As tradições familiares podem ser
encaradas como mera repetição ou entendidas em suas nuances de carinho e
vontade de passar um ensinamento às próximas gerações. Em um mundo em que cada
vez mais somos escravos do tempo e somos convidados ao mais restrito individualismo,
parece mais difícil ir ao encontro do outro, ouvir com interesse as suas
histórias, sentar para compartilhar uma refeição. Pense nos ritos e costumes de
suas origens. Quantos deles são carregados de significado para você? Quantos
desses bons significados você conseguiu apreender e vivenciar? Sim, porque
podemos simplesmente perder a chance de captar o instante, perder a riqueza por
trás do gesto. Mais que assar o peru de natal porque é assim que tem que ser,
importa o amor que se imprime na ação de escolher o alimento que possa
alimentar a mais pessoas que me são caras, pensar no sabor que possa gerar mais
satisfação, preparar a mesa para receber. A beleza que antecede e acompanha o
gesto vale mais do que o vinho ter vindo do sul ou do norte da França, ou quão
nova é a decoração da sala de estar, quanto se gastou nos enfeites da árvore de
natal. Talvez o vinho seja daqueles comprados em mercearia, mas a conversa é
tão agradável que um copo de água já seria o suficiente para um simples "molhar
a palavra", como dizem alguns.
A acolhida pode ser tão
aconchegante que ninguém se importará em ver alguns arranhões no canto do sofá
feitos pelas crianças ou pelos gatos e cachorros. A intenção de tornar a casa
agradável é mais significativa do que onde, a quantidade e de que maneira se
dispôs os enfeites. Quem sabe até como sugestão aqui, não seria mais pessoal e
acolhedor preparar os próprios enfeites deixando a marca registrada de cada um?
Devemos valorizar mais a afeição que embrulha cada gesto que ganhamos de
presente ao longo da caminhada. Precisamos reconhecer cada elemento que faz das
pessoas que convivem e passam pela nossa vida serem especiais, principalmente
se são nossos familiares, não podemos deixar a indiferença reinar em nossos
lares.Mais agradável é a alegria de reunir, mais belo é o ato de receber com
carinho, mais amoroso é aceitar o outro como ele é do que os enfeites e uma
tradição feita sem nenhum sentido.Sem esse legado, dá-se a liqüidação da
memória familiar, extingue-se a cada geração uma família; e os filhos aceitarão
como normal aquilo que os pais tratam com indiferença.
Vemos hoje a "agonia"
das tradições familiares em nosso tempo, resultando entre outros fatores em
leis contra a família, promovendo a desagregação familiar e toda uma rebeldia
por parte dos frutos destas famílias destruídas atingindo jovens e crianças por
esta contra cultura nociva a manutenção dos bons valores familiares, e
provocando problemas psicológicos nos filhos de todas as classes sociais.
A solução apresentada por
peritos, conselheiros familiares, e pela própria Igreja mater e magistra,
perita em humanidade, é no sentido de se evitar a elaboração de leis contrárias
à instituição da família, bem como a formação de um movimento de opinião
pública em imbuir nas almas dos filhos as boas tradições familiares, pois,
enquanto estas perdurarem, esses atos legislativos encontrarão uma sã
resistência.Neste sentido duas tarefas se tornam evidentes:
1)- A primeira tarefa neste
sentido é conceder aos pais de família a liberdade de reconstituir um
patrimônio equilibrado e sadio de bem de família transmissível de geração em
geração, é apenas a metade da tarefa a executar, para cobrir novamente o solo
da humanidade com esta célula mater, com verdadeiras famílias, no sentido
próprio da palavra.
2)- A segunda tarefa é fazer
renascer nelas as boas tradições.
Com relação a primeira, está ao
nosso alcance indiretamente, através dos nossos legisladores, portanto é
necessário eleger pessoas que defendam a família e seus valores.
Porque é necessário que haja boas
e sadias tradições sustentando as leis, para que elas tenham a força que o
assentimento do coração lhes proporciona; da mesma forma que é necessária a
educação familiar para sustentar as tradições, mantê-las e fazer com que elas
se tornem o princípio dos costumes, sem os quais as boas leis não são nada, e
contra os quais as leis más nada podem.
Transmissão das "tradições de família"
De onde vem essa impassibilidade?
[a ausência de reação às más leis que destroem a família]. Do fato de não haver
mais nos espíritos idéias firmes, princípios solidamente estabelecidos nas
almas, e sim idéias vagas,relativistas e flutuantes, incapazes de colocar
energia nos corações. E por que as idéias, em nossos dias, flutuam assim?
Porque as idéias-mães, as idéias-princípios não foram impressas na alma das
crianças e dos jovens por pais nos quais elas haviam sido inculcadas pelos
ensinamentos dos avós, por sua vez imbuídos dessas verdades pelos ancestrais.
Em uma palavra, porque não há mais tradições nas famílias.
Havia antigamente uma idéia de
modo geral disseminada, quase religiosa, associada à expressão ´tradições de
família´, entendida no seu melhor significado, enquanto designando a herança
das verdades e das virtudes, no seio das quais se formaram as características
que fizeram a duração e a grandeza da Casa.Hoje em dia essa expressão não diz
nada às novas gerações. Estas surgem num dia para desaparecer no seguinte, sem
haver recebido, e sem deixar depois delas, aquela fonte de lembranças e
afeições, de princípios e de bons costumes (tipo: simples como pedir a benção,
tratar os pais por Sr e Senhora, respeito e cuidado com os mais velhos, respeito
às autoridades: Poiciais, professores, etc) que antes eram transmitidos de pais
para filhos e colocavam as famílias que lhes eram fiéis acima das que os
desprezavam. Toda família que tem tradições deve-as, de modo geral, a um dos
seus ancestrais, no qual o sentimento do bem foi mais forte que no comum dos
homens, e ao qual a sabedoria e a vontade foram dadas para as inculcar nos
seus.
Deus nos fala em Num. 6, 23-27:
“Eis como abençoareis os filhos de Israel: O Senhor te abençoe e te guarde! O
Senhor te mostre a sua face e conceda-te a sua graça! O Senhor volva o seu
rosto para ti e te dê a paz! E assim invocarão o meu NOME sobre os filhos de
Israel e eu os abençoarei.”
Quando Deus nos fala “Israel”,
quer dizer todo o seu povo e nós somos o seu povo e a sua Igreja. O que
percebemos hoje em dia é que a benção deste modo, bíblico, se faz presente na
benção do padre na Santa Missa e que caiu em desuso no modo mais simples no
nosso cotidiano. Porém, algumas famílias mais tradicionais mantêm o costume,
seus filhos pedem a benção ao chegar e ao sair de casa, como se fosse uma
saudação. O costume de pedir a benção veio de Israel, da tradição judaica,
passou pela Europa até chegar a nós, na maneira simplificada de “Deus te
abençoe!”. No entanto, seu significado vai além de uma saudação corriqueira. É
uma unidade espiritual, tem seu peso na vida familiar.
Para quem tem o costume de pedir
a benção, sair de casa sem a benção parece estranho, parece que falta algo que
seria a segurança ou o sucesso em suas atividades diárias. A bíblia está
repleta de passagens que falam sobre a importância da benção, elas indicam que
Deus dá aos pais grande importância à vida dos filhos.Pois, os pais cooperam na
criação dos filhos, dessa forma são canais da graça de Deus. Em Deut. 5,16, o
quarto mandamento de Deus é o primeiro que vem acompanhado de uma promessa.
Observe: “Honra teu pai e tua mãe, como te mandou o Senhor, para que se
prolonguem teus dias e prospere na terra que te deu o Senhor teu Deus”.Se você
é pai ou mãe ensine seus filhos a pedir a benção e ser abençoado por vocês
dizendo: “Deus te abençoe meu filho”.E se você ainda tem os seus pais, não
perca a oportunidade de pedir-lhes a benção e beijar-lhes as mãos todos os
dias.
A verdade é um bem – diz
Aristóteles – e uma família na qual os homens virtuosos se sucedem é uma
família de homens de bem. Esta sucessão de virtudes tem lugar quando a família
remonta a uma origem boa e honesta, pois é próprio a um princípio que ele produza
muitas coisas semelhantes a si mesmo. De algum modo, é a sua obra de formar seu
semelhante. Portanto, quando existe numa família um homem tão unido ao bem que
sua bondade se comunica aos seus descendentes durante muitas gerações, daí
decorre necessariamente uma família virtuosa.Todo homem que queira formar uma
´família virtuosa´ deve persuadir-se desde logo de que seu dever não se limita
como quis Rousseau, a prover às necessidades físicas do seu filho enquanto ele
não tenha condições de provê-las por si mesmo. Ele lhe deve a educação
intelectual, moral e religiosa.
O animal tem a força necessária
para atender às necessidades corporais da prole, e isto lhe basta. Mas a
criança, ser moral, tem muitas outras necessidades, e é por isso que Deus deu
ao pai de família a autoridade para instruir a vontade dos seus filhos e
fazê-los entrar, manter-se e progredir na via do bem, coisa que não deve ser
terceirizada a ninguém, ou seja, nem a escola e nem ao estado, que deve apenas
favorecer e não substituir este papel e responsabilidade dos pais. Essa
autoridade, Deus a quis permanente, porque o progresso moral é obra de toda a
vida. Segundo as intenções da Providência, o progresso deve se desenvolver e
crescer com a idade, e por isso é necessário que a família humana não se
extinga a cada geração. O vínculo familiar deve subsistir entre mortos e vivos,
enlaçar umas às outras todas as filiações de uma mesma descendência,
mantendo-se assim durante séculos nas gerações vindouras.
História da família
O pensamento do homem de bem não
deve limitar-se aos seus próprios filhos. Deve ir além, para as gerações que se
seguirão, e fazer com que aquilo que é virtude se torne tradição entre eles.
Para isso o livro da sua família pode contribuir grandemente. Iniciar esse
livro, ordenar ao primogênito que o continue e transmita essa ordem ao seu
próprio filho, é o meio mais fácil e mais seguro de se introduzir numa família
as tradições perenes e saudáveis. Pode-se adotar sem impor claro, mas propondo
se estabelecer vínculos [casamentos, e amizades por exemplo] com famílias em
que reinem as virtudes que se deseja transmitir aos próprios filhos e gerações
posteriores.
Tradições familiares que você precisa e pode com o auxílio da graça de
Deus ter em seu lar:
Nada como ter nossa própria
família, nossa casa e uma vida que conquistamos com muito custo e esforço. As
crianças começam a crescer, e tentamos repetir com elas as boas tradições que
tivemos em nossa infância. Como cônjuges, nossas histórias são diferentes,
então, nada melhor do que implantar algumas das muitas tradições que foram
benéficas e criar claro as nossas próprias boas tradições. Há tradições que passam
de pais para filhos e muitas de nossas memórias trazem boas recordações. Não
queremos que nossos filhos cresçam num mundo frio e fiquem à mercê do que o
mundo oferece. Unir nossa família de forma que nossa casa seja o refúgio de um
mundo conturbado e solitário, um local onde as crianças e adolescentes queiram
sempre voltar, sintam-se à vontade e seguros, é primordial para a manutenção e
criação das melhores tradições que levarão consigo para a vida e gerações
posteriores.
A título de sugestão, pois o
Espirito Santo é criativo, seguem algumas práticas de boas tradições que
podemos fazer diariamente, semanalmente, mensalmente, anualmente e em datas
especiais:
Tradições
diárias
1. Rezar juntos antes das refeições e antes
de dormir.
2. Ter ao menos uma refeição ao dia juntos.
3. Contar histórias para as crianças
dormirem.
4. Dividir as responsabilidades de casa, onde
até os pequenos possam ajudar.
Tradições semanais
1)- Fazer sempre que possível e
de forma simples, um LAZER (Koinonia) familiar que consiste de reunir a família
uma vez por semana para sentarem todos juntos e partilhares sobre como foi a
semana, (Graças e desafios), e os planos de cada um para a semana seguinte.
Pode-se jogar jogos familiares, fazer pratos e sobremesas especiais, assistir
um filme, praia, shopping, parque, clube, praia, ou outras atividades juntos.
2)- Reunir-se para rezar o terço,
ou fazer uma oração comunitária de gratidão e reconciliação familiar.
3)- Tirar uma tarde de domingo
para visitar os parentes e amigos.Se ainda possuem pais e avós, nada como irem
juntos visitá-los.
4)- Tirar um dia ou uma tarde
para passear com os filhos, levá-los ao parque, ou dar uma volta de carro e
comer algo juntos.
Tradições mensais
Sentar-se com o cônjuge e
verificar o orçamento familiar. Listar os gastos e as necessidades deles e dos
filhos. Isso aproxima o casal, compartilha colaboração entre os membros da
famíla e pede compreensão.
Tradições anuais
2)- Fazer uma viagem para um
local divertido e fora de sua cidade.
3)- Comemorar o final de ano e
ler a história da natividade na bíblia nos dias anteriores traz mais
significado ao Natal. Se a família é cristã, pode-se fazer uma pequena festa de
aniversário para Jesus Cristo e a ceia de Natal.
4)- Visitar um asilo em família
no dia das mães e pais levando flores ou pequenas sobremesas e lembrancinhas.
As crianças nunca esquecerão destes momentos.
Salmo 126,5-6: “Os que semeiam
entre lágrimas, recolherão com alegria. Na ida, caminham chorando, os que levam
a semente a espargir. Na volta porém, virão com alegria, quando trouxerem os
seus feixes...”
BIBLIOGRAFIA:
Mgr Henri Delassus, L'Esprit Familial dans la Maison , dans la Cité et dans l'État, Société
Saint-Augustin, Desclée, De Brouwer, Lille ,
1910.
Exortação
“Amoris laetitia”: A alegria do amor na família - Papa Francisco - 2016.
Texto retirado de: http://berakash.blogspot.com.br/2016/06/tradicoes-familiares-o-que-se-deve.html