terça-feira, 29 de outubro de 2013

Os Doutores da Igreja.

Em síntese: Doutor da Igreja é aquele cristão ou aquela cristã que se distinguiu por notório saber teológico em qualquer época da história. O conceito de Doutor da Igreja difere do de Padre da Igreja, pois Padre da Igreja é somente aquele que contribuiu para a reta formulação dos artigos da fé até o século VII no Ocidente e até o século VIII no Oriente. Há  Padres da Igreja que são Doutores. Assim os quatro maiores Padres latinos (S. Ambrósio, S. Agostinho, S. Jerônimo e S. Gregório Magno) e os quatro maiores Padres gregos (S. Atanásio, S. Basílio, S. Gregório de Nazianzo e S. João Crisóstomo).
 
A inscrição de Sta. Teresinha de Lisieux entre os Doutores da Igreja despertou a atenção do público para o conceito de tal título. Que significa ser “Doutor(a) da Igreja”? – Eis o que as paginas subsequentes procura­rão dizer.
 
1. Doutores da Igreja: quem são?
 
Os Doutores da Igreja são homens e mulheres ilustres que, pela sua santidade, pela ortodoxia de sua fé, e principalmente pelo eminente sa­ber teológico, atestado por escritos vários, foram honrados com tal título por desígnio da Igreja.

Os Doutores se assemelham aos Padres da Igreja, dos quais tam­bém diferem, corno se vera a seguir.

Padres da Igreja são aqueles cristãos (Bispos, presbíteros, diáconos ou leigos) que contribuíram eficazmente para a reta formulação das ver­dades da fé (SS. Trindade, Encarnação do Verbo, Igreja, Sacramentos. ..) nos tempos dos grandes debates e heresias. O seu período se encerra em 604 (com a morte de S. Gregório Magno) no Ocidente e em 749 (com a morte de S. João Damasceno) no Oriente.

Para que alguém seja considerado Padre da Igreja, requer-se antigüidade (até os séculos VII/VIII), ao passo que isto não ocorre com um  Doutor.

Para os Padres da Igreja, basta o reconhecimento concreto, não explicitado, da Igreja, ao passo que para os Doutores se requer uma proclamação explicita feita por um Papa ou por um Concílio.

Para os Padres, não se requer um saber extraordinário, ao passo que para um Doutor se exige um saber de grande vulto.

Por conseguinte, o que caracteriza um Padre da Igreja é princi­palmente a sua antiguidade; ao contrário, o Doutor se identifica precípuamente pelo seu saber notório. Isto, porém, não impede que haja Padres da Igreja que também são Doutores, como se verifica, por exemplo, no caso dos maiores Padres do Ocidente (S. Ambrósio, S. Agostinho, S. Jerônimo, S. Gregório Magno) e no dos quatro majo­res Padres do Oriente (S. Atanásio, S. Basílio, S. Gregório de Nazianzo e S. João Crisóstomo). São os oito grandes Doutores da Igreja.

Esta terminologia, precisa como é, não era usual na antigüidade, pois a palavra doutor tinha o sentido de doctor, docente, mestre, de modo que eram doutores antigamente aqueles que conheciam bem os artigos da fé e os sabiam explanar com clareza. São Paulo parece aludir a este sentido amplo de mestre, quando diz que o Senhor “cons­tituiu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores em sua Igreja” (cf. Ef 4,11; ver 2Cor 12,28; At 13,1).

Com o tempo, o titulo de Doutor foi-se tornando mais especifico; a princípio era atribuído somente a Padres da Igreja, isto é, aqueles Padres que sobressaíram por seu brilho doutrinário.

Interessante é notar que nenhum mártir foi proclamado doutor da Igreja (tal poderia ter sido o caso de S. Cipriano de Cartago, vigoroso defensor da unidade da Igreja),… e não o foi porque o martírio é con­siderado o maior título de glória, que não necessita de algum comple­mento para enaltecer a figura do cristão. No século XVI a Igreja abriu mão da nota da antigüidade e pas­sou a designar como Doutores figuras de épocas mais recentes. A primeira proclamação neste sentido foi feita pelo Papa S. Pio V, aos 11/4/1567, em favor de S. Tomas de Aquino (+ 1274). Outras procla­mações ocorreram posteriormente, como se depreende da lista publicada a seguir.

Além dos Doutores reconhecidos na Igreja inteira, há os que possuem tal título apenas em determinado país ou ambiente. Tal é o caso de S. Leandro de Sevilha (+ 604), doutor na Espanha, e S. Próspero da Aquitânia (+ após 455), Doutor entre os Cônegos Regulares do Latrão.

2. Os Doutores da Igreja

01. S. Atanásio – (295 -373), bispo, Alexandria
02. S. Efrém – (306 – 373), diácono, Síria
03. S. Hilário de Poitiers – (310 – 367) – bispo, França
04. S. Cirilo de Jerusalém  – (315 – 386) – bispo
05. S. Basílio Magno (330 – 369) – bispo, Itália
06. S. Gregório Nazianzeno – (330 – 379), bispo, Turquia
07. S. Ambrósio – (340 – 397), bispo, Itália
08. S. Jerônimo ( 348 – 420), presbítero, Itália
09. S. João Crisóstomo – (349 – 407), bispo, Constantinopla
10. S. Agostinho – (354 – 430), bispo  -  África
11. S. Cirilo de Alexandria – (370 – 442), bispo
12. S. Pedro Crisólogo – (380 – 451), bispo, Itália
13. S. Leão Magno – (400 – 461), papa, Toscana, Itália
14. S. Gregório Magno – (540 – 604), papa, Itália
15. S. Isidoro – (560 – 636), bispo, Sevilha, Espanha
16. S. João Damasceno – (650 – 749), sacerdote, Constantinopla
17. S. Beda Venerável – (672 – 735), Newcastle, Inglaterra
18. S. Pedro Damião – ( 1007 – 1072), bispo, Itália
19. S. Anselmo – (1033 – 1109), bispo, Inglaterra
20. S. Bernardo (1090 – 1153), abade – Dijon, França
21. S. Antonio de Pádua – (1195 – 1231), sacerdote, Portugal
22. S. Alberto Magno – ( 1206 – 1280), bispo, Alemanha
23. S. Boaventura – ( 1218 – 1274 ), bispo, Itália
24. S. Tomás de Aquino – (1225 – 1274), sacerdote, Itália
25. S. Catarina de Sena – (1347 – 1380), virgem, Sena , Itália
26. S. Teresa de Ávila – (1515 – 1582) , virgem, Espanha
27. S. Pedro Canísio – (1521 – 1597), presbítero, Itália
28. S. João da Cruz – (1542 – 1591), presbítero, Espanha
29. S. Roberto Belarmino – (1542 – 1621), Itália
30. S. Lourenço de Brindes – (1559 – 1619), Itália
31. S. Francisco de Sales – (1567 – 1655), bispo, França
32. S. Afonso de Ligório – (1696 – 1787), bispo, Itália
33. S. Teresa de Lisieux – (1873 – 1897) , virgem, França
 
Santa Teresinha se distinguiu no campo da Espiritualidade ou da Ascética e Mística. Desenvolveu as palavras do Senhor Jesus que convi­dam os fiéis a se tornar crianças espiritualmente (cf. Mt 18,3s) vivendo como filhos bem-amados na presença de Deus. A monja carmelita dedu­ziu profundas conclusões dos dizeres do Senhor, que ela explanou com simplicidade na sua autobiografia intitulada “História de uma Alma” e em escritos paralelos, inclusive poesias. Essas obras fizeram enorme bem à Igreja, o que justifica plenamente o título de Doutora que lhe foi conferido pelo Papa João Paulo II aos 19/10/97.
Dois novos doutores da Igreja Católica

O Papa Bento XVI vai o proclamar mais dois doutores da Igreja no dia 7 de outubro, dia de Nossa Senhora do Santo Rosário, início da Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a nova evangelização. São eles: São João D’Ávila e Santa Hildegarda.
 
São João D’Ávida (1499-1569) foi sacerdote diocesano espanhol e participou do processo de renovação cultural e religiosa da Igreja e da sociedade. É considerado como um dos mais influentes Santos da Espanha do século XVI. Foi amigo de Santo Ignácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus (jesuítas) e conselheiro espiritual da Santa Teresa, se atribui a ele também a conversão de São Francisco de Borja e São João de Deus. Os mais famosos de seu escritos são suas cartas e o tratado: “Audi Filia”. Foi beatificado em 1894 e canonizado pelo Papa Paulo VI em 31 de maio de 1970. Sua festa se celebra no dia 10 de maio.
 
Santa Hildegarda de Bingen (1098-1179) foi monja beneditina na Idade Média, mestra de teologia e profunda estudiosa das ciências naturais e da música. Fundou o mosteiro de Rupertsberg. Ela nasceu em 1098 na Renânia, em Bermersheim, perto de Alzey, e morreu em 1179, aos 81 anos, apesar da contínua fragilidade da sua saúde. Teve experiências místicas, promoveu a reforma na Igreja, produziu escritos teológicos e científicos e foi apoiada por São Bernardo, doutor da Igreja. Escrevia para os Papas. Como acontece na vida dos verdadeiros místicos, Hildegard se submeteu à autoridade de pessoas sábias as suas visões, temendo que fossem o resultado de ilusões e que não fossem de Deus. Ela então buscou a pessoa que, na sua época, gozava da máxima estima na Igreja: São Bernardo de Claraval.
 
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 429 – Ano : 1998 – p. 87

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