domingo, 15 de setembro de 2013

Palmas, dança e euforia na Santa Missa - Para refletir.

Veja esta resposta dada ao leitor no blog:

http://vozdaigreja.blogspot.com.br/2003/05/palmas-danca-e-euforia-na-santa-missa-o.html

A dúvida:
 
“Sou católico fervoroso, mas não consigo entender: se Jesus me fez livre dos pecados no dia da salvação e livre para adorá-lo, porque nao posso adorá-lo com minhas palmas? Qualquer forma de adoração é aceita por Deus, desde que parta do profundo do coração. Isso é ridículo! Davi louvava a Deus das maneiras mais liberais que já se viram! Se Deus criou minhas mãos e me deu capacidade de bate-las porque não posso usar isso como adoração. Eu não posso nem dizer que isso é um atraso, isso é antibíblico! Os salmos falam sobre o louvor com os instrumentos, entre eles de repercussão e com as danças. Portanto Deus gosta do louvor como é o melhor da pessoa.

'Aleluia. Louvai o Senhor em seu santuário, louvai-o em seu majestoso firmamento.
Louvai-o por suas obras maravilhosas, louvai-o por sua majestade infinita.
Louvai-o ao som da trombeta, louvai-o com a lira e a cítara.
Louvai-o com tímpanos e danças, louvai-o com a harpa e a flauta.
Louvai-o com címbalos sonoros, louvai-o com címbalos retumbantes.
Tudo o que respira louve o Senhor!'
Salmos 150:1-6

Se o melhor que a pessoa pode dar é o rap, Ele aceita o rap, se o melhor que a pessoa pode dar é o rock, Ele aceita o rock, se o melhor que a pessoa pode dar é a palma, Ele aceita as palmas,se o melhor da pessoa é a dança, Ele aceita a dança . Ele dá liberdade de adoração, não consigo me conformar com essa ideia de que barulho atrapalha, se Ele criou o barulho ele também gosta do barulho!"

Vejamos a resposta:

Olá, Felipe, a Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!
 
Seu comentário é muito oportuno, porque você conseguiu reunir praticamente todos os argumentos dos que são favoráveis às palmas, danças, batucadas e todo tipo de "inovações" e "modernismos" na Celebração Eucarística. Como é comum à maioria daqueles que compartilham das suas convicções, a paixão e a emoção tomam conta da razão, tanto que, logo no começo do seu comentário, você já chama todos os que não compartilham do seu pensamento de “ridículos”.
 
Então, antes de tudo, peço um pouco mais de calma da sua parte. Peço que respire fundo, suplique pela orientação do Espírito Santo e leia esta nossa resposta inteira. Tenho certeza de que, se fizer isso, você vai compreender a questão. Num primeiro momento você pode se decepcionar, pode optar em permanecer irracionalmente firme nas suas convicções... Mas você vai entender. Bem, como você elencou uma série de argumentos, para organizar o raciocínio e facilitar a compreensão, teremos que responder um por um, em partes. Vamos lá:
 
1) Católicos com o pensamento protestantizado" .

Em primeiro lugar, perceba que o seu pensamento está totalmente “protestantizado”. Infelizmente, o crescimento das seitas pentecostais no Brasil anda levando muitos católicos a assumir determinados princípios 100% protestantes e, muitas vezes, anticatólicos. Muita gente anda, sem querer, caindo nessa sutil armadilha. Você ouve uma afirmação num programa de TV aqui, o seu amigo repete uma outra afirmação ali... E, quando dá pela situação, você também está defendendo aqueles mesmos pontos de vista. Aquele jeito de entender as coisas entrou e instalou-se no seu subconsciente, sem você perceber.
 
É o caso de elevar a Bíblia Sagrada à categoria de "única regra de fé e prática" para o cristão: se algo está escrito na Bíblia vale; se não está escrito na Bíblia, literalmente, não vale. Este é um princípio totalmente protestante e totalmente contrário à Igreja Católica. Poderíamos dizer que é este o único "dogma" das igrejas ditas "evangélicas", e é um dogma completamente contraditório, pois é contrário à própria Bíblia, e que leva incontáveis almas à perdição. Por quê? Porque eu posso pinçar determinadas passagens da Bíblia para legitimar praticamente qualquer coisa, até mesmo os crimes mais hediondos!
 
Veja por exemplo o caso do falso profeta, digo, empresário e autoproclamado "bispo" Edir Macedo, líder e fundador da "igreja universal do reino de deus": ele usa trechos bíblicos para defender o aborto! Para aqueles "evangélicos" de outras denominações que não aceitam tal absurdo, Macedo diz que há "embasamento bíblico" para tal: ele cita o dizer do Senhor Jesus quando sentou-se à mesa com seus discípulos para celebrar a última ceia: “O Filho do Homem vai, como dEle está escrito. Mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Seria melhor para esse homem que jamais tivesse nascido!” (Mateus 26,24)

Sim. De tão absurdo, o argumento torna-se ridículo, e chega a parecer uma piada, mas infelizmente não é. A interpretação do "bispo" (sic) Macedo é de que seria “melhor que Judas tivesse sido abortado”: logo, devemos liberar a lei, para que as mulheres abortem à vontade. Claro que ele não considera o fato de que a Virgem Maria, que por estar grávida sendo solteira, prometida a José, correu risco de vida; naquela cultura,  ela poderia ter sido apedrejada! Agora imaginemos se ela tivesse resolvido também usar o seu "direito de mulher", apelar para essa "responsabilidade social" e abortar Jesus Cristo, o Salvador do mundo!..
Evidentemente, para destruir de uma vez a ideia de que o aborto possa ser defendido por um cristão, usar a Bíblia é ainda mais simples. Basta citar, por exemplo, Êxodo 20,13: "Não matarás". Melhor ainda seria lembrar o que diz o Salmo 139,13-14: "Fostes vós que formastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe. Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso!". Tenho eu o direito de arrancar do ventre da mãe aquela vida humana que, como diz a Bíblia, Deus mesmo formou? E para arrematar a conversa, que tal citar Jeremias 1,5? "Antes que no seio de tua mãe fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações".
 
É um fato indiscutível que a Bíblia pode ser usada por pessoas mal intencionadas ou simplesmente ignorantes. Veja abaixo mais um exemplo do que acontece quando é posta em prática a ideia de que qualquer pessoa pode interpretar a Bíblia e se autoproclamar "pastor(a)", "bispo(a)" ou "apóstolo(a)":

"Gostaria que alguém me 'provasse biblicamente' que um homem não pode ter mais de uma mulher", diz o "pastor". Pois é... Para essas pessoas, tudo precisa ser "provado biblicamente", tudo precisa ter "base bíblica". Mas como é que se prova alguma coisa biblicamente, se todo texto, mesmo que seja um texto sagrado, divinamente inspirado, está sujeito à interpretação humana? Edir Macedo acha que "provou biblicamente" que o aborto é da Vontade de Deus. Um "pastor" num vídeo na internet acha que deveria fazer sexo com a esposa de outro homem porque a Bíblia diz que ele deveria fazê-lo. E se diz prontinho para fazer esse grande sacrifício...
 
Eu poderia encher muitas e muitas páginas com exemplos como esses. Usando a Bíblia, milhares de denominações ditas "evangélicas" espalhadas pelo mundo se contradizem, e cada uma prega uma doutrina completamente diferente da outra. Umas ensinam que o divórcio é lícito, outras dizem que não, umas ensinam que sem o batismo ninguém se salva, outras dizem o contrário, umas pregam a famigerada teologia da prosperidade, outras a condenam com veemência; umas aceitam relações homossexuais, e tem até igreja de "pastores gays", com cerimônia de casamento própria (veja aqui). Por tudo isso é que a Bíblia também afirma claramente: "Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal" (2Pd 1,20).

Estas palavras tão explícitas, diretas, categóricas, deveriam ser pintadas em letras garrafais nas fachadas de todas as "igrejas evangélicas" do mundo: "ANTES DE TUDO, SABEI QUE NENHUMA PROFECIA DA ESCRITURA É DE INTERPRETAÇÃO PESSOAL!" Alguém deveria entrar no meio dos cultos com um megafone na mão, gritando a plenos pulmões: "ANTES DE TUDO, SABEI QUE NENHUMA PROFECIA DA ESCRITURA É DE INTERPRETAÇÃO PESSOAL!"...

Não falo como desrespeito, nem por algum sentimento ruim, mas porque não me conformo com o grau de alienação das pessoas que colocam o Livro (Bíblia) acima do próprio Autor do Livro (a Igreja, que é o Corpo de Cristo, inspirada pelo Espírito Santo).
 
Mas por que estou me demorando tanto nesta questão, demonstrando a facilidade com que se usa a Bíblia para justificar os maiores absurdos teológicos? Porque, sem saber, Felipe, você está seguindo o mesmo caminho. Seguindo a mesma linha de raciocínio, você argumenta que algo que Davi fazia, nós também podemos, e até devemos fazer. Afinal, está na Bíblia... Dizer o contrário é "antibíblico"... Bem, se você é realmente um “católico fervoroso”, como se declara, deveria saber que essa não é e nem nunca foi a postura católica. Nós não nos orientamos exclusivamente naquilo que está literalmente escrito na Bíblia, para saber o que convém e o que não convém, o que é certo e o que é errado. Isso é heresia! Quem começou com essa história foi Lutero, com a sua tese do "livre exame das Escrituras", segundo a qual qualquer pessoa pode ler e interpretar a Bíblia por conta própria, sem a orientação do Magistério da Igreja. O resultado aí está: os falsos profetas fizeram a festa! Sim, reduzir o cristianismo a "religião do livro" gera o caos, e este é um fato que todo católico deve saber de cor.
 
2) Os atos do Rei Davi servem de exemplo para os cristãos?

Além de tudo, se nós fôssemos hoje fazer o que fazia o Rei Davi, como você propõe... Puxa vida! O que seria de nós? Você por acaso já leu o Antigo Testamento? A grande verdade é que a vida de Davi não serve de exemplo para cristão algum, muito pelo contrário. A Bíblia mostra claramente como era a conduta do rei Davi. Entre muitas outras “peripécias”, ele mandou matar Recabe e Baaná, mandou cortar suas mãos e seus pés e pendurar seus corpos sobre um tanque (2Sm 4,12). Ele também matou mais de 40.000 sírios (2Sm 10,18), 22.000 arameus (2Sm 8,5) e 18.000 edomitas no vale do sal (2Sm II 8,13), fazendo dos sobreviventes escravos. Davi mutilava até os cavalos dos seus inimigos, cortando-lhes os tendões (2Sm II 8,4). Davi cobiçou a esposa de Urias, que era seu servo fiel, e adulterou com ela. Depois armou um plano maquiavélico para matar Urias de forma que pudesse ficar com a sua esposa.
 
Tudo isso fez Davi. Será que devemos fazer tudo o que ele fez?

Evidente que tudo o que expus acima se enquadra num contexto muito específico, numa cultura e num tempo histórico completamente diferente do nosso, e que Davi, mesmo errando, pecando, caindo, nunca abandonou Deus, nunca deixou de pedir a Deus, de cantar o Amor divino e confiar nEle. O Antigo Testamento não é como um romance, um livro de histórias para qualquer pessoa ler, sem orientação, sem a correta compreensão dos seus sentidos e significados. Acima de tudo, todos os atos de Davi pertencem a um tempo passado, o tempo da Antiga Aliança. Na história da sua vida podemos ver claramente o desenrolar da aventura humana, com as fraquezas e forças que permeiam a nossa vida, com seus momentos de alegria, de dor, de fidelidade e de queda.

O nome de Davi é citado em vários livros da Bíblia, mas é importante ressaltar que o ponto mais importante da sua história é a profecia de Natã, de que o Trono de Jerusalém sempre seria ocupado por um messias (rei ungido) da família de Davi. Esta profecia teve seu pleno cumprimento em Jesus, o Cristo, Messias Rei dos reis. Os Evangelhos, ao apresentarem Jesus como descendente de Davi, mostram que ele é o Messias esperado, que veio ao mundo para resgatar todos os homens.
 
Mas nada disso muda o fato de que Davi acertou e errou. Insisto, então, na pergunta: Devemos fazer tudo o que ele fez? O fato de a Bíblia citar algum gesto seu serve como atestado de que todo o povo cristão deve fazer o mesmo? A resposta é não.
 
3) A Igreja Católica

O mais importante, para todo católico, é compreender a importância fundamental da Igreja, que segundo a própria Bíblia, “é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o sustentáculo da Verdade” (1Tm 3,15). No sentido bíblico do NT, a Igreja é a Morada e também a Família de Deus (cf. Nm12,7; Hb 3,6; 10,21; 1Pd 4,17), e a fortaleza em que foi depositada e em que se conserva solidamente o Evangelho que salva. Entende isto?

É esta mesma Igreja que você acusa de ser "atrasada" e "antibíblica"! Você diz: “não posso nem dizer que isso é um atraso, isso é antibíblico!”. Então você cita o Salmo 150 para confrontar o Magistério e a Tradição da Igreja. Fica nítido que você se declara católico, mas age como protestante. Daí para dizer que a Bíblia não fala em Papa, não fala na intercessão dos Santos, não fala que Maria é Nossa Senhora... é só mais um passo. De fato, a Bíblia não fala nada disso, pelo menos não literalmente. Mas todos esses fatos estão implícitos na Escritura, para todo aquele que é realmente cristão, e não um mero seguidor da “religião do livro”.

Se o Salmo, segundo o seu ponto de vista, atesta que na Missa vale bater palmas, dançar e tocar todo tipo de instrumentos, eu apresento para você o capítulo 14 da Carta aos Coríntios, que São Paulo Apóstolo encerra dizendo que tudo, no culto a Deus, deve ser feito com decoro e decência (1Cor 14,40).
 
Não preciso dizer que a passagem que eu citei é infinitamente mais adequada para o assunto que estamos discutindo do que o Salmo, pois os salmos foram produzidos muitos séculos antes de Cristo (alguns deles são provavelmente anteriores a 1700 aC), num determinado contexto histórico, por uma cultura específica e para um povo de características muito próprias. Já a carta de São Paulo ambienta-se na realidade do cristianismo nascente, trata especificamente das reuniões da Igreja, das práticas, do culto a Deus e dos carismas de uma comunidade cristã.
 
Como mostrei antes, se você apresenta um passagem da Bíblia para me provar uma coisa, eu sempre posso apresentar uma outra para provar o contrário. Portanto, não é baseado exclusivamente num trecho da Bíblia que nos posicionamos contra as palmas, danças, batucadas e "invencionices" na Santa Missa. É porque a Igreja, Corpo de Cristo, Esposa do Espírito Santo, Coluna e Sustentáculo da Verdade, autora e doadora da Bíblia Sagrada Cristã e fiel depositária das Verdades do Evangelho, assim nos orienta.

4) A Santa Missa: Renovação do Sacrifício do Calvário

Da mesma maneira a Bíblia não diz, ipsis literis, isto é, não diz literalmente, que a Missa deve ser celebrada com respeito, embora o faça implicitamente. Mas a Igreja diz literalmente o que é óbvio, já que a Celebração Eucarística é a Renovação do Sacrifício de Nosso Senhor, e isso não é a nossa opinião, mas está na própria Escritura e em todos os documentos oficiais da Igreja a esse respeito: "Todas as vezes que comerdes deste Pão e beberdes deste Cálice, anunciareis a Morte do Senhor, até que Ele venha" (I Cor 11, 26).

O novo Missal Romano de João Paulo II declara: "A doutrina sacrifical da Missa, solenemente afirmada pelo Concílio de Trento, de acordo com toda a Tradição da Igreja, foi professada de novo pelo Concílio Vaticano II, que emitiu, a respeito da Missa, estas palavras significativas: 'Nosso Salvador, na última Ceia (...) instituiu o Sacrifício Eucarístico de seu Corpo e de seu Sangue para perpetuar o Sacrifício da Cruz ao longo dos séculos, até que ele venha e, além disso, para confiar à Igreja, sua esposa bem amada, o memorial de sua Morte e Ressurreição'.".

"A regra de oração (Lex Orandi) da Igreja corresponde à sua constante regra de Fé (Lex Credendi); esta nos adverte que há identidade entre o Sacrifício da Cruz e sua Renovação Sacramental na Missa que Cristo Senhor instituiu na última ceia, e que ele ordenou a seus Apóstolos de fazer em sua memória; e que, por consequência, a Missa é sempre conjuntamente um Sacrifício de louvor, de ação de graças, de propiciação e de satisfação." (Apresentação Geral do Missal Romano de João Paulo II nº 2).

A Missa é o Sacrifício de Jesus na Cruz! Eis a questão. Você está vendo a Missa como uma "festinha", um encontro de irmãos para louvar o Senhor, e nada mais. Esta sua compreensão está completamente equivocada, e você precisa rever isso com urgência!

A Missa é a renovação incruenta da morte horrenda que Nosso Senhor enfrentou por amor a todos nós! Agora me responda: como é que eu posso me portar respeitosamente diante da Celebração deste tão grande Sacrifício batendo palmas, dançando, berrando, batucando, seguindo coreografias ao som de instrumentos como guitarras e baterias tocadas no volume máximo?

Você sabe o que é um diálogo? É uma troca de mensagens entre duas pessoas. Por isso é que se chama diálogo: eu falo e escuto. Quando o meu interlocutor sabe mais do que eu, quando ele é maior do que eu intelectualmente ou espiritualmente, o ideal é que eu fale menos e escute mais, porque é ele quem tem mais a me dizer. Se eu falo o tempo todo, se só eu me expresso e não faço uma pausa, não faço silêncio para ouvir o que meu interlocutor tem a me dizer, eu apenas desabafo, "jogo para fora" meus pensamentos, fantasias e ansiedades, mas não aprendo nada, não cresço nada, não ganho nada.

Na Missa, o diálogo é com Deus. Imagine estar diante de Deus e não fazer silêncio para ouvir a Mensagem divina, mas ficar o tempo todo pulando e cantando, só eu sendo o centro de mim mesmo, não dando espaço nem tempo para o Criador. Que desperdício... Que tolice!
 
5) Há espaço e tempo para tudo na relação com Deus

Até agora eu banquei o "chato". Fui crítico e pareci "azedo": você deve estar me imaginando como um velho amargo, eu sei. Você deve ser um jovem cheio de sonhos, cheio de energia e vontade de gritar bem alto o seu amor a Deus, a sua vontade de encontrá-lo, de estar perto dEle, de receber a sua Graça... Você quer a vida eterna e quer ser feliz agora, já! Você acha cansativa a celebração da Santa Missa à maneira tradicional, você vê aquela seriedade toda  como uma coisa antiga, ultrapassada... Como você disse, "um atraso". Por quê não se expressar com alegria, com júbilo, livremente?

A última parte da sua mensagem é especialmente interessante: "Se o melhor que a pessoa pode dar é o rap, Ele (Deus) aceita o rap, se o melhor que a pessoa pode dar é o rock, Ele aceita o rock, se o melhor que a pessoa pode dar é palmas, Ele aceita as palmas, se o melhor da pessoa é a dança, Ele aceita a dança. Não consigo me conformar com essa ideia de que barulho atrapalha. Deus criou o barulho, Ele também gosta do barulho"...

Bem, Deus criou todas as coisas boas, mas para tudo há um momento certo. Deus criou o sexo, que por certo é uma coisa boa; tão boa que é por meio dele que realizamos a continuação da humanidade. Mas Deus também determinou que nós não devemos fazer sexo com qualquer pessoa, não é? Existem certas condições para usufruirmos desta grande benção divina. Mesmo o sexo sendo criação de Deus, nós não vamos fazer sexo na igreja. Ou será que você acha que Deus aceitaria isso, também?

Deus criou a música, mas é fácil perceber que nem todas as músicas são adequadas no culto a Deus. Nem todo tipo de música se enquadra naquilo que a Bíblia e a Igreja recomendam: que o culto a Deus seja prestado, como disse o Apóstolo São Paulo, com decoro e decência.

Vejamos o ritmo que a juventude do Brasil (lamentavelmente) elegeu como favorito nos dias atuais: o famigerado funk carioca. Já para começar a discutir, precisamos reconhecer que é no mínimo controverso chamar aquilo de música. Bach, Mozart e Beethoven devem tremer no túmulo cada vez que se fala que o funk é música...

Brincadeiras à parte, não estou questionando esse... hã... ritmo enquanto expressão cultural. Mas aqueles que gostam, nem que seja por puro bom senso, precisam reconhecer que esse tipo de barulho não se presta ao louvor a Deus.

Para louvar a Deus precisamos de um tipo de música que facilite a contemplação, a elevação da alma, a oração, o amor puro e santo. Aí você poderá me responder: "mas eu consigo elevar o pensamento a Deus ouvindo funk, rap ou forró". E aí eu lhe respondo: se você consegue fazer isso, ótimo, mas você tem a obrigação cristã de compreender que nem todos tem essa mesma capacidade. Posso lhe garantir que a maioria dos seres humanos se relaciona melhor com Deus com um tipo de música mais calma, introspectiva. A igreja do Mosteiro de São Bento de São Paulo, todos os domingos, fica lotada de pessoas que vem de muito longe, que se dispõem, em pleno domingo, a ir até o centro para ver a Missa celebrada na forma tradicional, com o canto gregoriano, que é sagrado, que tem uma longa história, que foi apreciado por praticamente todos os santos e santas que conhecemos.

A ciência diz que, biologicamente, nenhum ser humano saudável é capaz de permanecer indiferente a qualquer tipo de música, sabia disso? Por causa disso, quem gosta de "barulho", como você diz, deve no mínimo ter consideração e respeitar os que não gostam, os que se incomodam. A Missa não é momento para ninguém impor seus gostos pessoais sobre as outras pessoas, mas sim de comunhão, de fraternidade, de compartilharem todos de um mesmo sentimento. E esse sentimento é de adoração, de respeito profundo. Determinados tipos de música, por si mesmos, são inadequados para a Celebração Eucarística, porque levam o espírito humano a um estado que não é compatível com o seu significado e o seu sentido. O forró pode ser muito bom para quem gosta, seja numa festa junina, num baile, numa situação específica. O mesmo vale para o sertanejo, o samba, o rock, o rap... Não afirmo que só serve o canto gregoriano, mas sim que a música na Missa precisa ser litúrgica, e na música litúrgica não vale tudo; ela tem características próprias.

Então, não é que você não possa se expressar ou se alegrar na Missa. Mas você precisa se adaptar ao que ela é, ao que ela sempre foi. Se a Igreja é santa, e ela sempre celebrou assim, então é preciso saber respeitar isso. A Igreja não segue os modismos do mundo; ela está acima do mundo. Quando você entra na Igreja, deve deixar o mundo para trás, esquecer de si mesmo e buscar o Céu. O Santo Sacrifício não é um show, uma reunião social, uma festa de confraternização. Seja humilde, deixe seus gostos e preferências pessoais de fora e adapte-se à santidade e a reverência deste momento, e aí você compreenderá.

Finalizando esta longa reflexão, esclareço que existe uma solução muito simples e muito fácil para conciliar o jeito de ser deste povo brasileiro, tão alegre e expansivo, com a sacralidade da Celebração Eucarística: se você gosta de se expressar com louvores gritados, música agitada, tocada com instrumentos no volume máximo e liberdade de expressão total... Procure um grupo de oração da Renovação Carismática Católica (RCC). Ali você poderá se expressar, dar vazão à toda essa energia da juventude que lhe sobra. Mas não deixe de ir à Missa, - compreendendo que aquela é uma outra realidade, completamente diferente. - Assim é que se resolvem esses conflitos.

Os problemas começam quando tentam-se impor os usos e costumes dos grupos de oração carismáticos na celebração da Santa Missa. Num primeiro momento, lideranças da RCC tentavam por força incorporar seus costumes à Celebração Eucarística; nos últimos tempos, graças a Deus, pouco a pouco muitos deles vêm compreendendo o quanto é importante saber observar as diferenças.

 6) Resumo de tudo o que foi dito
 
a) A Sola Scriptura, doutrina segundo a qual a Bíblia é a única regra de fé e prática para o cristão, é totalmente antibíblica e anticatólica. Nenhum católico pode justificar pontos de vista contrários à doutrina da Igreja usando de passagens bíblicas isoladas, interpretadas de modo particular.
 
b) Logo, não é porque algum personagem bíblico fez ou disse alguma coisa, que isso sirva de regra para quem quer que seja.
 
c) A Igreja é o Corpo Místico de Cristo, do qual o Senhor mesmo é a Cabeça. A Igreja é a Esposa do Espírito Santo, é a Coluna e o Sustentáculo da Verdade, e a própria Escritura atesta todas estas verdades. A Igreja é a autora e a doadora da Bíblia Sagrada Cristã e fiel depositária das Verdades do Evangelho; assim nos conduz e orienta no Caminho, que é Cristo. É pela Igreja que recebemos a salvação e o Espírito Santo, por meio dos Sacramentos que ela nos ministra. Todo católico tem a Santa Igreja por mãe e mestra, pois a sua orientação é sempre segura, independentemente dos erros de padres, bispos ou mesmo de papas, sujeitos ao erro (o papa só é infalível quando se pronuncia nas condições Ex-cathedra.- veja aqui).

d) A Santa Missa não é somente um encontro de irmãos para louvar a Deus. É infinitamente mais do que isso; a Celebração Eucarística é a Renovação do Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz do Calvário. Por isso é que nesse momento não cabem palmas, danças, músicas excessivamente alegres, dançantes, nem gestos de euforia.
 
e) Se eu me sinto bem pulando, berrando e dançando no louvor a Deus, em primeiro lugar preciso ter consciência de que a Missa não é lugar para isso, nem que seja por respeito aos meus irmãos que não compartilham das mesmas preferências. Para esse tipo de expressão, existem os grupos de oração da RCC.

Os dogmas da Igreja Católica.

Os dogmas :

Retirado do blog: http://vozdaigreja.blogspot.com.br/2003/08/os-dogmas-da-igreja-catolica.html
Para a Igreja Católica, dogma é uma verdade de fé revelada por Deus. Logo, o dogma é imutável e definitivo. Não pode ser mudado nem revogado, pois Deus, sendo Perfeito e Eterno, não está sujeito à mudança. O SENHOR é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb 13,8).
 
Uma Verdade divinamente revelada só pode ser considerada dogma quando proposta diretamente à fé cristã católica, através de uma definição solene (clarificação), portanto infalível, do Magistério da Igreja. Para que tal aconteça, são necessárias duas condições:
 
a) O sentido deve ser suficientemente manifestado como sendo uma autêntica verdade revelada por Deus;
b) Essa verdade ou doutrina deve ser proposta e definida solenemente pela Igreja como sendo uma verdade revelada e uma parte integrante da fé católica.

São quarenta e três (43) os dogmas proclamados pela Igreja Católica, que os divide em 8 categorias diferentes:
 
1. Dogmas sobre Deus;
2. Dogmas sobre Jesus Cristo;
3. Dogmas sobre a criação do mundo;
4. Dogmas sobre o ser humano;
5. Dogmas marianos;
6. Dogmas sobre o Papa e a Igreja;
7. Dogmas sobre os Sacramentos;
8. Dogmas sobre as últimas coisas (Escatologia).
Apresentamos abaixo a lista de todos os dogmas, com sua breve descrição, organizados em suas respectivas categorias:

Dogmas sobre Deus:
 
1- A Existência de Deus
 
A ideia de Deus não é inerente em nós, já que transcende a natureza humana, mas nós temos a capacidade para conhecê-Lo, e de certo modo espontaneamente, por meio de sua obra. O ser humano pode saber que Deus existe, por exemplo, mediante a observação atenta do universo natural.
 
2- A Existência de Deus como Objeto de Fé
 
A existência de Deus, porém, não é apenas objeto do conhecimento da razão natural, mas também (e principalmente) é objeto da fé sobrenatural.

3- A Unidade de Deus

Não existe mais que um único Deus.
 
4- Deus é Eterno
 
Deus não tem princípio nem fim, está além do espaço e do tempo como somos capazes de conhecê-los.
 
5- Santíssima Trindade
 
No Deus Uno há três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Cada uma possui a Essência Divina que é imutável e sempre a mesma.
 
Dogmas sobre Jesus Cristo:
 
6- Jesus Cristo é verdadeiro Deus e Filho de Deus por essência
 
O Cristo possui a infinita Natureza Divina com todas suas infinitas perfeições, por haver sido gerado eternamente por Deus.
 
7- Jesus possui duas naturezas que não se transformam nem se misturam ou confundem
 
Declara o Concílio de Calcedônia (451, IV): "Nosso Senhor Jesus Cristo, Ele mesmo perfeito na divindade e Ele mesmo perfeito na humanidade (...) que se há de reconhecer em duas naturezas: sem confusão, sem mudanças, sem divisão, sem separação e de modo algum apagada a diferença de natureza por causa da união, conservando cada natureza sua propriedade e concorrendo em uma só Pessoa" (Dz. 148).

Conforme as Sagradas Escrituras: "O Verbo se fez carne..." (Jo 1,14). / "...o qual, sendo de condição divina, não reteve avidamente o fato de ser igual a Deus, mas se despojou de si mesmo, tomando a condição de servo, fazendo-se semelhante aos homens e aparecendo em seu porte como homem." (Fil 2,6-7).

Vemos então que Cristo é possuidor de uma íntegra natureza divina e de uma íntegra natureza humana: a prova está nos seus milagres, na sua Ressurreição, em suas dores e no seu padecimento.
 
8- Cada uma das Naturezas em Cristo possui uma própria vontade física e uma própria operação física

Declara o III Concílio de Constantinopla (680-681): "Proclamamos, conforme os ensinamentos dos Santos Padres, que não existem duas vontades físicas e duas operações físicas de modo indivisível, de modo que não seja conversível, de modo inseparável e de modo não confuso. E estas duas vontades físicas não se opõem uma à outra como afirmam os ímpios hereges..." (Dz. 291 e Dz. 263-288).

Deus Filho diz a Deus Pai diz nas Sagradas Escrituras: "Não seja como Eu quero, mas sim como Tu queres." (Mt 26,39). / "Não seja feita a minha vontade, mas sim a Tua." (Lc 22,42). Diz ainda aos discípulos: "Desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas sim a vontade de Quem me enviou" (Jn. 6,38). / "Ninguém me tira a Vida, Eu a doei voluntariamente: tenho o poder para concedê-la e o poder de recobrá-la novamente." (Jo 10,18).

Apesar da dualidade física das duas vontades, existiu e existe a unidade moral, porque a vontade humana de Cristo se conforma com a livre subordinação, de maneira perfeitíssima à vontade Divina.
 
9- Jesus Cristo, ainda que homem, é Filho natural de Deus
 
“Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” (Missal Romano, Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, 2ª Leitura - Gl 4, 4-5).
 
10- Cristo imolou-se a si mesmo na cruz como verdadeiro e próprio Sacrifício
 
No inefável Mistério, Cristo, por sua natureza humana, era ao mesmo tempo Sacerdote e Oferenda, mas por sua Natureza Divina, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, era o Mesmo que recebia o Sacrifício.
 
11- Cristo nos resgatou e reconciliou com Deus por meio do Sacrifício de sua morte na cruz
 
Jesus Cristo quis oferecer-se a si mesmo a Deus Pai, como Sacrifício apresentado sobre a ara da cruz em sua Morte, para obter-no o Perdão eterno.
 
12- Ao terceiro dia depois de sua Morte, Cristo ressuscitou glorioso dentre os mortos

Ao terceiro dia, ressuscitado por sua própria Virtude, levantou-se do sepulcro.

13- Cristo subiu em corpo e alma aos Céus e está sentado à direta de Deus Pai
 
Ressuscitou dentre os mortos e subiu ao Céu em Corpo e Alma.

Dogmas sobre a criação do mundo:
 
14- Tudo o que existe foi criado por Deus a partir do Nada
 
A criação do mundo, a partir do nada, não apenas é uma verdade fundamental da revelação cristã, mas ao mesmo tempo chega a alcançá-la a razão com apenas suas forças naturais, baseando-se nos argumentos cosmológicos, no argumento da Causa Primeira e no argumento da contingência.
 
15- Caráter temporal do mundo

O mundo teve princípio no tempo, pois o Infinito é capaz de criar o finito, o Eterno é capaz de dar existência ao temporal.

16- Conservação do mundo

Deus conserva na existência a todas as coisas criadas.
 
Dogmas sobre o ser humano:
 
17- O homem é formado por corpo material e alma espiritual
 
Este dogma foi afirmado no IV Concílio de Latrão (1215), sob Inocêncio III (1198-1216) e no Concílio Vaticano I (1869-70), sob Pio IX (1846-78). Segundo a doutrina da Igreja, o corpo é parte essencialmente constituinte da natureza humana, e não carga e estorvo como disseram certos hereges. Igualmente, para defender o dogma católico contra os que dizem que consta de três partes essenciais: corpo, alma animal e alma espiritual, o Concílio de Constantinopla declarou: "que o homem tem apenas uma alma racional e intelectual" (Dz. 338). A alma espiritual é o princípio da vida espiritual e ao mesmo tempo o é da vida animal (vegetativa e sensitiva) (Dz. 1655).

Declaram as Sagradas Escrituras: "O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em seu rosto o alento da vida" (Gn 2,7). / "Antes que o pó volte à terra de onde saiu, e o espírito retorne a Deus..." (Ecl 12,7). / "Não tenhais medo dos que matam o corpo, e à alma não podem matar; temeis muito mais àquele que pode destruir o corpo e a alma na geena." (Mt 10,28).

Provas-se especulativamente a unicidade da alma no homem por testemunho da própria consciência, pela qual entendemos que o mesmo Eu, que é o princípio da atividade espiritual, é o mesmo que gere a sensibilidade e a vida vegetativa.

18- O pecado de Adão se propaga a todos seus descendentes por geração, não por imitação
 
O Pecado, que é morte da alma, se propaga de Adão a todos seus descendentes por geração, e não por imitação, sendo inerente a cada indivíduo.
 
19- O homem caído não pode redimir-se a si próprio
 
Somente um ato livre por parte do Amor Divino poderia restaurar a ordem sobrenatural, destruída pelo Pecado. O crime contra Deus, que é infinitamente Grande, Justo e Perfeito, é infinitamente grave. Só poderia ser resgatado mediante um Sacrifício infinitamente meritório e reparador, do qual nós não seríamos capazes.
 
Dogmas marianos:
 
20- Imaculada Conceição e Virgindade Perpétua de Maria
 
A Santíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, foi, por singular Graça e Privilégio de Deus Onipotente, em previsão dos Méritos de Cristo Jesus, Salvador do gênero humano, preservada imune de toda mancha de culpa original. Assim era preciso que a Mãe do Senhor, o Tabernáculo da Nova e Eterna Aliança, fosse imaculada, assim como era intocável e feita do ouro mais puro a Arca da Antiga Aliança.

A doutrina da virgindade perpétua de Maria expressa a "real e perpétua virgindade de Maria mesmo no ato de dar à luz a Jesus, o Filho de Deus feito homem". Maria permaneceu sempre virgem (em grego: ἀειπαρθένος - aeiparthenos), fazendo de Jesus seu único Filho, cuja Concepção e Nascimento são milagrosos. Já no século IV, a doutrina era amplamente apoiada pelos Padres da Igreja e, no sétimo, foi afirmada num conjunto de concílios ecumênicos. Este é um ensinamento católico, anglocatólico, ortodoxo e ortodoxo oriental, como se comprova em suas Liturgias, nas quais repetidamente se faz referência à Maria como "sempre virgem". Alguns dos primeiros reformadores protestantes apoiavam também esta a doutrina, e figuras importantes do anglicanismo, como Hugo Latimer e Thomas Cranmer "seguiam a tradição que herdaram aceitando Maria como 'sempre virgem'" (BRADSHAW, Timothy. Commentary and Study Guide on the Seattle Statement Mary: Hope and Grace in Christ of the Anglican – Roman Catholic International Commission, 2005). A virgindade perpétua é atualmente defendida por teólogos anglicanos e luteranos.

21- Maria, Mãe de Deus

Maria gerou a Cristo segundo a natureza humana, mas quem dela nasce transcende a natureza humana. O Filho de Maria é propriamente o Verbo Divino, encarnado em natureza humana. Maria, então, é necessariamente mãe de Deus, posto que Jesus, o Verbo, é Deus: Cristo, sendo inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, faz de Maria verdadeira mãe de Deus, por não haver separação entre as naturezas humana e divina no Senhor.

22- A Assunção de Maria
 
A Virgem Maria foi assunta ao Céu imediatamente depois que acabou sua vida terrena; seu corpo não sofreu nenhuma corrupção como sucederá com todos os homens que ressuscitarão até o final dos tempos, passando pela descomposição. A Assunção de Nossa Senhora foi transmitida pela tradição escrita e oral da Igreja. Não se encontra explicitamente na Sagrada Escritura, mas está implícita. O fato histórico, segundo relatos dos primeiros cristãos e transmitido pelos séculos de forma inconteste, dá conta de que, na ocasião de Pentecostes, Maria Santíssima tinha mais ou menos 47 anos de idade. Depois desse fato, permaneceu ela ainda 25 anos na Terra, para educar e formar, por assim dizer, a Igreja nascente, como outrora educara e protegera Deus Filho em sua infância. Terminou sua missão neste mundo com a idade de 72 anos, conforme a opinião mais comum.

Diversos Santos Padres da Igreja atestam que os Apóstolos foram milagrosamente levados para Jerusalém na noite que precedera o desenlace da Bem-aventurada Virgem Maria. S. João Damasceno, um dos mais ilustres doutores da Igreja Oriental, refere que os fiéis de Jerusalém, ao terem notícia do falecimento de sua Mãe querida, como a chamavam, vieram em multidão prestar-lhe as últimas homenagens, e que logo se multiplicaram os milagres em redor de seu corpo. Três dias depois chegou o Apóstolo S. Tomé, que pediu para ver o corpo de Nossa Senhora. Ao retirar-se a pedra, o corpo já não mais se encontrava. Como o seu Filho e pela Virtude de seu Filho, a Virgem Santa ressuscitara ao terceiro dia. Os anjos retiraram o seu corpo imaculado e o transportaram ao Céu, onde ela vive na Glória inefável. Estas antigas tradições da Igreja sobre o mistério da Assunção da Mãe de Deus, encontradas nos escritos dos Santos Padres e Doutores da Igreja dos primeiros séculos, e relatadas no Concílio geral de Calcedônia, em 451.

Dogmas sobre o Papa e a Igreja:

23-A Igreja foi fundada pelo Deus e Homem, Jesus Cristo
 
Cristo fundou a Igreja; Ele estabeleceu os fundamentos substanciais da mesma, no tocante a doutrina, culto e constituição.

Atestam as Sagradas Escrituras atestam o que Jesus declarou a S. Pedro: "Bem aventurado és tu, Simão filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelaram (que Eu sou o Cristo), mas meu Pai que está nos Céus. Também Eu te declaro que és Pedra (aramaico: Kepha = Rocha), e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu de darei as Chaves do Reino dos Céus e o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e o que desligares na Terra será desligado nos Céus." (Mt 16,17-19).
 
24- Cristo constituiu o Apóstolo São Pedro como primeiro entre os Apóstolos e como cabeça visível de toda Igreja, conferindo-lhe imediata e pessoalmente o primado da jurisdição

O Romano Pontífice é o sucessor do bem-aventurado Pedro e tem o primado terreno sobre todo o rebanho do Senhor, que é a Igreja.

Este fato é atestado claramente, repetidas vezes, pelas Sagradas Escrituras:

* "Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: 'Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes?' Respondeu ele: 'Sim, Senhor, tu sabes que te amo'. Disse-lhe Jesus: 'Apascenta os meus cordeiros'. Perguntou-lhe outra vez: 'Simão, filho de Jonas, amas-me?' Respondeu-lhe: 'Sim, Senhor, tu sabes que te amo'. Disse-lhe Jesus: 'Apascenta os meus cordeiros'. Perguntou-lhe pela terceira vez: 'Simão, filho de João, amas-me?' Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: 'Amas-me?', e respondeu-lhe: 'Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo'. Disse-lhe Jesus: 'Apascenta as minhas ovelhas'.” (João 21,15-17)

** “Irmãos, sabeis que há muito tempo Deus me escolheu dentre vós (Apóstolos), para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho. ”, declara solenemente o próprio S. Pedro (At 15,7).

*** Diz o Senhor especialmente e somente a S. Pedro: “Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, confirma os teus irmãos.” (Lc 22, 31-32)

25- O Papa possui o pleno e supremo poder de jurisdição sobre toda Igreja, não somente em coisas de fé e costumes, mas também na disciplina e governo da Igreja
 
Conforme esta declaração, o poder do Papa é: de jurisdição, universal, supremo, pleno,ordinário, episcopal, imediato.
26- O Papa é infalível quando se pronuncia ex catedra

Para compreender este dogma, convém ter na lembrança: sujeito da infalibilidade papal é todo Papa legítimo, em sua qualidade de sucessor de Pedro. O objeto da infalibilidade são as verdades de fé e os costumes, reveladas ou em íntima conexão com a Revelação Divina. A condição da infalibilidade é que o Papa fale ex catedra, isto é:
 
- Que fale como pastor e mestre de todos os fiéis fazendo uso de sua suprema autoridade.
 
- Que tenha a intenção de definir alguma doutrina de fé ou costume para que seja acreditada por todos os fiéis. As encíclicas pontificais não são definições ex catedra.
 
A razão da infalibilidade é a assistência sobrenatural do Espírito Santo, que preserva o supremo mestre da Igreja de todo erro, conforme a Promessa de Cristo ('Eis que estou convosco até o fim do mundo' - Mt 28,20). A consequência da infalibilidade é que as definições ex catedra dos Papas sejam por si mesmas irreformáveis, sem a possibilidade de intervenção posterior de qualquer autoridade, mesmo que seja outro Papa.

27- A Igreja é infalível quando faz definição em matéria de fé e costumes
 
Estão sujeitos à infalibilidade:
- O Papa, quando fala ex catedra;
- O episcopado pleno, com o Papa, que é a cabeça do episcopado, é infalível quando, reunido em concílio ecumênico ou disperso pelo rebanho da Terra, ensina e promove uma verdade de fé ou de costumes para que todos os fiéis a sustentem.

Dogmas sobre os Sacramentos:

28- O Batismo é verdadeiro Sacramento instituído por Jesus Cristo

Atestam as Sagradas Escrituras: "Jesus lhes disse: 'Toda autoridade me foi dada no Céu e na Terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo'.”.

29- A Confirmação é verdadeiro e próprio Sacramento
 
Este Sacramento concede aos batizados a Fortaleza do Espírito Santo para que se consolidem interiormente em sua vida sobrenatural e confessem exteriormente com valentia sua fé em Jesus Cristo.
 
30- A Igreja recebeu de Cristo o poder de perdoar os pecados cometidos após o Batismo
 
Foi comunicada aos Apóstolos e a seus legítimos sucessores o poder de perdoar e de reter os pecados para reconciliar aos fiéis caídos depois do Batismo. Cristo, que pode perdoar os pecados, deu à sua Igreja o poder de perdoá-los em seu Nome: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados; aqueles aos quais os retiverdes (não perdoardes), serão retidos” (Jo 20, 22ss).

31- A Confissão Sacramental dos pecados está prescrita por Direito Divino e é necessária para a salvação

Basta indicar a culpa da consciência apenas aos sacerdotes mediante confissão secreta.
 
32- A Eucaristia é verdadeiro Sacramento instituído por Cristo
 
Atestam as Sagradas Escrituras:

"Eu sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. E o Pão que eu hei de dar é a minha Carne, para a salvação do mundo." (Jo 6,51)

"Quem se alimenta da minha Carne e bebe do meu Sangue permanece em Mim, e Eu nele." (Jo 6, 56-57)

"Pois a minha Carne é verdadeiramente comida e o meu Sangue é verdadeiramente bebida." (Jo 6,55)

"O Cálice que tomamos não é a Comunhão com o Sangue de Cristo? O Pão (...) não é a Comunhão com o Corpo de Cristo?" (I Cor 10,16)

"Cada um se examine antes de comer desse Pão e beber desse Cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação." (I Cor 11,28-30).
 
33- Cristo está presente no Sacramento do Altar pela Transubstanciação de toda a substância do pão em seu Corpo e toda substância do vinho em seu sangue

Transubstanciação é uma conversão no sentido passivo; é o trânsito de uma coisa a outra. Cessam as substâncias de Pão e Vinho, pois sucedem em seus lugares o Corpo e o Sangue de Cristo. A Transubstanciação é uma conversão milagrosa e singular diferente das conversões naturais, porque não apenas a matéria como também a forma do pão e do vinho são convertidas; apenas os acidentes permanecem sem mudar: continuamos vendo o pão e o vinho, mas substancialmente já não o são, porque neles está realmente o Corpo, o Sangue, Alma e Divindade de Cristo.

34- A Unção dos enfermos é verdadeiro e próprio Sacramento instituído por Cristo
 
“Está alguém enfermo entre vós? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor.” (Tg 5,14)

35- A Ordem é verdadeiro e próprio Sacramento instituído por Cristo
 
Existe uma hierarquia instituída por ordenação Divina, que consta de Bispos, Presbíteros e Diáconos. As Sagradas Escrituras o atestam em Fl 1,1.
 
36- O matrimônio é verdadeiro e próprio Sacramento

Cristo restaurou o Matrimônio instituído e bendito por Deus, fazendo que recobrasse seu primitivo ideal da unidade e indissolubilidade e elevando-o a dignidade de Sacramento.

Dogmas sobre as últimas coisas:

37-A Morte e sua origem
 
A morte é consequência do pecado primitivo. O relato bíblico da Queda (Gn 3) utiliza uma linguagem feita de imagens, mas afirma um acontecimento primordial, um fato que ocorreu no início da história do homem. A Revelação dá-nos a certeza de fé de que toda a história humana está marcada pelo pecado original cometido livremente por nossos primeiros pais, trazendo como consequência a morte. "Porque o salário do pecado é a morte, mas o Dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 6,23).
 
38- O Céu (Paraíso)

As almas dos justos, que no instante da morte se acham livres de toda culpa e pena de pecado, entram no Céu.
 
39- O Inferno
 
As almas dos que morrem em estado de pecado mortal vão ao inferno.
 
40- O Purgatório

As almas dos justos que no instante da morte estão agravadas por pecados veniais ou por penas temporais devidas pelo pecado vão ao Purgatório. O Purgatório é estado de purificação.

41- O Fim do mundo e a Segunda vinda de Cristo
 
No fim do mundo, Cristo, rodeado de Majestade, virá de novo para julgar os homens.

 42- A Ressurreição dos Mortos no Último Dia
 
Aos que crêem em Jesus e comem de seu Corpo e bebem de seu Sangue, Ele lhes promete a ressurreição.
 
43- O Juízo Universal

Cristo, depois de seu retorno, julgará a todos os homens.

Qual o valor do tomismo hoje?

O tomismo hoje.

Por Prof. Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Outro dia um aluno do curso de filosofia perguntou-me se a ciência moderna anulava ou contradizia alguma das teses da filosofia de Santo Tomás, um pensador medieval.
A referida pergunta procede e versa sobre um assunto a ser investigado. Mas deve-se dizer que, para analisar tal problema, é preciso logo de princípio fazer uma distinção entre o campo estrito da metafísica e outros tratados filosóficos. Sendo a metafísica o estudo do ser enquanto ser, separado das qualidades sensíveis e da quantidade (terceiro grau de abstração), não compete às ciências físicas imiscuir-se em seu terreno e querer aplicar aí seu método de investigação. Deus, Ato Puro, Ser Absoluto, Causa Primeira, nunca será objeto de investigação científica, se por ciência se entendem apenas as ciências empíricas. A legitimidade da metafísica consiste justamente em provar que as outras ciências são subalternas em relação a ela na medida em que suas conclusões e respostas não são exaustivas, mas, ao contrário, sempre se limitam àquilo que é contingente e não se explica por si mesmo e, por conseguinte, é dependente do Ser Necessário.
Como se sabe, há três graus de abstração. O primeiro grau deixa de lado as características particulares dos fatos e fenômenos, considerando as naturezas universais e as leis universais dos fenômenos físicos. Neste primeiro grau de abstração fundam-se as ciências experimentais. O segundo grau de abstração deixa de lado as propriedades físicas e sensíveis das coisas e nelas só lhe interessam a quantidade e o cálculo entre as quantidades. É a abstração própria da matemática. O terceiro grau de abstração deixa de lado as quantidades como propriedades físicas e sensíveis, considerando nas coisas apenas o que nelas há de primeiro, o mais fundamental, isto é, o ser.
O pensador tomista francês, Jean Daujat, observa que cada um desses três graus de abstração tem sua maneira própria de conceber e raciocinar e que se pode cair em graves confusões se se passa de um a outro sem atenção. Daujat dá como exemplo a noção de causalidade que não é absolutamente a mesma para o físico e para o metafísico. Para o físico, a causalidade é uma regularidade na sucessão dos fenômenos sensíveis: ele dirá que um fenômeno A é a causa de um fenômeno B se fenômeno A é sempre acompanhado ou seguido pelo fenômeno B. Para o metafísico, a causalidade é uma dependência na existência: ele dirá que A é causa de B se o ser de B depende do ser de A ( Cf. Jean Daujat, Y a-t-il une verité?, Paris, Pierre Téqui Éditeur, 2011).
Na referida obra Daujat explica também que pode haver ciências mistas, que participam de dois graus de abstração. É o caso da física moderna que é materialmente física e formalmente matemática.
Para resolver a questão que nos ocupa, a relação entre a metafísica de São Tomás e as ciências empíricas modernas, é útil ainda acrescentar outra consideração de Daujat atinente à pretensão do neopositivismo de recusar a legitimidade da física moderna, que não obteria um conhecimento objetivo do mundo mas se reduziria a um método matemático para organizar a ação do homem no mundo. Diz Daujat que o conhecimento das quantidades medidas é verdadeiro. E este conhecimento limitado ao quantitativo é importante, pois, sendo a quantidade o acidente fundamental das substâncias corpóreas e o sujeito de seus outros acidentes, o conhecimento quantitativo poderá fornecer as indicações para um conhecimento ontológico que os atinja em seu ser mesmo, de modo que o sábio pode passar de um conhecimento a outro sem dar-se conta (o. c. p. 150-151).
Portanto, como se vê, o questionamento da validade da metafísica tomista envolve, na verdade, o questionamento da ciência moderna. O cientificismo, inimigo da metafísica, não destrói apenas a filosofia primeira mas toda a ciência.
Contudo, cumpre dizer que as investigações filosóficas de Santo Tomás em outras áreas, como, por exemplo, na antropologia e na cosmologia, podem, eventualmente, oferecer alguma dificuldade ou exigir outras explicações, estimulando os estudiosos mais competentes a aprofundar suas pesquisas por meio de um diálogo fecundo com as diversas ciências contemporâneas. Aliás, o papa Leão XIII, na famosa encíclica Aeterni Patris, de 1879, em que recomenda um retorno ao estudo de Santo Tomás, diz que, se na antiga escolástica houver alguma coisa inconciliável com o avanço da ciência moderna, não seja tal ensinamento reproposto. A propósito de semelhante problema o respeitado professor de filosofia, Henrique Cláudio de Lima Vaz SJ, em seu auto-retrato filosófico, conta que em seu tempo de seminário havia uma interessante disciplina voltada justamente para esse escopo de investigar os pontos de contato entre a filosofia e a ciência moderna.
Da minha parte, posso dizer que, dirigindo os seminários da disciplina Síntese Filosófica, que visa precisamente a estabelecer um confronto entre a filosofia perene e as correntes modernas de pensamento, pude observar em um trabalho apresentado por um aluno que Santo Tomás, aplicando ao problema da união corpo e alma no homem a teoria do hilemorfismo, não só dá uma reposta muito mais satisfatória que o dualismo cartesiano, mas também se coaduna com as investigações mais recentes da neurociência, que tanta empolgação tem causado. Com efeito, embora rejeitando o emprego do conceito clássico de “alma” como princípio vital e forma substancial que assegura ao homem a sua unidade e seu único ato de ser, e apesar de um emprego impróprio do conceito de consciência em lugar de alma, vários neurocientistas, não obstante ressaibos de materialismo, querem dizer quase a mesma coisa que disse Santo Tomás na explicação do homem com base na unidade substancial entre corpo e alma. Se tiverem boa vontade, esses cientistas, estudando Santo Tomás, hão de concluir que o sistema nervoso superior não pode explicar cabalmente a consciência humana, mas é preciso admitir uma forma substancial.
Entretanto, não é apenas a obra de Santo Tomás de Aquino que se apresenta de uma atualidade espantosa, mas também sua vida santa e admirável constitui uma lição atualíssima. Tendo vivido no século XIII, em uma sociedade estamental, pertencente à alta nobreza, foi educado, como se sabe, por monges beneditinos. Naqueles tempos, a vida religiosa abraçada dentro de mosteiros (que eram feudos rendosos) ou nas aristocráticas congregações de cônegos regulares podia reverter em benefício e prestígio de toda estirpe. Por isso, a decisão de Santo Tomás de ingressar em uma ordem mendicante, a Ordem dos Pregadores, fundada por São Domingos Gusmão, a qual era ainda vista com certa desconfiança, foi um ato de virtude do nosso santo e frustrou interesses mesquinhos de alguns de seus familiares. Em nosso mundo de hoje, mais que nunca dominado pela ambição de bens materiais, a vida santa do Doutor Angélico, inteiramente dedicada à busca e ao ensino da sabedoria, deve ser meditada e imitada.
Muito mais poderia ser dito sobre santo Tomás. Que o seja por quem tem mais competência. Ficam aqui estas mal traçadas linhas à guisa de breve panegírico e como um testemunho de quem tenta abeberar-se nas fontes límpidas do Doutor Comum da Igreja para manter a integridade da fé. Não é à toa que a Igreja determina, no cânon 252 do Código de Direito Canônico, que os estudos teológicos sejam desenvolvidos à luz da doutrina de Santo Tomás ( S. Thoma praesertim magistro). Sem a luz do tomismo, toda a teologia, inclusive o magistério eclesiástico, perde seu rigor e precisão, reduzindo-se a um discurso livre em que cada um dirá o que quer. Não é à toa tampouco que o papa Leão XIII, querendo, nas pegadas de seu predecessor Pio IX, restaurar sociedade segundo princípios cristãos, viu que tal empresa era inútil sem a restauração da inteligência cristã e, por isso, escreveu a encíclica Aeterni Patris.
Anápolis, 10 de agosto de 2013.
Festa de São Lourenço, diácono e mártir

Do site Santa Maria das Vitórias, disponível em
http://santamariadasvitorias.org/qual-o-valor-do-tomismo-hoje
vozdaigreja

Gloriosa História da Igreja.

O Estudo da História da Igreja.

Retirado do blog: http://vozdaigreja.blogspot.com.br
 
A compreensão da autêntica história da Igreja é de fundamental importância para todo cristão, em especial nos tempos atuais, em que temos a impressão de que a crítica infundada à Igreja Católica tornou-se uma espécie de hobby para muitos professores de História, sejam do ensino médio ou universitários. A Igreja Católica é como um boneco em que todos gostam de bater. Metaforicamente falando, qualquer pedaço de pau serve para malhar a Igreja, e esse professor ainda é visto como um sujeito inteligente, crítico, moderno, de pensamento livre, etc.
 
A Igreja é muitas vezes apresentada como uma instituição muito poderosa, uma ditadora que comanda os usos e costumes das nações com mão de ferro, impondo regras aos pobres cidadãos ignorantes, e quem pensa assim invariavelmente gostaria de ver todo o poder nas mãos do Estado. No entendimento dessas pessoas, ao Estado “laico” é que caberia o poder de decisão sobre absolutamente todas as coisas: o Estado é que deveria mandar, por exemplo, na educação dos nossos filhos, ditando a todos o que é moralmente certo e o que é errado, aquilo que cada um de nós deve ou não fazer... E não a religião. Curioso é que essa experiência já foi feita por muitas nações, em diversas ocasiões, e o resultado foi sempre desastroso. A receita mais certa para o desastre de um país é não saber olhar para o passado e aprender com ele.
 
Ocorre que a religião é uma parte intrínseca do ser humano. Hoje sabemos que, no sentido mais puro da palavra, não ter fé é impossível para os seres humanos, e os místicos já o haviam entendido bem antes de a antropologia descobrir que, além de racional, psíquico, social, político e inacabado, o homem é um ser religioso. Se formos fundo na questão, perceberemos que negar as formas religiosas é apenas mais uma forma religiosa. - Uma forma religiosa negativa. - O sobrenatural e o divino estão relacionados ao ser religioso que é o homem; neles o homem busca respostas e soluções para os seus problemas existenciais, e isso sempre foi assim. Escavações arqueológicas não cessam de encontrar vestígios de rituais religiosos praticados nos tempos das cavernas. Por isso é que a religião tem uma dimensão ética fundamental nas sociedades, bem captada pelo historiador inglês Arnold Joseph Toynbee, que disse: “A religião leva a notar que há no mundo a presença de algo espiritual maior do que o próprio ser humano”.
 
Nessa relação homem e Divindade, no que se pode chamar transcendência e imanência, o homem corresponde a esse grande Mistério, que é superior às suas possibilidades e conhecimentos, usando de orações, gestos, cerimônias e rituais para manifestar a sua reverência, gratidão e comprometimento, estabelecendo dessa maneira um contato com o Sagrado.
 
É por isso que nunca, em tempo algum, um governo poderá podar do ser humano aquilo que lhe é intrínseco, que está na sua própria essência e natureza. Mais do que isso, o conceito torto de "laicismo" que temos hoje, se examinado bem “de perto”, revela-se bastante difuso, subjetivo. Ora, todo governo é regido por pessoas, e toda pessoa tem suas próprias ideologias, seu próprio sistema de crenças, acalenta ideais, tem princípios, códigos de moral. O socialismo, por exemplo, é uma ideologia bem definida, quase religiosa, com seus próprios dogmas e até ritos, por assim dizer. O mesmo podemos dizer do capitalismo ou de qualquer outro sistema político-econômico. Então, quando excluímos o fator Deus desse esquema, estamos apenas mudando prioridades.

Um país que proíbe a exposição de crucifixos e Bíblias nos seus tribunais, por exemplo, mas incentiva a ostentação de um retrato do presidente da república, está apenas redefinindo quem é a autoridade última naquele lugar: não se espera mais o auxílio divino, universal e transcendente para se fazer justiça, e sim confia-se na autoridade humana. Não mais manifestamos confiança em Deus, mas sim no Estado. Não mais reverenciamos Deus, mas sim o homem.
 
Além de tudo, nada mais ridículo e ilusório do que ver a Igreja como uma grande ditadora, já que há muito tempo, - infelizmente, - a Igreja não exerce mais poder praticamente nenhum sobre as sociedades humanas. O poder que a Igreja tem é sobre as almas, é inspirar corações, mas se existe uma instituição que foi relegada à irrelevância dentro do quadro de poder que hoje compõe o establishment mundial é a Igreja Católica. A Igreja é, - ainda, - tolerada, exatamente devido à sua relevância junto aos sentimentos da população, mas não junto à classe política e dominante. E é por isso que esses professores tão "moderninhos" e "descolados", que se colocam como inimigos declarados da Igreja, em sua profunda ignorância prestam um enorme desserviço às consciências dos nossos jovens.
 
O estudo da História da Igreja, portanto, requer de nós um esforço especial, diferente. O sujeito a ser investigado é uma realidade impossível de ser compreendida apenas intelectualmente, Não é a mesma coisa que estudar, por exemplo, a História Antiga, a História da Europa, a História da Medicina, etc. O estudo da História da Igreja, para ser frutuoso, exige um certo preparo prévio. Isso porque a Igreja não é apenas um grupo de pessoas, unidas em sociedade, para obter um fim. A Igreja é mais do que isso. Existe um verdadeiro Mistério que é intrínseco à ela, não enquanto instituição, mas ontologicamente falando (ontologia é a ciência do ser, que estuda o ser em geral e sua essência, com suas propriedades transcendentais 1).
 
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Fontes e referência:
 
LENZENWEGER, Josef et. al. História da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2006.
"Continuidade Histórica da Encarnação de Cristo". Aula do curso de História da Igreja do Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Jr., disponível em
[http://padrepauloricardo.org/aulas/igreja-continuidade-historica-da-encarnacao-de-cristo]
Acesso 13/9/013.
Artigo "Homem: um ser religioso", do seminarista Sebastião Gustavo Siqueira de Andrade, da Diocese de Santarém, para o curso Filosofia e Ciência da Religião.

1. MICHAELIS Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2009.