quarta-feira, 9 de outubro de 2013

“Não existe um Deus católico”?

Numa entrevista ao ateu Eugenio Scalfari, do jornal italiano La Reppublica, alguns tentam colocar palavras na boca do Papa que ele não disse. Na entrevista traduzida e disponibilizada na integra por pessoas do bem, não consta o Papa dizendo que não existe um Deus Católico. Não, o Papa jamais alegou isso na entrevista exclusiva concedida. Mas se tivesse dito veja quais seriam as consequência disso segundo Pe. João Batista. 

Por Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa
   
Confesso que fiquei perplexo lendo esta frase ontem: “Não existe um Deus católico”.
 
Embora a expressão “Deus católico” seja insólita (Que não se apresenta de maneira habitual; que é raro ou incomum; anormal), negá-la no contexto em que foi negada tem consequências desastrosas. Realmente.
 
O Antigo Testamento está repleto da expressão o Deus de Israel, o Deus de Abraão, Isac e Jacó... atestando que o Deus vivo e verdadeiro se revelava ao povo eleito, depositário de suas promessas e ensinamentos, e se distinguia dos ídolos dos falsas religiões que aterrorizavam os povos pagãos.

Completando-se com a encarnação do Verbo de Deus a Revelação Divina, a qual se encerra com a morte do último apóstolo, e sendo a Igreja Católica a depositária de tal revelação, dizer que não se crê em um “Deus Católico” parece-me favorecer a heresia monolátrica, isto é, a crença em um deus único concebido pela mente humana, distinto do Deus Uno e Trino que se revelou, encarnou e fundou a Igreja Católica para perpetuar a sua obra de salvação do mundo.
 
Dizer “não existe um Deus Católico”, no ambiente atual de ecumenismo maçônico e diálogo interreligioso sem fronteiras, só contribui para a demolição da fé católica e reforça a marcha do mundo contemporâneo rumo ao deísmo (sistema dos que creem em Deus mas rejeitam a Revelação, isto é, Jesus Cristo), ao panteísmo, à gnose universal. Afirmar “não existe um Deus Católico” é um convite dirigido aos “irmãos” pedreiros livres e aos “homens de boa vontade” para trabalharem todos juntos na fundação de uma nova religião de uma nova era da humanidade, em que o homem será a sua própria lei.

A infelicidade de tal afirmação cresce ainda mais quando se tem presente que nos dias de hoje o Deus da Metafísica, o Ser Absoluto, o primeiro Motor Imóvel, a Causa Primeira incausada, o Ato Puro dos estudiosos da Ontologia, que serve de base para uma exposição racional do mistério da Revelação Divina, desapareceu completamente da cultura contemporânea. De modo que negar o “Deus Católico” não significa ceder lugar ao Ser Absoluto na mente dos homens de hoje, mas sim ceder lugar à “energia cósmica” que alguns imaginam como um demiurgo.

Acresce que na mesma entrevista o bispo de Roma disse que “cada um tem a sua própria concepção de bem e mal e deve escolher seguir o bem e combater o mal como concebe". Ora, isto equivale a proclamar a soberania absoluta da consciência individual, que já não terá sua autoridade e legitimidade à proporção em que aplica fielmente a lei de Deus na direção da vida humana.

Sinceramente, estou convencido de que a chave para entender o drama dos nossos tempos não está tanto em meditar as promessas de Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, quanto na meditação da passagem do Evangelho segundo Lucas: “Mas, quando vier o Filho do homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?" (Lc. 18, 8). Sim, as portas do inferno não prevalecerão, mas os homens maus têm um poder enorme de corromper a fé e desfigurar a Igreja e reduzi-la a frangalhos.

Se se dispensa um “Deus Católico”, se cada um pode seguir o bem como o concebe, será necessária a Igreja para a salvação? [Se é assim, Igreja para quê?] No máximo, será um auxílio para aqueles que querem construir uma utopia de um mundo novo, de um mundo melhor de liberdade, igualdade e fraternidade. Em tal perspectiva, que restará da Igreja? Restarão grupos esparsos de homens que conservam a fé imutável no Deus Uno e Trino.

Que Deus tenha misericórdia de nós. As tentações são muitas. Que Nossa Senhora das Vitórias, neste mês do Rosário, esmague as esquadras do modernismo, como em Lepanto esmagou o inimigo infiel.


Anápolis, 2 de outubro de 2013,
Festa dos Santos Anjos Custódios
Fonte: SantaMariadasVitorias.Org

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