se apóia em sua capacidade de resistir aos avanços sexuais dos rapazes.

Uma radical modificação dos costumes inicia-se na década de 60, com o advento da pílula anticoncepcional. A mulher reivindica o direito de fazer do seu corpo o que bem quiser e assim a sexualidade se dissocia pela primeira vez da procriação. Já não é mais necessário casar para manter relações sexuais regulares. Multiplicam-se os casais que moram juntos sem assinar contrato.

As vantagens do casamento institucional passam a ser questionadas. Em termos de aceitação social nada acrescenta, pois parentes e amigos já haviam se acostumado à ideia. No plano jurídico, cada vez mais as leis consideram uma coabitação comprovada como tendo os mesmos direitos do casamento.

As perdas parecem ser maiores que os ganhos. Casar soa como abrir mão da liberdade, sacrificar possibilidades pessoais e, em última instância, limitar a pessoa. Acentua-se o temor de que o casamento estrague a relação, que o compromisso transforme o sentimento em hábito e rotina.


“Parece-lhes impossível amar por contrato: prometer afeto não será transformá-lo num dever? Eles querem ser amados pelo que são e não por obrigação. Insistem em preservar a espontaneidade, o frescor, a intensidade da união e alguns creem que a falta de compromisso, a precariedade institucional de sua relação a dois é a garantia mesma de sua qualidade”, diz o historiador francês Philippe Ariès. A relação a dois é um assunto estritamente privado, sendo difícil admitir que uma terceira pessoa estranha, um representante da lei, administre o que há de mais íntimo entre duas pessoas: o afeto e a sexualidade.

Nos anos que se seguem, menos casamentos são celebrados. Em todo o mundo ocidental aumenta o número de solteiros, ao mesmo tempo em que a coabitação resulta cada vez menos em casamento. Estar casado deixa de significar a assinatura de algum documento. São consideradas casadas as pessoas que mantêm uma relação fixa e estável, algumas vezes até morando em casas separadas.

Com todas essas transformações, a família é abalada. Ninguém se lembra mais da época em que muitos colégios recusavam filhos de pais separados. E isso acontecia até poucas décadas atrás. Aquele lar formado por um casal e filhos não é mais a norma. Há um número crescente de famílias com apenas um genitor. Muitas vezes são mães solteiras que decidiram ter e criar seus filhos sozinhas.

São várias as causas da crise do casamento: a crença equivocada de que o amor é a solução para todos os problemas; a relação íntima do amor com o casamento; o aumento da longevidade; a diminuição da religiosidade; os contraceptivos que permitiram a emancipação feminina; a liberação sexual; a aspiração ao individualismo, que caracteriza a modernidade, levando à valorização do eu sobre o nós conjugal.

A auto-realização das potencialidades individuais passa a ter outra importância, colocando a vida conjugal em novos termos. Acredita-se cada vez menos que a união de duas pessoas deva exigir sacrifícios. Observa-se uma tendência a não se desejar mais pagar qualquer preço apenas para ter alguém ao lado. É necessário que o outro enriqueça a relação, acrescente algo novo, possibilite o crescimento individual.

“O homem atual passa por uma nova Renascença — todas as aventuras são desejáveis, continentes novos devem ser descobertos e explorados, navegações por mares estranhos são encorajados, limites devem ser transpostos…desde que para dentro de si mesmo. O novo mundo a ser descoberto é o próprio homem.”, diz a terapeuta Purificacion Barcia Gomes.

O casamento torna-se, então, um pesado fardo, pois dificulta a realização do projeto existencial com suas metas individuais e independentes até das relações pessoais mais íntimas. Surgem conflitos na tentativa de harmonizar a aspiração de individuação com uma vida a dois, mas homens e mulheres, como mostra a atitude da internauta, estão cada vez menos dispostos a sacrificar seus projetos pessoais. Ainda bem. Afinal, o preço cobrado depois pode ser tão alto que inviabilize a própria relação.

http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2014/01/11/a-crise-do-casamento/