domingo, 15 de maio de 2016

Só a Igreja Católica Salva?

A resposta católica para esta pergunta, a qual ninguém é obrigado a adotar, porque cada indivíduo está obrigado a observar, antes de qualquer coisa, à sua própria consciência (e isso faz parte da própria doutrina católica), é a seguinte: não e sim; sim e não. Isso mesmo. Por isso é que eu lhe disse que essa questão, apesar de no fundo ser simples, é de complexa explicação. Vou tentar esclarecer em poucas palavras:

1. Imagine um índio, que nasceu e viveu toda sua vida numa tribo totalmente isolada, que nunca teve contato com a civilização. Ele nunca ouviu falar em Jesus Cristo, nem na Igreja, nem na Escritura, nem em Batismo ou em qualquer outro Sacramento. Será que ele está condenado ao inferno, por não pertencer à Igreja? O que a doutrina católica diz é que este homem não será condenado por sua ignorância e nem por não pertencer à Igreja, – não haveria como ser diferente. – Este homem, então, será julgado por sua boa ou má vontade, pela sua disposição interior. Ele poderá, sim, ser salvo, por meios que só Deus conhece. Ponto.

Até aqui, sem dificuldades; demonstramos uma face da questão. Mas há um porém muito importante. A outra face da mesma questão é que, enquanto cristãos, nós cremos que mesmo aquela pessoa, que nunca ouviu falar em Jesus ou em sua Igreja, se for salvo, será mediante o Sacrifício de Nosso Senhor, ainda que, por assim dizer, de modo indireto. Por quê? Porque foi o Cristo e exclusivamente o Cristo quem possibilitou esta religação a Deus, esta remissão, este resgate da alma humana, ferida pelo Pecado original, para retornar à Casa do Pai, à Comunhão com seu Criador.

A esta situação muito específica, das pessoas que não tiveram a possibilidade de conhecer a Igreja, a Teologia chama “ignorância invencível”. Como o próprio nome diz, é um desconhecimento a respeito dos meios que propiciam a salvação, que o indivíduo simplesmente não tem condições de superar. Em certos casos (embora aqui estejamos tratando de uma questão muito delicada, com desdobramentos muito próprios e que precisaria de uma análise bem mais apurada), poderíamos aplicar esta mesma condição a uma série de outros casos, como o das pessoas que foram induzidas desde a infância a crer em falsas doutrinas, e o dos simplórios, que por sua incapacidade intelectual não conseguem discernir o certo e o errado, e outros ainda.

Claro até aqui? Cremos que, para alguém que se define como cristão, não é tão complicado aceitar que todo aquele que chega a se salvar, é sempre por meio do Sacrifício Redentor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Muito bem, vamos então ao segundo ponto:

2. A grande dificuldade está no ato de diferenciar o Cristo e sua Igreja. Assim, se eu digo que a salvação só é possível por Jesus Cristo, você por certo concordará comigo. O problema é quando não identifica Cristo à sua Igreja. Para alguns, basta ler a Bíblia, interpretá-la de modo particular, ouvir uma pregação aqui, fazer suas orações ali, e pronto: você já se considera cristão e membro do Corpo de Cristo. Nós católicos, não entendemos assim. Nós cremos, muito concretamente, que a Igreja é a continuidade histórica do Mistério da Encarnação de Jesus Cristo no mundo. Falando de modo mais simples, a Igreja é a continuação de Jesus Cristo no mundo. Jesus está no Céu, mas continua no mundo, em sua Igreja.

Deus tomou forma humana e veio nos salvar. Por isso, – atenção, – não é pela pregação, por mais bela que seja, que somos salvos. Também não é por meio de alguma "fórmula mágica" que Jesus ensinou, ou algum poder especial que Ele nos dá. Não. A salvação se dá pela Pessoa de Jesus Cristo, Deus Filho, Senhor, Redentor e Salvador nosso. Sendo assim, nós, católicos, não cremos que toda religião salva, que toda religião é igual, porque no fundo todas querem a mesma coisa e blábláblá, como dizem por aí. O homem não é capaz de alcançar Deus por seus próprios esforços. E, no entanto, é isso que todas as outras religiões representam: o esforço humano para alcançar Deus. Essa tentativa vem desde a Torre de Babel, quando os homens (metaforicamente ou não) tentaram erguer uma torre alta o suficiente para alcançar o Céu, onde imaginavam que Deus habitava. E desde aqueles tempos antiquíssimos, o homem não aprendeu a lição: ele ainda acha que pode chegar a Deus por seus esforços, seja estudando muito, conversando com "espíritos" ou lendo e interpretando a Sagrada Escritura por conta própria. Mas tudo isso é inútil! Só Jesus salva! E este mesmo Jesus nos deixou sua Igreja, una e indivisível, que é seu próprio Corpo, sendo Ele mesmo a Cabeça, para a nossa salvação.
Pacino Di Bonaguida – "A Árvore da Vida"

Mas, muita atenção, estamos falando de uma Igreja, e não de "muitas igrejas", cada qual seguindo as diferentes interpretações particulares que os seus "pastores" e "pastoras" fazem da Escritura, cada qual ensinando uma doutrina diferente da outra. O Espírito Santo não se contradiz a si mesmo, então, como poderia estar em todas as "igrejas", se umas creem em coisas completamente diferentes das outras? Umas ensinam que o batismo é necessário para a salvação, outras ensinam o contrário; umas admitem o batismo de crianças, outras dizem que isso é heresia; umas admitem o divórcio, outras dizem que Deus não o admite; umas guardam o sábado, outras não; umas são adeptas das orações barulhentas, com altos berros e pesados instrumentos musicais em seus louvores, outras dizem que isso é contra a Escritura, que prescreve que tudo no culto a Deus deve ser feito com ordem e decência (1 Cor 14.40). – E já que você se declara batista, veja
neste link do que estou falando, ou então neste, ou em qualquer um destes. Estas são algumas opiniões das outras "igrejas" sobre os batistas. E se consultarmos os próprios batistas, estes terão também severas críticas a fazer às outras denominações... – Neste ponto, então, eu é que lhe faço uma pergunta: como é que Deus poderia estar em todas as diferentes "igrejas", se umas contrariam as outras, se cada uma tem a sua própria doutrina, e umas consideram outras como heréticas?

Esse desencontro entre denominações protestantes ou ditas "evangélicas" sempre aconteceu, acontece e vai continuar acontecendo, porque todas elas caem no mesmo erro primordial, que é observar como única regra de fé e prática a Escritura. – Porque a Bíblia, mesmo sendo o livro sagrado dos cristãos, assim como todo livro depende da interpretação que fazemos dele. Por isso é que a própria Escritura, em passagem alguma, se coloca como única e exclusiva regra dos cristãos, mas elege a Igreja como “a Casa do Deus Vivo” e “a coluna e o sustentáculo da Verdade” (1Tm 3,15). Por isso é que Jesus jamais nos orientou a observar exclusivamente a Bíblia, mas disse claramente que não adianta apenas examinar as Escrituras para se chegar a Ele (João 5,39-40). E é por isso que o Senhor deu autoridade a Pedro e aos outros Apóstolos, conferindo-lhes até mesmo o poder para perdoar ou reter os pecados dos homens. 

Retomando nosso raciocínio central, nós sabemos e entendemos que só Jesus salva, e por quê? Porque somente Ele é Deus, que se fez homem e uniu, nEle mesmo, a humanidade a Deus. Ele é a Ponte entre Deus e os homens, porque Ele é a um só tempo as duas coisas: em uma Pessoa, estão a divindade e a humanidade. Assim, só há um modo de o homem ser salvo, que é morrer e nascer novamente em Cristo, e viver em Cristo, ser em Cristo, comungar com Cristo, ser parte do Corpo de Cristo... Que é a Igreja!

Ora, a Igreja é o próprio Corpo de Cristo! Quando S. Paulo Apóstolo teve a visão do Senhor, ouviu a sua voz, que lhe dizia “Por que me persegues?”. – Mas a quem Paulo estava perseguindo? A Jesus? Sim! Mas como isso seria possível, se Jesus já havia sido crucificado e morto, se já estava no Céu, à Direita do Pai, em Glória inacessível? Como Paulo podia perseguir Jesus? Ele podia fazê-lo porque Jesus, mesmo estando no Céu, estava ao mesmo tempo aqui na Terra: Paulo perseguia a Igreja, o Corpo do Senhor, cuja Cabeça é Ele próprio; Igreja que á a continuidade de Cristo no mundo. Por isso, ao perseguir a Igreja, Paulo perseguia o próprio Jesus. Por isso, o Senhor não lhe disse: “Por que persegues os meus servos?”, ou “Por que persegues os meus seguidores?”. Não. O Senhor diz: “Porque ME persegues?”. Perseguir a Igreja é perseguir Jesus, porque a Igreja É Jesus.

Sendo assim, não se trata de frequentar a “igreja” batista, calvinista, luterana, universal, mundial, adventista, quadrangular, renovada, etc, etc, etc... Trata-se de pertencer à única Igreja que foi instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Maria virgem, Filho de Deus e Deus, Senhor e Salvador de todos.

Você participa dos cultos na “igreja” batista, ouve as pregações do pastor, estuda a Bíblia por lá, e se sente bem, acolhido? Sinto muito, mas a "sua igreja" foi fundada por John Smyth, em 1604, na Holanda, que já começou errado: estudando a Sagrada Escritura por conta própria, sendo que a própria Escritura diz que, antes de tudo, devemos saber que “nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular” (2Pd 1,20). E qual será a Igreja chamada pela própria Escritura de "Noiva do Senhor" (Ap 21,9), "Corpo de Cristo" (1Cor 10,16), “Casa do Deus Vivo” e “coluna e o fundamento da Verdade” (1Tim 3,15)? Ora, que Igreja existia no tempo em que estas palavras foram escritas, sob a inspiração do Espírito Santo? A única, una e indivisível Igreja de Nosso Senhor, que é católica (universal), apostólica (guarda a Tradição dos Apóstolos) e hoje romana (porque sua sede primacial está em Roma).

Então, se você aceita e confessa que sem Jesus não há salvação, você está pelo menos a meio caminho de compreender porque para nós, católicos, sem a Igreja não há salvação. E que só pode haver uma Igreja, e não "muitas igrejas" que se contradizem e disputam entre si. A Igreja não é instituição humana, não é empresa, ainda que seja composta por homens, e os homens sejam sempre falhos. A Igreja é o próprio Jesus Cristo no mundo. É neste sentido, fundamentalmente, que cremos que sem a Igreja não há salvação; simplesmente porque sem Cristo não há salvação.

Finalizando, quando você diz que acha "egoísta essa linha de pensamento", eu lhe digo: se é egoísmo crer em Nosso Senhor e integrar a sua Igreja, ser membro do seu Corpo, como acabei de demonstrar, então continuarei sendo egoísta, com muita alegria, devoção e amor. E continuarei respeitando quem pensa diferente, quem não adota a mesma fé, porque é Deus mesmo quem nos dá o direito de escolher o que quisermos para as nossas vidas, o bem ou o mal, a luz ou as trevas, a vida ou a morte. Não tenho e nem posso ter a pretensão de privar alguém da dádiva divina da liberdade. Mas continuarei trabalhando para que todos entendam que respeitar não é o mesmo que abdicar da obrigação que temos, enquanto cristãos, de defender a verdade.
 
A religião certa é aquela que dá testemunho da Verdade. Nem mais, nem menos. Se eu encontro a Verdade, preciso aderir a ela, me agarrar a ela com unhas e dentes, e deixar todas as ilusões para trás. Jesus fala, numa parábola, de um homem que encontra um tesouro enterrado num determinado terreno. Então ele vai e vende tudo o que tem para comprar o terreno, e toma posse do tesouro. Há um sentido espiritual muitíssimo profundo nessa parábola: quem encontra a Verdade, que é o maior de todos os tesouros, porque conduz à vida eterna, deve se desfazer de tudo o que tem, deve se livrar de tudo, de todas as suas ilusões, mesmo aquelas que lhe são caras, que lhe dão conforto, e ficar somente com a Verdade. Todo o resto é perda de tempo.
 
O Jesus Cristo que chegou até nós pelo testemunho dos Apóstolos pregou a ressurreição, instituiu a Igreja, a Eucaristia, o Batismo no Espírito Santo, assumiu-se como o Cristo, declarou que resgataria a humanidade pelo seu Sacrifício na cruz. Foi isso o que ele trouxe, e muito mais. E tudo isso é negado pelo espiritismo. Foi exatamente por negarem todas essas coisas, – em especial a sua divindade, como fazem os espíritas, – que agiram aqueles que condenaram o Cristo.
 
"Observar o que Jesus trouxe de bom", você diz. Puxa, se você soubesse o que é a experiência de participar da Sagrada Comunhão, no Corpo e Sangue, Alma e Divindade do Cristo, Deus e SENHOR nosso... Se você soubesse o quanto isso é transformador, curativo, arrebatador! Se você pudesse compreender o que é ser verdadeiramente acolhido e libertado por Ele!.. Perdoe-me mais uma vez, mas eu preciso ser honesto: você não tem a menor ideia do que Jesus trouxe de bom! Muita atenção: estou falando do Jesus real, e não da caricatura pintada no "evangelho segundo o espiritismo".
 Os espíritas imaginam que o maior bem que Jesus fez foi ajudar os pobres, praticar a caridade, pregar o amor fraterno... Mas Buda também fez a mesma coisa, e todos esses que você citou, além de Zaratustra, Confúcio, Ramana, Mahavira, etc, etc... Todos eles falaram bonito, trouxeram belas doutrinas, arrebanharam seguidores. Mas não é nada disso que faz de Jesus o Cristo, o Filho do Deus Vivo. Jesus é completamente diferente, porque segui-lo é muito mais do que seguir uma doutrina. Segui-lo é incorporar a sua Pessoa, é nascer de novo, não numa outra encarnação, mas aqui e agora mesmo. O cristianismo não é seguir uma doutrina, é seguir uma Pessoa. Mais do que seguir, o objetivo é "tornar-se Um" com essa Pessoa, e essa Pessoa é o próprio Deus.

Destituir o cristianismo de sua essência mística para ficar só com as suas regras morais é como jogar fora a sua própria alma para ficar com uma casca oca.
 E dentro desse contexto, é muito curioso vê-lo citar Madre Teresa e São Francisco, porque eles acreditavam exatamente no mesmo que eu creio e que acabei de descrever aqui. Permita-me apresentar-lhe o verdadeiro São Francisco (não aquele personagem açucarado que tantas vezes vemos em filmes e historinhas). Escreveu ele: "Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a Morte corporal, da qual homem algum pode escapar. Ai dos que morrerem em pecado mortal! Felizes os que ela achar conformes à tua santíssima Vontade, porque a morte segunda (no Dia do Juízo) não lhes fará mal!"...
Você coloca lado a lado São Francisco e Maomé, como exemplos de "respeito e auxílio". Bem, assim eu vejo que você não estudou a vida Maomé, por isso não sabe que ele promoveu guerras insanas, praticava a pedofilia e reprimia com extrema violência qualquer opositor. E também vejo que você não conhece Francisco de Assis, portanto não sabe como ele foi até os muçulmanos para tentar convertê-los ou morrer mártir. S. Francisco foi até as tropas maometanas cantando os versículos do Salmo 22: “Mesmo que esteja entre as sombras da morte, nada temerei, Senhor, porque Tu estás comigo”.

Já os falsos pacifistas de hoje, contrários ao debate honesto de ideias e às polêmicas, preferindo ignorar o mal para "ficar de bem" com todo mundo, dizem inspirar-se no exemplo de São Francisco... Suprema contradição, irenismo em nome de São Francisco! Se fossem mesmo inspirados pelo seu exemplo, iriam até os inimigos de Cristo, e, como São Francisco, pregariam a eles a religião verdadeira com destemor, mostrando os erros das falsas doutrinas, assim como o grande santo denunciou Maomé diante dos maometanos.
 
Sobre Teresa de Calcutá, me faz lembrar de um episódio emblemático de sua vida, que me foi contado por um missionário: um empresário muito rico, mesmo sendo ateu, em viagem à Índia fez questão de conhecer Madre Teresa, pois tinha admiração pela sua obra. Chegando à casa das missionárias, encontrou-a suja e maltrapilha, trabalhando em meio a um mar de crianças miseráveis, muitas doentes, num quadro desolador. Viu aquela velha e frágil senhora, que poderia estar descansando e aproveitando tranquilamente seus últimos anos de vida, sacrificando-se, literalmente, pelo bem do próximo. Comovido, aproximou-se dela e declarou sua admiração. Madre Teresa foi gentil, mas não deixou de fazer o seu trabalho, alimentando uma pobre criança que não podia comer sozinha. Os dois conversaram por alguns minutos, até que e o rico empresário, notando o grande crucifixo que ela trazia pendurado ao pescoço, comentou: “Admiro muito o seu trabalho e o seu exemplo, mesmo não acreditando neste símbolo que a senhora usa”.
Ouvindo isso, Madre Teresa respondeu: “Meu filho, tudo o que eu faço, todas as coisas pelas quais você me admira, é tudo naquEle que está representado neste símbolo! Se não fosse pela minha fé e amor a Cristo Crucificado e Ressuscitado, você nem saberia que eu existo! Na verdade, não sou eu que faço, é Ele Quem faz em mim!”.

Então, o testemunho de todos os santos vai infinitamente além de uma mensagem de paz e de  tolerância. Pelo contrário, nenhum deles deixou de lutar pela verdade, quando foi preciso. E a verdade nem sempre é agradável.


Fonte: http://www.ofielcatolico.com.br/2001/06/so-os-catolicos-se-salvam-ha-ou-nao-ha.html

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